Pá, lavra as sílabas,
Dá-lhes rima
E procura a sensação
Do verso que vá por cima
Do verbo da confusão;
Estende do coração
A seara do desejo
E abre os lábios ao beijo
Da boca que tem razão.
Pá, lavra as sílabas,
Dá-lhes jeito
Como se fossem sementes
Do pão que nasce do peito
E amansa todos os dentes;
Se pura e em brasa sentes
A esperança da colheita
Enquanto esperas, aceita
A desgraça dos valentes.
Pá, lavra as sílabas,
Dá-lhes vida
Plena à flor da pele
Em cada estrofe saída
Do amor que se revele;
Nunca te ocultes por ele
Nos meandros do celeiro
Porque o amor verdadeiro
À vista é sempre fiel.
Pá, lavra as sílabas,
Dá-lhes rumo
No céu excelso da lira
Onde as harpas brotam sumo
Do poeta que não vira
A cara ao fogo da pira
Entre Deus e o Diabo,
Mentira... De cada lado,
De cada lado... Mentira!
Torre da Guia
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