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Erotico-->8. ISABEL CONVERSA COM MÁRIO -- 09/09/2002 - 07:15 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Por pouco não se dá o encontro entre Leandro e Isabel.

Com a desculpa jurídica de avaliar o estado geral da criança, o comerciante, vestindo casimira inglesa, passou sem ser molestado pelos porteiros advertidos pelos representantes da ilegalidade. Adiante dele caminhava uma enfermeira que, com gestos imperceptíveis, lhe ia indicando o caminho.

Lá estava o Doutor Mário, providenciando.

A enfermeira entrou e lhe pediu para ir conversar com o Doutor Darci.

Assim que saiu, Leandro pôs-se perante o filho desfalecido. Tinham cinco minutos a sós.

“Como está crescido! E como está acabado! Deixa estar que as madames vão ver! Com essa cor, não poderei apresentá-lo à sociedade. Mas iremos a muitos lugares juntos. Você vai ver! Você vai ser muito importante para a comunidade. Vai estudar. Vai aprender a dirigir as pessoas. Vai ter o que o dinheiro pode comprar. Eu prometo.”

O menino se mexeu e o pai se preocupou. Os gemidos eram murmúrios. Leandro abaixou-se junto aos lábios:

— Mãe, fica mãe! Mãe...

Encheu-se de ódio o coração do traficante, que se deixou quedar perdido no tempo, até que a enfermeira o veio buscar.

Saíram por passagem lateral, justamente onde se encontrava Isabel. Entretanto, não se viram. porque, no justo instante, o guarda se aproximara para avisá-la de que o setor de pessoal fecharia dentro de dez minutos. Se quisesse inscrever-se, deveria ir já.



Alfredo e Dráusio é que tinham providenciado o desencontro. Fora-lhes fácil sentir a presença de Leandro pela movimentação dos obsessores. O segurança deu acesso à influenciação mediúnica, acostumado ao candomblé, e aceitou avaliar a hora para a informação.

Isabel se informou sobre como chegar ao escritório e seguiu pelos corredores, temerosa de encontrar gente conhecida. Pensava que o prédio estaria sob vigilância dos repórteres, mas não viu nenhum. Também não encontrou Raimunda, que poderia estar preocupada com Orivaldo.

A moça que a atendeu no guichê foi extremamente gentil, dando-lhe todas as informações de salários e turnos. Pediu-lhe a carteira de trabalho e os demais documentos. Isabel atrapalhou-se. Providenciaria. Até quando estariam abertas as inscrições? Permanentemente. O pessoal da faxina não pára no emprego. Teria Isabel o curso primário completo? Infelizmente, não poderia ser admitida noutro setor. Havia vagas para auxiliar de cozinheiro, atendentes de enfermaria e segurança feminina. Mas precisava de cursos. Levasse o prospecto do hospital e voltasse quando estivesse de posse de todos os documentos.

— Será que no pronto-socorro há vagas?

— A faxina é feita onde a Chefe da Manutenção determinar. Pode ser no pronto-socorro, na unidade de terapia intensiva, nos quartos, nas toaletes. Para a limpeza das salas da administração, só os mais antigos. Volta que serás admitida. Vagas sempre temos. Agora preciso fechar.

Isabel se viu só no corredor. Dentro das portas foscas, podia perceber que os funcionários se movimentavam. Alguns começavam a se retirar. Acompanhou-os. Na saída, o relógio do ponto enfrentava uma fila. Aguardava-se que os ponteiros se ajustassem. Não esperou. Voltou ao salão em que estivera antes. O guarda que a atendera não estava. Duas ou três pessoas perambulavam pelo local. As consultas tinham terminado. Não poderia ficar avulsa que alguém viria interpelá-la. Precisava tomar alguma iniciativa.

Dirigiu-se ao deserto balcão de informações e achou uma folha de papel amarrotada. Estendeu com todo o cuidado para não rasgar e escreveu com o pincel do batom:

“Doutor Mário Santana. A criança baleada tem mãe e tem pai. Manda uma resposta pelo guarda. Obrigada!”

