QUEM SOMOS?
Coisa ruim é sempre excelente notícia. Passei anos sem ver Jornal de espécie alguma, todos repetitivos e tendenciosos cada qual para seus anunciantes; é o mundinho feio do faz de conta e das mentalidades estreitas e medíocres. Voltei a vê-los depois que começou o massacre do Afeganistão, pois não houve ali guerra alguma, mas massacre aonde civis inocentes morreram aos montes; mas como são seres humanos de terceiro mundo, não importa.
Nas modernas sociedades capitalistas égolatras como a nossa, aonde a exaltação do indivíduo chega ao endeusamento neurótico em detrimento da coletividade anónima e inútil, meros consumidores de "modelos", "grandes nomes" e "novos ricos", valoriza-se tudo que, embora pareça bonito, é feio. Não vou dar nomes aos bois ou as amebas, que não possuem culpa e nem sabem quem são, meros robóides do mercado. É tudo gente "bonita" e "esperta", reluzentes de vaidades e "músculos". Mal sabem falar, gente sem mínima cultura e muitas vezes sem a mínima decência.
São esses exemplos que nossos jovens tem em mente. Modelos a serem seguidos amanhã. Sejam "espertos" e "brilhantes", para isso não necessita-se estudo prévio. Basta um traseiro ou músculos, naturais ou artificiais, não importa, porque no mundo animal que vivemos o que conta é o poder da esperteza ou da força. Ou da "astúcia", essa usada para a prática da corrupção.
Nada de construtivo nos jornais.
Nenhuma literatura é indicada, nenhum verso é dito nem música suave, e o "até amanhã" de hoje será o mesmo de amanhã, porque as noticiais se repetem com uma previsibilidade inacreditável. Na verdade, enquanto essência, a mídia não existe; é doente! Não tem valores; serve apenas de trampolim para que se ganhe dinheiro.
O bom e velho Benito de Paula, um artista de um outro Brasil, que anda sabotado como muito outros, perguntado se ele aceitaria participar da casa dos artistas, declarou que "não", porque, segundo uma sutileza que surpreendeu-me, "aquilo foi feito exatamente para aquele tipo de gente que participou dela, entendem?".
Bem, não sabemos o que se passa de fato no país a não ser quando desligamos a televisão e vamos dar um passeio pela rua da Carioca, por exemplo. Aonde verdadeiros artistas que "engolem até gilete" para sobreviver , mendigos, ladrões, desocupados e pastores que pregam "o apocalipse" como a única saída convivem numa democracia insana com esse ilustre escritor que vos fala e que não deixa de ser inusitado que "a mídia" não me conheça.
A melhor maneira, portanto, de estar-se informado nesse país é desligar a televisão e perguntar aos anónimos que ainda sabem falar o seu nome, o que eles andam vendo, ouvindo ou pensando. Em cada cem, sendo otimista, talvez encontremos um que ainda saiba a que reino pertence e qual sua escala nele. Você sabe?
P.s - (Bípede e Mamífero, para os que não sabem ou esqueceram)
29/01/2002
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