SABEDORIA POPULAR
Délcio Vieira Salomon
Olhando o mapa eleitoral, após os resultados acumulados do 1º e 2º turnos das últimas eleições municipais, somos levados a concluir que a sabedoria popular está acima dos cientistas políticos e de suas sofisticadas análises. Sabedoria revelada na escolha dos candidatos.
Quantas previsões caíram por terra e como o futuro político é decidido nos resultados das urnas e não nas previsões, probabilidades e desvios - padrões das estatísticas!
Como cético dessa doxa política que se arvora em ciência, sou levado a acreditar mais no bom senso dos eleitores do que no discurso explicativo acoplado aos resultados das pesquisas e até mesmo do que na aparente performance dos candidatos, freqüentemente fundida em falsas promessas, ou seja, na sagacidade política de enganar o povo.
O mapa nos mostra, com nitidez, que, durante os próximos quatro anos, arremedo de bipartidarismo, através do crescimento do PT e do PSDB, dominará a cena política brasileira. Vontade do povo que assim quer o digladio das duas forças, para que, ao fim do processo, um novo ser político surja de doloroso parto.
De tantas lições a extrair, algumas os eleitores transmitem com segurança, contanto que nós nos coloquemos como dóceis discípulos a acatá-las.
Por causa da limitação de espaço apontarei apenas uma: a cada eleição nota-se que o povo vota em candidato, não em partido.
A prova está nítida: em Belo Horizonte, o povo não votou maciçamente no PT como se esperava, mas no candidato do PT – Fernando Pimentel, porque, confrontado com o outro – João Leite, sobretudo com a dobradinha feita com Maria Elvira, o dilema que se apresentou era de rejeição, não de eleição.
O mesmo aconteceu em Contagem, em que, tudo indica, selou-se a morte política de Newton Cardoso e de Ademir Lucas. Ambos foram duplamente rejeitados, não tendo sido o PT, mas a mulher candidata lançada pelo PT que levou a palma da vitória.
Em São Paulo, então, o fenômeno da rejeição ficou mais acentuado. Sábio, o povo rejeitou Maluf e o PT que, em São Paulo, tentou federalizar a campanha e se deu mal. Não apenas Marta, sobretudo Lula foi rejeitado. Também em Porto Alegre, o PT foi riscado do mapa.
O velho sonho do PT de ocupar espaço e se proclamar a sigla das multidões – com pretensão de substituir o projeto do PSDB de ficar décadas no poder, parece se esboroou.
Se Lula não fizer revisão completa de sua política econômica, se não abjurar de todo o modelo que FHC lhe legou, por certo não se reelegerá, como pretende, em 2006.
Não custa deixar de ouvir os pretensos sábios da ciência política e, sobretudo, os bajuladores, para, em seu lugar, auscultar a sabedoria da voz do povo, que fala alto no silêncio das urnas.
A sabedoria popular não se aloja nos institutos de pesquisa e muitos menos nos escaninhos dos partidos políticos. Simplesmente se encontra nos contatos com o povo e está impregnada de seu cheiro e suor.
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