Procurou quem pudesse levar o bilhete. O pessoal estava reduzido. Deu a volta por fora do hospital. Verificou que havia entrada para o atendimento de emergência. Ali, havia bastante gente. Percebeu que o local era vedado aos estranhos. Havia três seguranças e dois motoristas conversando. Hesitou. Não queria chamar a atenção sobre si. Sentou-se num banco de pedra e aguardou que alguma idéia surgisse.

Nisso apareceu um médico. Seria o Doutor Mário?

— Doutor Mário!... Doutor Mário!... — Era alguém de dentro.

Este se voltou e readentrou o prédio.

Agora ela sabia quem era o médico. Não sairia dali até que voltasse. Mas não precisou esperar muito. Cinco minutos. Não poderia temer as conseqüências de suas atitudes em defesa do filho. Correu e se pôs à sua frente. Tremia um pouco, porque não sabia o que dizer.

— Posso ajudá-la, querida?

A voz era suave, cativante. Resolveu mostrar-lhe a papelada da secretaria:

— Vim para ver se consigo trabalhar aqui, mas me pediram os documentos. Foram roubados há dois meses e só tenho a certidão de nascimento. Disseram que deverei tirar segunda via, mas isso vai demorar muito tempo e não tenho como me sustentar. Tenho passado até fome. Será que o senhor poderia me arranjar a vaga? Eu prometo trazer os papéis assim que ficarem prontos.

Enquanto Isabel falava, Mário a observava com olhos clínicos. Diria que a fome não deveria ter sido muita nem as roupas eram tão miseráveis. Os sapatos, principalmente, eram finos e as unhas dos pés, bem feitas. Sentiu o médico que a jovem mentia. Mas se deixou tocar pela insistência da rogativa. Havia na voz inflexão de verdadeira angústia. Quis, curioso, deslindar o problema:

— Eu não tenho como te ajudar. As normas do hospital são rígidas. Se eu te conhecesse, talvez te pudesse apresentar. Tens carta de referência do último emprego?

Isabel percebeu que não avançaria. Deixara-se seduzir pela idéia de trabalhar ali, para a eventualidade do rapto. Precipitara-se ao conversar com o médico. Resolveu abrir o jogo:

— É o senhor que está tratando do menino baleado ontem?

— Orivaldo?

— Esse mesmo.

— Qual é o teu interesse?

— É meu filho.

— Não consta o nome da mãe.

— Eu abandonei ele há uns cinco anos. Depositei o coitadinho nas portas de uma preta velha para que cuidasse dele. Dona Raimunda. Agora estou querendo recuperar a criança.

— E eu? Que é que eu tenho com isso?

— O senhor pode entregá-lo a mim e não ao pai.

— Não tem pai.

— Tem pai, sim, e ele não pode tomar conta da criança.

Mário olhou para o relógio. Fazia-se tarde para voltar para casa. Regressaria depois para o plantão noturno. Não estava confiando na veracidade das informações da jovem.

— Por que não procuras a polícia e revela tudo? Lá eles irão te encaminhar ao Juizado de Menores. É o caminho certo e seguro. Eu é que não posso fazer nada. Acho que estás equivocada...

— Não posso ir à polícia.

— Nem eu posso fazer nada. Se me permitires, preciso trabalhar.

Mário se afastou rapidamente, deixando Isabel sem saber o que pensar. Nada havia dado certo. E ainda despertara a atenção para si. Se o médico quisesse, iria dar parte dela à polícia, para as investigações. Sem saber o que fazia, mecanicamente, sentou-se no banco à entrada do pronto-socorro. Ali, ninguém iria estranhar a sua atitude, tanta gente havia aguardando notícias dos desastrados de cada momento.

Quando Mário voltou, três horas depois, encontrou-a no mesmo lugar.

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