Usina de Letras
Usina de Letras
144 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62265 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50654)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Poesias-->CUNHAPORÃ, UMA HISTÓRIA DE AMOR- II - O CANTO GUERREIRO -- 29/06/2002 - 20:59 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CUNHA PORÃ compõe-se de onze capítulos. Aconselho aos leitores que efetuem a leitura a partir do primeiro, seguindo seqüencialmente a ordem crescente, para que o entendimento do enredo não fique prejudicado.



* * *



CUNHAPORÃ - PARTE II - O CANTO GUERREIRO

J.B.Xavier







“Irmãos meus de sangue!

Às vezes, exangue,

Amargas torturas

Da guerra bebi.

Nas provas mais duras

Nas quais fui testado

E em grandes agruras

Não esmoreci.”



“Meu tino me serve

De guia no escuro,

E que assim se conserve

Em dias por vir.

Que eu vença o futuro

temores, cansaços,

Que eu esteja seguro

De nunca fugir.”



“A quantos matei?

Jamais vou saber!

Jamais me lembrei

De contar inimigos...

Só resta entender:

Não há diferença

Em matar ou morrer.

Em mim só me abrigo.”







“Já fui pelas serras

Vencendo a má sorte.

Andei longas terras

Que nunca esqueci.

A braços com a Morte

Andei tão distante.

Com povos mui fortes

Lutei e venci.”

“Olhai o meu peito

E o claro matiz

De um talho perfeito

Que fez-me o embate.

Mas morro feliz

Se a lança atirada

Fizer cicatriz

Que enfeite o combate."



E isto dizendo, olhou os guerreiros

Que sérios, nervosos, se agitam ligeiros

Prevendo o que então viria a seguir.

E apenas num gesto, rápido, tenso,

Tirou de seus ombros o manto imenso

Que suave ao seu lado, no chão foi cair.



Seu corpo saltou para a noite escura

Marcado nas lutas de tanta bravura.

O espanto deixou os guerreiros prostrados.

Que lanças suas mãos não haviam partido?

Que vezes, na dor, sem um só gemido

Não tinha o tacape do ímpio quebrado?



Seu rosto severo, seus braços possantes

E o altivo que havia em todo o semblante

Tornava-o muito acima dos seus.

E a pira queimava incensos amenos,

E o fumo a subir era como acenos

Ao bravo que agora queria ser deus.



"Eu sou o seu deus!" - bradou Ygarussú.

"Mais rápido ainda que o veloz suassú !

Mais forte que o raio, o vento ou a lança!"



Pasma a aldeia!



Jamais a floresta

Ouviu coisa assim!

Que os deuses em festa,

Se o tenham ouvido, não queiram vingança...



Rolou no horizonte um trovão taciturno:

Tétrico aviso ao audaz importuno.

Quem desafia o poder de Tupã ?

Quem é que, em deus, por si se entronara?

Quem é que a si próprio assim se elevara?

Quem ousaria prever o amanhã ?



Os homens em roda ouviam enlevados.

Futuros guerreiros olhavam, sentados,

O grande cacique que os céus lhes mandara.

As moças sonhavam os sonhos das virgens,

Enquanto o valente cantava as origens

Do clã que o - um dia, há tempos - gerara:



"Em guerras distantes

As tribos errantes

vagavam constantes

Por ermos hostis.

E a tribo que agora

O penhor revigora

E a mesma de outrora:

Os bravos tupis.

O vento na mata,

O som da cascata,

A lua de prata

Deixava antever

Que em tempos vindouros,

Tal qual um agouro,

Das lutas os louros

Iriam colher.

O céu incendido

Que cobre o bramido

Do índio ferido

Em remoto iporã ,

É o mesmo por certo

Que ao índio desperto

Vai deixar aberto

O poder de Tupã .

Poder que encerra

O verde da serra

O grito de guerra,

O som do maracá.

É o mesmo que assim,

Nas eras sem fim

Forjou num festim

O cacique Condá.

Condá, que às vezes

Aos vis portugueses

Impôs os revezes

De lutas sem par.

Um corpo pintado,

Um rosto irado,

E no crânio, alado,

Branco canitar.

Penacho frondoso,

Porte garboso,

Arco lustroso

Condá exibia.

Nas guerras insanas

Santas, profanas,

Em voz soberana

Seu brado se ouvia.

Guerreiros! eu canto

O riso, o pranto

De quem sofreu tanto

P’rá nos ter aqui:

Condá e os demais.

Por certo lembrais

Do chefe Virí.





Virí, o seu braço

Deixou forte traço

No chão, no regaço

Dos tempos de outrora.

As mãos calejadas

De vidas tomadas.

Sua lança ousada

Tivesse eu agora!

A força da Terra

Que em si toda encerra

As mortes na guerra

Clama por ti!

A ti só eu chamo,

Tupã! eu conclamo:

Desfaça o engano,

Renasça Virí.

São esses os bravos!

Beberam dos favos

Das lutas. Escravos

Do lutar e vencer.

A mim delegaram,

A mim confiaram,

Em mim transplantaram

Sua força e poder!

Ouçam-me agora

Que chega a hora

De ir-me embora.

Seu deus, pois, eu sou!

Meu canto já finda.

Na guerra benvinda

Meu braço ainda

Ninguém derrotou."



E fez-se silêncio. Calou o gigante.

E tudo ao redor silenciou nesse instante

Sagrado, a render-lhe uma muda homenagem.

E enquanto alguém lhe entregava o manto,

Os sons tão heróicos de seu nobre canto

Ainda ecoava na densa folhagem.



Assim o tupi, com seu porte altaneiro,

Reinava na aldeia, e seu canto guerreiro

Deixou toda a taba feliz, enlevada.

Seus olhos, no entanto - discreta procura -

Buscavam a beleza, a meiguice, a candura

Do rosto sereno da doce amada.



As moças ao longe, em nervosos sorrisos,

Deixavam antever, em indícios precisos,

O amor dedicado ao grande oyakã.

Mas fogo no peito ilustre havia

Queimando por dentro, em lenta agonia

Por seu grande amor, sua Cunhaporã.



E quem duvidava que tão nobre canto

Visava o amor esperado há tanto

E que em breve, sabiam, iria esposar?

Seus olhos furaram a noite escura

Buscando a beleza, a meiguice, a ternura

Que o canto guerreiro queria agradar.



Nas faces das moças, lindas, tingidas,

Em vão procurou as feições tão queridas

Sem no entanto encontrar o doce olhar vago.

Olhou ansioso além da amurada.

Sabia onde ela seria encontrada.

Afastou-se correndo a caminho do lago.



Subiam no espaço as fagulhas do lume

Levando aos céus o espesso negrume.

Silêncio na mata! findara-se a festa!

Tornou-se mais fraco o estalar da fogueira.

Mil olhos seguiam a marcha ligeira

Do chefe e herói, a sumir na floresta.



FIM DA PARTE II



* * *

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui