Usina de Letras
Usina de Letras
136 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62265 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50654)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Poesias-->CUNHAPORÃ, UMA HISTÓRIA DE AMOR - IV - QUANDO CHEGA O AMOR -- 29/06/2002 - 21:24 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CUNHA PORÃ compõe-se de onze capítulos. Aconselho aos leitores que efetuem a leitura a partir do primeiro, seguindo seqüencialmente a ordem crescente, para que o entendimento do enredo não fique prejudicado.



* * *



CUNHAPORÃ - PARTE IV - QUANDO CHEGA O AMOR

J.B.Xavier







E luas à frente daquela orgia,

Ouviu-se na aldeia, já ao fim do dia

O ruído abafado de um calmo tropel.

E entrou pela taba, pasma, assustada,

Cansado e exausto de tal cavalgada,

Garboso guerreiro e seu belo corcel.



O espanto nos olhos tornou evidente

O susto que havia nos índios valentes,

Enquanto o corcel relinchava cansado.

Olhavam o homem que o controlava.

Seguro de si, o animal comandava.

Jamais tinham visto um índio montado.



“Quem sois? Que quereis?” - disse um, afobado.



“Eu sou Nhuamã , a chuva dos prados.

Procuro abrigo, e por certo o encontrei.”



“O Oyakã não está , pois foram à caça.

Mas ocas não faltam, repousa a carcaça,

Que à noite, ao fogo, vos acordarei.”



E à noite, então os homens sentaram

Em volta do lume e seus casos contaram.

E após todos terem seus casos contado,

Saiu o cacique de onde sentara.

Rompendo a noite com voz forte e clara,

Chamou o estranho que estava ao seu lado.



“Estranho, quem sois?” - bradou Ygarussú.

“Me dizem que vindes dos prados do sul...”



A taba calou em silêncio, agoniada.



“Abrigo vos peço até amanhã .

Sou Chuva dos Prados. Eu sou Nhuamã,

Cansado de luas de extensa jornada...”



“Sois vós Nhuamã , o cacique charrua,

Que monta o Vento nas noites de lua,

Que os prados cultuam, de todos temido?

Sois vós Nhuamã , o leal combatente,

Que a todos ampara, gentil e valente,

Que em guerras ainda jamais foi vencido?”



“Assim o dissestes, Grande Ygarussú !”



“Sois vós de quem falam os cantos do sul

trazendo-me os feitos heróicos e ternos?

E tuas mãos de veludo que afagam a flor,

São as mesmas que tocam os hinos de amor,

E as mesmas capazes de ir aos infernos?”



“Sois vós que hoje vem à minha aldeia,

Que a fama de bravo meu sangue incendeia,

E que afoito já quer partir amanhã ?

Sois vós que aqui vem pedindo-me abrigo?

Sois vós, que, afinal, terei por amigo?”



“Sim, Grande Chefe, eu sou Nhuamã !”



E disse o oyakã, erguendo seus braços:



“Olhai este homem e seus fortes traços,

Do qual sua força não quero aferir.

Olhai para quem a derrota esqueceu,

E que considero agora irmão meu.

Seu canto de guerra queremos ouvir!”



Com gestos seguros, nos ermos da noite,

Com voz trovejante, tal qual um açoite,

Cantou o seu canto o Grande Nhuamã.

Seus olhos, no entanto, do meio da arena,

Pousaram no olhar da suave morena,

Corando as faces de Cunhaporã.



* * *



“Eu venho de longe, de terras distantes.

Dos prados dourados,

Dos campos dobrados,

E tenho por taba os espaços gigantes.



Eu venho de longe, das terras da Lua,

Da grama molhada,

Do Sol, da geada,

E trago o orgulho de ser um charrua.



Lamento os mortos, doentes, feridos,

Nas guerras cruentas,

Batalhas sangrentas,

Mas muito me ufano de ter um amigo.



Não busco a morte, o estertor, a ferida,

Nos campos de guerra.

O que em mim se encerra

É a busca dos risos felizes da vida,



Os arcos trocamos por ávidas danças,

Cantigas e hinos.

E nossos meninos

Crescem felizes, eternas crianças.



Caçamos o potro selvagem nas serras,

Veloz como o vento.

Mas somos a um tempo

Amados na paz e temidos nas guerras.



Nós sempre nos pampas buscamos ficar”

- Falou Nhuamã -

“O próprio Tupã

Nos deu essa terra de belo luar...



Que vento é esse que sopra uivante

Ano após ano?

É o Minuano,

soprando a vida instante a instante.



Guerreiros valentes lutei e venci

Em nome da paz.

Meu corpo ainda traz

Medonhas lembranças que nunca esqueci.



Ali uma flecha, aqui uma lança, ali

O branco atirou.

Nhuamã, eis quem sou!

E apesar dos perigos, encontro-me aqui.



Caçando feliz ou lutando nas guerras

Em mil estertores,

Eu busco os amores

De olhos bonitos, em longínquas terras.



Tupã me guiou por caminhos escuros

Que Jassy iluminou.

E eis que aqui estou

Em meio à floresta de ares tão puros.



Se amo os espaços, que faço na selva

E nela me embrenho?

Tupis! aqui venho

Deixando as mais lindas coxilhas de relva.



Um dia, num lago, surgiu-me Yara

À luz de Jassy.

E então me senti

Possuído de amor nessa noite tão clara...



‘Tua amada te aguarda’ - Yara dissera.

‘Cavalga p’ro norte.

E cuidado com a Morte

Que em flecha ligeira decerto te espera.’



Quem é minha amada. senhora das águas?

Indaguei ansioso.

‘Não sê curioso,

Que junto com o amor te esperam as mágoas.’



Seu nome ao menos não podes dizer?

Insisti desafiante.

‘Ah! os amantes!

Por que tão mais cedo preferem sofrer?’



E o nome eu ouvi dos lábios serenos

Da deusa do lago.

Um nome que trago

Queimando-me a alma qual doces venenos.



Meu braço me ampara, senhora. Observe.”



E a flecha voou

E no alvo pousou.



‘Na selva teu braço de nada te serve.’



‘A selva é escura’ - falou com voz fria -

‘E em certos locais,

Apesar dos demais,

A treva até mesmo a Jassy desafia!



Parte, guerreiro, e cuidado com a súcia

Do grande arvoredo!

Não tema ter medo!

Na selva, guerreiro, o que vale é a astúcia.’



Confie em mim, minha deusa e senhora,

Farei minha sorte

Até mesmo com a morte!”



‘Cavalga, guerreiro, e parte agora!’



E, pois, eis-me aqui na solene aldeia

Dos bravos Tupis.

Os povos mais vis

Venci ! E eis-me aqui junto à vossa candeia.



Lutei nas florestas, calquei sob os pés

Guerreiros valentes,

Comedores de gente,

caigangues, xavantes e os vis aimorés.



Feliz, meu regresso trará mais vitórias

Ao meu amanhã.

Eu sou Nhuamã,

De futuro feliz e passado de glórias!”



FIM DA PARTE IV



* * *



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui