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Erotico-->6. REVOLVE-SE O PASSADO -- 07/09/2002 - 08:03 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Na tarde em que a televisão transmitiu “ao vivo” o combate no morro, apanhou, de relance, o policial carregando o menino, com a gorda velha “balofando” atrás. A atenção do repórter foi desviada para outros lances, de modo que o cinegrafista desviou a câmara para ação de maior importância jornalística. Mas aquele instante foi suficiente para que alguém reconhecesse Raimunda e se preocupasse com a criança.

Isabel sentiu forte calor no rosto. Era a mãe de Orivaldo, a quem abandonara há quase cinco anos, na porta da mulher que fizera questão de conhecer, sem lhe chamar a atenção. Foi durante a despedida do último emprego, quando Raimunda foi homenageada pelos vizinhos. Dois dias depois, recebia a criança, com a recomendação por escrito de que fosse bem cuidada.

Não reconheceu o filho mas ligou imediatamente para o pai, avisando-o do ocorrido. Tomasse providências, se o quisesse vivo.

A conversa foi rápida. Não havia explicações. Leandro, o ex-companheiro, estava no comando da operação no morro e não pôde dar atenção a Isabel. Os comparsas, além da única baixa, estavam garantidos, nos esconderijos indevassáveis, enquanto lhes passava ordens radiotransmitidas.



Isabel desaparecera com a criança quando se viu uma qualquer na vida de Leandro. Naquela época, o criminoso era o terceiro na ordem da hierarquia da quadrilha. E não residia no morro. Do ponto em que se encontrava, não tinha acesso aos segredos dos principais nem tinha conhecimento da extensa relação de seus bens. Era como que o moleque dos recados para os executores dos morros. Moreno claro, passava por branco de terno e gravata. Bem apessoado, exigia que os encontros se dessem fora da área de atuação da quadrilha, sempre com um só dos parceiros.

Por ocasião da famigerada ida policial ao morro, viu-se coagido ao contato direto, durante a noite, para retransmissão das ordens superiores. Subira de posto e tinha o privilégio de só aparecer aos demais mascarado, com capuz de motoqueiro. Fosse reconhecido e denunciado, iria pôr em risco a segurança dos chefes.

Assim que pôde, localizou o hospital e alegrou-se por ter o filho sido atendido pelo Doutor Mário, fichado como colaborador inocente e prestimoso. Estava bastante feliz com a localização do filho, o qual acreditava longe do morro, uma vez que pensava que Isabel tinha deixado a cidade. Recebera dela uma carta, prevenindo-o de que jamais voltaria a ver o menino, na qual afirmava que se havia livrado da criança, para poder seguir vivendo sem peias. Desconhecendo-lhe o paradeiro, não pôde Leandro executar os planos de vingança.



Que se passara no íntimo da mãe, ao ver o filho nos braços do policial? A rápida visão trouxe-lhe as desencontradas emoções da vida com Leandro. Viu o filho morto. Fez a ligação para o número guardado para uma eventualidade, número que Leandro mantivera, previdente.

Queria que o pai chorasse a morte do filho, que fora o motivo de ter ela fugido, para não lhe dar o gosto de nenhuma felicidade. Dezoito anos de idade, recolhida do meretrício para o concubinato odioso e para a maternidade inconsistente, Isabel se viu apenas mais uma no harém do misterioso jovem, que a visitava em horas incertas, tendo-lhe dado o desprazer da convivência com outra amante, enquanto se mantivera grávida. A criança encantara o pai, desde bebê. Viu-o amamentado pelos seios fartos da mocinha até dois anos e tantos. Leandro, porém, não queria e não podia manter esposa e filhos, burguesmente. Propôs a Isabel que morasse no morro, deixando o apartamento para os encontros amorosos. Daria a ela recursos para sobreviver. Não lhe falou da segurança dos contraventores, porque não lhe revelara quem era.

Pareceu a Isabel que se transformara em mera tutora do filho. A voz de Leandro era incisiva. Não quis concordar. Chorou. Bateu o pé. Foi surpreendida por frieza desumana. Toda vez que Leandro aparecia, trazia uma nova mulher. Isabel saía levando o filho. Não participaria da luxúria dos amantes. Um dia, não voltou mais.

Pensava estar levando o perverso para o sofrimento com a morte do filho. Ela mesma não resistiu. Naquela noite, não trabalhou. Queria saber o resultado da visita de Leandro. Mas não queria ouvir que o filho morrera. Ligou de novo. Ligou várias vezes, sem sucesso. Não atendiam. De manhã, Leandro ergueu o fone:

— O meu filho irá sobreviver!

Isabel ouviu com alívio, mas compreendeu que Leandro era o inimigo de toda a vida.

— Onde ele está?

— Tu vais pagar bem caro os males que me causaste.

Isabel bateu o fone. Tremia de medo. A inflexão da voz de Leandro mudara. Dissera a ameaça como se fora a constatação da realidade. Uma idéia, então, fixou-se-lhe na mente. Quando possível, encontraria o filho e fugiria com ele para sempre. Resoluta, aprontou-se e partiu. Queria conversar com Raimunda, contar-lhe quem era, agradecer-lhe os cuidados com o filho. Daria uma recompensa pelos anos de sacrifício. Seduziria a velha para que lhe entregasse o filho. Mostraria a certidão de nascimento. Estava lá o nome dela. O do pai não constava. Provaria que era a mãe, dizendo como o filho estava vestido. Recordou-se dos dizeres do bilhete. Imaginou que a criança estivesse internada, ferida. Haveria tempo para arquitetar o rapto.

Com essa determinação, chegou ao sopé do morro. Havia forte policiamento. Sua roupa chamou a atenção dos soldados. Viram que era uma das que prestam serviços a todos. Deixaram passar. As ruelas estavam movimentadas. Muitas crianças. Ao chegar diante da casinha de Raimunda, percebeu que havia gente estranha. Seguiu adiante, sem se deter. Não conhecia ninguém mas sabia quem poderia ser abordado. Pediu informações. A polícia estava de olho nos repórteres. Não queriam entrevistas. Perguntou por Raimunda. Desaparecida. Tinha ido embora, levando tudo. Mudara para local incerto e não sabido. Negrinha e faceira, disfarçava o interesse, dizendo-se aparentada de um certo Turíbio, morador antigo, sabidamente falecido. Desceu por outro caminho e desapareceu na cidade grande.



Só fora reconhecida por Alfredo, que não entendia o que se passara no barraco de Raimunda. De manhã, lá estava ela com três indivíduos. Voltara antes da hora do almoço e já não se encontrava. Não lhe foi difícil estabelecer contato com outros atendentes da espiritualidade, para descobrir para onde havia ido. Lá chegando, foi novamente barrado pela tela magnética dos obsessores. Regressou a Andaraí de Cima e ficou observando o movimento. Algo lhe dizia que a espera seria frutífera. Era como se recebesse recados telepáticos tenuíssimos de conhecidos protetores. Em outros ambientes, a comunicação far-se-ia integral. Naquele local, a estática das vibrações impedia o estabelecimento das comunicações em sua freqüência vibratória.

Quando viu Isabel acompanhada por terríveis seres das Trevas, compreendeu que Orivaldo corria perigo. Desejou reconhecer quem lhe enviara as mensagens sutis. Imediatamente se fez presente um colega de curso, para levá-lo dali, a fim de conversarem. Naquele local, não havia condições fluídicas.

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