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Artigos-->José Calasans, na palavra de um não acadêmico -- 24/11/2006 - 18:10 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
José Calasans,

na palavra de um não acadêmico



A semana que o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia organizou recentemente sobre a literatura de José Calasans mostrou, mais uma vez, que os acadêmicos, seus amigos, admiradores e discípulos, desconsideram parte importante de sua vida intelectual.

Afora seu interesse pela pesquisa e estudos canudenses e umas poucas incursões no campo do folclore os que se debruçam sobre a obra de José Calasans ignoram o trabalho que realizou nos últimos anos de sua vida, até a aposentadoria definitiva em 1995.

É evidente que a influência que projetou sobre todos os que, depois dele, se interessaram pelo tema do messsianismo de Antônio Conselheiro, a partir dos Sertões de Euclides da Cunha, não encontra paralelo na história dos acontecimentos contemporâneos dessa saga.

Calasans iluminou de tal forma o caminho dos que se sentem atraídos pelo assunto, na literatura, no cinema, nas artes plásticas, no imaginário popular e em quaisquer outros campos, que é difícil localizar alguma iniciativa que não leve sua marca, que não tome suas publicações e palestras por referência.

E apesar disso tudo, de tão completo mapeamento daquele trágico momento dos sertões baianos, muitos ainda lhe cobram não ter produzido uma obra perfeita e acabada, capaz de ombrear-se com a de Euclides da Cunha.

Pois bem, não obstante a importância do papel de José Calasans no universo dos conselheiristas, canudenses ou eucliadianos, ele produziu muito mais do que isso, sobretudo nos últimos anos de sua vida.

Para quem, como eu, que me tornei seu amigo e admirador desde os anos do reitorado Miguel Calmon, na Universidade Federal da Bahia, a partir de 1964, com ele tendo tido intensa convivência do início dos anos oitenta até sua morte, em 2001, que com ele almoçava religiosamente todo mês, é triste constatar a pouca importância que se dá a esse período tão marcante de sua existência.

Para os que não sabem, ou negligenciam o valor de seu trabalho nos anos em que esteve à frente do Museu Eugênio Teixeira Leal – Memorial do Banco Econômico, é bom contar um pouco dessa história.

Quando a diretoria do Banco Econômico, em 1982, me atribuiu a responsabilidade de coordenar o planejamento e organização das comemorações que marcariam seu sesquicentenário de fundação, em julho de 1984, a primeira coisa que fiz foi procurar o professor José Calasans. É que estava em meus planos contratar a produção de dois livros que seriam lançados durante os eventos: a história dos 150 anos do Banco Econômico e a vida de Miguel Calmon Sobrinho.

Para o primeiro caso ele indicou o nome de Valdir Freitas Oliveira, que veio a realizar o trabalho. Quanto à biografia de Miguel Calmon, Luiz Vianna, por ele recomendado, não aceitou a tarefa.

Foi um custo convencê-lo a aceitar essa incumbência, mas ele terminou convencido.

Em fins do ano seguinte, enquanto prosseguia a restauração do prédio onde se fundara o Banco Econômico, sob a antiga denominação de Caixa Econômica da Cidade da Bahia, no Pelourinho, que seria transformado no Museu Eugênio Teixeira Leal, a diretoria do banco decidiu que as importantes coleções de moedas de sua propriedade não seriam transferidas ao novo imóvel, impedindo, desse modo, a criação de um museu numismático.

Foi o professor Calasans, mais uma vez, quem me salvou dessa enrascada: em texto de apenas uma página ele, que ia ao meu gabinete no Comércio pelo menos uma vez por mês, propôs que em vez do museu numismático instituíssemos um Memorial do Banco Econômico. A sugestão vingou e, no ano seguinte, terminamos inaugurando esse centro de memória do banco e da Bahia.

Aberto o Museu, o primeiro contratado foi justamente José Calasans, que passou a organizar e dirigir o Departamento de Estudos e Publicações, uma denominação pouco representativa das atividades por ele realizadas.

Ao lado de Ângela Petitinga, responsável pelo Departamento de Museologia, ele permaneceu no Eugênio Teixeira Leal até 1995, quando se aposentou definitivamente, após a intervenção sofrida pelo Banco Econômico.

Considero que esses foram anos muito profícuos e prolíferos na vida do professor Calasans, anos também muito felizes.

Foi nesse tempo que ele concluiu o livro “Miguel Calmon Sobrinho e sua época”, que me deu a honra de prefaciar, um documento de grande importância na história contemporânea da Bahia, que o consagra como escritor de grande fôlego.

No Museu, como era de seu feitio, cercou-se de gente de primeira qualidade, em geral moças de boa formação universitária nas áreas de biblioteconomia, documentação e arquivo.

Organizou o arquivo histórico do banco e trouxe para o museu arquivos pessoais de ex-dirigentes e funcionários. Montou um programa de história oral, tão ao seu gosto, e registrou o depoimento de antigos servidores e diretores. Editou várias publicações, entre elas o primeiro guia de instituições culturais do Centro Histórico. Fez com que a biblioteca mantivesse um serviço de recortes de jornais sobre assuntos econômicos, financeiros e de notícias do banco e de pessoas que nele trabalhavam. Obrigava cada setor sob seu comando a montar pelo menos um curso, um seminário por ano, sobre aspectos atuais de suas atividades. E promovia a realização de conferências e palestras mensais sobre os mais variados temas, no belo auditório do museu, gravadas e posteriormente registradas em vídeos. Acredito que foram mais de cem iniciativas do gênero, com desfile de intelectuais, políticos, empresários, religiosos, músicos, antropólogos, gente dos cultos afros, todos que traziam para os salões do museu uma assembléia nova. Até a Oficina de Frevos e Dobrados do maestro Fred Dantas ali se apresentou executando partituras de músicas do tempo do Conselheiro, que ele possuía.

Esse elenco de atividades do professor José Calasans Brandão da Silva não esgota o trabalho que realizou à frente do Museu Eugênio Teixeira Leal – Memorial do Econômico, que está à espera dos que estudam sua vida para dar uma feição mais completa à sua trajetória intelectual.



24/11/06



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