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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Os Guarda-Chuvas do Amor -- 18/10/2002 - 04:08 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No ano de 1964, concorrendo com obras-primas como "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha, "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos, "Um só pecado", de François Truffaut, e "A mulher de areia", de Hiroshi Teshigahara, "Les Parapluies de Cherbourg" [Os guarda-chuvas do amor], do francês Jacques Demy, conquistava a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

A era do DVD nos põe de novo ao alcance dos olhos maravilhas como este filme único na história do cinema.

Ao receber o roteiro em 1963, o compositor Michel Legrand descobriu que tinha em mãos uma história ideal para criar um musical inimitável. Um dos maiores compositores do mundo no século XX, autor de trilhas premiadas pela Academia de Hollywood, Legrand decidiu que a partitura preservaria os diálogos em sua naturalidade, sem a camisa de força das rimas e da métrica. Assim, compôs a partitura de orquestra para os 90 minutos do mais puro cinema, com excelentes canções brilhantemente interpretadas.

É a história de uma jovem de 17 anos, Geneviève (Catherine Deneuve, 20 anos de idade), que trabalha como vendedora na loja de guarda-chuvas de sua mãe viúva. A cidade é Cherbourg. O nome da loja, justamente, "Les Parapluies de Cherbourg".

Geneviève deixa de lado um pretendente abonado, o sonho de sua mãe, o comerciante de jóias Roland, para se entregar a uma ardente paixão por Guy, um jovem mecânico, empregado num posto de abastecimento (Nino Castelnuovo). Este, depois de amá-la e engravidá-la, parte para a guerra da Argélia.

O filme está dividido em três partes: a Partida, a Ausência e o Retorno. A história se passa entre 1957 e 1959.

Algum tempo depois, cansada de esperá-lo, sem notícias, Geneviève cede ao assédio do ex-pretendente recusado, que também assume a criança que está para nascer.

Em março de 1959, Guy retorna da Argélia, ferido numa perna, conforma-se com as novidades, casa-se, tem um filho, torna-se proprietário de um posto de abastecimento.

Na seqüência final, sob forte nevasca, um carro aguarda por atendimento junto à bomba. Ao volante, uma senhora acompanhada da filha pequena. É Geneviève que retorna pela primeira vez a Cherbourg depois do casamento. Guy a convida para abrigar-se do frio e da neve no escritório do posto, enquanto a filha aguarda no carro e o frentista faz o seu trabalho.

O último diálogo entre ambos, e último do filme, se dá num clima de impossibilidade amorosa. A decisão final é de Guy, que diz: "Acho que agora você pode partir". Em seguida, vamos vê-lo feliz com a esposa e o filho, liberto de um passado que insistia em voltar.

O leitor poderá pensar: mais um desses filmes românticos, água-com-açúcar, pendendo para a chatice com que Hollywood tantas vezes nos acalentou.

E, na verdade, o diretor Jacques Demy realizava um sonho que sempre acalentara, um musical inspirado na longa tradição dos musicais de Hollywood. Musicando simplesmente os diálogos exatamente como eles ocorrem no dia a dia, sem o recurso das rimas e da métrica, o resultado é espantoso. Frases como “você está cheirando a gasolina”, com a resposta “também é um perfume” soam surpreendentemente musicais sob a batuta do grande gênio Michel Legrand.

No DVD, sinto falta de informações acerca da feitura do filme. É claro que em 1964 ninguém poderia prever que os filmes chegariam um dia tão confortavelmente a nossas casas, num disco das proporções de um CD, com a possibilidade de oferecer extras como o seu making of . Eu teria enorme curiosidade em saber, por exemplo, se teriam os próprios atores interpretado as canções, e tão magistralmente. Se a "bela da tarde", Catherine Deneuve, era, no esplendor dos seus vinte anos, dona de voz tão privilegiada. Ou teria a produção se valido de algum truque, efeito especialíssimo, para dar verossimilhança a algo tão delicado como alguém atuando e cantando as coisas mais corriqueiras do cotidiano?

A Editora Jornal do Vídeo coloca nas bancas de jornal, por R$ 19,90, a versão maravilhosamente restaurada, em 1992, pela ex-esposa do diretor, a também diretora de cinema Agnès Varda. Sobretudo o colorido do filme, um escândalo, um exagero de cores, foi retocado, reavivando o que o tempo já havia seriamente comprometido.

Um extraordinário exercício de estética cinematográfica. Os cenários, os figurinos, a cenografia, tudo rigorosa e matematicamente planejado para contar uma história de amor, aparentemente banal como todas as outras. Mas, para além dessa fábula simples, o espectador é convidado a revisitar a passagem dos anos 50 para os 60, e no que eles tiveram de melhor, de mais charmoso, bonito e elegante.

Foi o surgimento do mito Catherine Deneuve, que despontava como um dos mais misteriosos símbolos sexuais do cinema em todos os tempos, um ícone inegável da cultura do último quartel do século XX, promessa de uma sexualidade ardente sob uma fisionomia aparentemente frígida, mas de esplendorosa e cativante inocência juvenil. A atriz continua sua carreira brilhante, de grandes filmes dirigidos pelos maiores diretores do seu tempo, valendo a pena lembrar sua madura interpretação de uma operária de fábrica, como coadjuvante da espantosa Björk em "Dançando no Escuro".

Na capa do DVD, algumas frases pinçadas da recepção brasileira dessa cópia restaurada:

“Uma pequena obra-prima, atemporal como todas as fábulas de amor.” (Luciano Trigo, O Globo)

“Um filme incomum e inimitável.” (Ricardo Cota, Jornal do Brasil)

“A beleza da cópia restaurada por Agnès Varda está à altura do filme.” (Inácio Araujo, Folha de São Paulo)

Não se esqueça de acionar no aparelho de DVD o formato widescreen. Numa obra de arte como "Os Guarda-Chuvas do Amor", não se pode perder nada. Algumas cenas, matematicamente compostas, acabam fatalmente comprometidas com o desaparecimento de alguns centímetros nas laterais. Um lançamento primoroso e imperdível. Quem ainda não viu, não perca tempo. Um dos filmes mais fantásticos da fantástica história do cinema.

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