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Artigos-->A DOR QUE MAIS MALTRATA -- 16/11/2006 - 23:57 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A DOR QUE MAIS MALTRATA

(Ao amigo Zózimo Tavares)



Francisco Miguel de Moura*



A dor da alma é muito maior que qualquer dor física. Mil vezes.

A dor da morte de um ser que é seu próximo, pai, irmão, mãe ou filho, também dói muito. É a dor de quem morre um pedaço junto com o que se despede. Sei disto porque já passei pela morte de minha mãe e de meu pai. Sei porque passei pela morte de meu filho, embora criança de seis meses de vida, mas tão bonito, moreno, tão brasileiro, quando eu trabalhava em terra tão distante, no interior da Bahia, a serviço do Banco do Brasil. Eu e a mãe ficamos desesperados no meio de estranhos. Ela chorava, eu tentava enxugar-lhe as lágrimas. As minhas ficariam presas para caírem depois, gota a gota, em forma de poemas. Aqui vai transcrito o primeiro, o mais puro, ainda inédito porque feito sob o impacto desse acontecimento funesto. Título: “Fulton” “Nascido em berço de flores, / sorveste em vida perfumes... / E aqui, na morte, amargores!... // Vida, vida passageira!...? Morte, morte traiçoeira! / Teus golpes há quem descreva? // Lembro a dor que padeceste, / neste mundo, meu amor, / tua morte, minha dor. // Com suspiros, comoveste / quantos te ouviram, meu bem. / Cedo voaste pro Além. // És um anjo de Jesus: / - Na terra apagaste a treva, / no céu acendeste a luz.” Itambé, 29.7.62.

Muito mais triste, porém, arrasador para resumir num adjetivo, é ter um filho vivo-morto pelas drogas, pelo crime, pelas maldades do mundo: - os descaminhos que este perpetra à juventude. A sociedade não tem a mínima idéia da infinita dor de um pai, de uma mãe, de uma família por um filho que parte por um caminho como esse, tão estreito, quase sem volta. O vizinho, a sociedade, o Estado olham-no por olhos largos, distantes, mas nunca em profundidade. Por isto é que são tão lentos na solução dos problemas que os vícios e as drogas causam, mesmo as chamadas lícitas. A família sofre, os pais e os parentes mais próximos idem, de forma que às vezes esse sofrimento se traduz em gestos de desespero. Outros vão procurar refrigério na religião, na entrega a serviços sociais comunitários sequer imaginados. O pior é aquele desespero total que leva ao suicídio. Mas também há os casos em que esses filhos drogados, doentes do mal que o mundo lhes oferece por não seguir os conselhos de casa, investem contra seus progenitores e conseguem matá-los também fisicamente, porque a morte espiritual já lhes houvera dado.

Alguns pais adoecem, têm síncopes diante do inesperado, foi o caso de meu amigo Zózimo, cuja “Carta...” (ao filho) comoveu a comunidade teresinense e o Piauí, enfim a todos os que leram esse documento de grande valia para o esclarecimento dos jovens. Dele, meu filho, professor, está levando cópia para ler e refletir junto a seus alunos. Por mais que se sublime essa dor, ela nunca deixará de ser enorme, mesmo que o filho volte à casa paterna e aceite o tratamento de ressocialização.

E por que acontecem esses desastres, essas quedas, esses maus caminhos? Há quem diga: - A culpa é dos pais, que não deram a merecida atenção e carinho. É fácil dizer. Esse tipo de pai não é raro. Entrementes, na maioria das vezes é o mundo da tevê, da “internete”, da escola, o mundo da rua, o mundo da festa, onde se distribuem irresponsavelmente, desde o cigarro e o álcool até as drogas pesadas cujos nomes me fazem tremer, como pai de uma menor de 12 anos. Os pais nem sabem. Por outro lado, na faixa dos 12 aos 15/16 anos é quando a criança e o adolescente estão mais sujeitos a abraçar o vício por causa das más companhias, dizem os especialistas. A droga tira a saúde, o caráter, os sentimentos, a consciência, a razão, e transforma a criatura num objeto, quando não numa fera. E a pior fera é o homem desumanizado. Se esses adolescentes e jovens soubessem o mal que causam, certamente dariam a meia-volta, ou a volta inteira, para o encontro saudável com os seus, com a ternura e o carinho dos pais e dos demais familiares, não obstante as desavenças que possam ter tido. E a família, como o pai do filho pródigo da parábola do Evangelho, recebê-los-ia com festas, arrostando o ciúme dos irmãos, para salvá-los. Afinal, só os perdidos é que precisam ser salvos.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor, sai neste jornal às sextas-feiras. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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