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Artigos-->PARA ONDE CAMINHA A UFMG? -- 20/09/2006 - 11:38 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PARA ONDE CAMINHA A UFMG?



Délcio Vieira Salomon





Pouco a pouco a UFMG está se transformando na instituição com que sonharam os “iluminados” autores do projeto GERES: uma instituição cindida em duas. De um lado, a institucionalização de um grupo de excelência formado só de pesquisadores. De outro, um colegião de terceiro grau ou uma agência profissionalizante constituída só de professores voltados para o ensino, com o objetivo de formar profissionais de nível superior.



Ardilosamente já não se fala no GERES, nem em outro substitutivo, provavelmente por causa das três grandes derrotas sofridas pela reação do Movimento Docente. Mas se vai solapando paulatinamente o que ainda resta da antiga universidade pública e federal.



Uma das grandes falácias a respeito da reforma universitária é propor sua transformação para que se adeqüe ao modelo americano.



Ao invés de começar pela problematização da universidade brasileira e logo em seguida pelo diagnóstico da realidade, para aoa cabo, em função dos dados coletados, se discutir o projeto mais indicado para a reformulação da universidade, nossos “reformadores iluminados” já trazem no bolso do colete projeto pronto e “copiado” de outro país, de outra cultura, de outra realidade e tudo fazem para impô-lo a nós. Procedem como inovadores atacados pelo prurido e pela febre da mudança. Atitude que faz lembrar o espanto registrado por Levy-Strauss em Tristes Trópicos, recém chegado ao Brasil na década de trinta, para lecionar na USP. Ficou perplexo diante da irresponsabilidade dos dirigentes universitários daquela época e dos estudantes em particular, por quererem sempre a novidade, sem ter a base.



Nota-se que tais “reformadores”, gozando de “status” discutível, de origem obscura, mas que lhes confere sempre a primazia da consulta pelo MEC, estão sempre propondo modelos, “designs” operacionais (como costumam apontar), sem demonstrar estudo da realidade brasileira que venha a servir de suporte a seus projetos.



No momento atual alguns fatos levam à suspeita de que deve existir algum grupo internacional (provavelmente ligado aos defensores do neoliberalismo tão acarinhado pelo governo) que insufla o balão desses pretensos inovadores.



A UFMG, por exemplo, está, neste momento, com projeto já em discussão nas instâncias superiores de decisão para acabar com o ensino de 1º e 2º grau – verdadeiro laboratório vivo para a ciência e a prática da Educação e que tantas alegrias e glórias tem trazido para a instituição, durante estes anos todos, desde o antigo Colégio de Aplicação da Faculdade de Filosofia (no Acaiaca e no Santo Antônio).



Ao mesmo tempo em que CEPE e Conselho Universitário discutem para decidir a extinção do 1º e 2º grau, com grande probabilidade de efetivação da medida (se não houver forte contra-reação!), estamos sendo informados que foi criado o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) com 3 cátedras nas áreas de Humanidades, Ciências da Natureza e Exatas e já com fundo permanente de R$ 1 milhão, cujo rendimento anual será utilizado para contratação de professores visitantes.



Curioso que, em 1993, escrevi na Revista CAMINHOS da APUBH (Associação dos Professores) o artigo “Do sonho de Piaget à transdisciplinaridade no ensino universitário”, em que declarava: “Quando universidades do 1º mundo caminham para a institucionalização da transdisciplinaridade, a universidade brasileira ainda vive apenas tentativas, quando não arremedos de interdisciplinaridade” (CAMINHOS, n.7, jun. 1993, p.29).



Ninguém me contestou. Pelo contrário, recebi inúmeras manifestações de apoio ao artigo. Vejo (com satisfação? – não sei... tenho minhas dúvidas) que a transdisciplinaridade já chegou (?) à UFMG. Mas sem se ter institucionalizado a interdisciplinaridade...



Piaget certamente teria hoje, na UFMG, o mesmo estupor de Levy Strauss diante da USP na década de 30, pois foi ele quem escreveu: “à etapa das relações interdisciplinares, podemos esperar que se suceda uma etapa superior, que não se contentaria em atingir interações ou reciprocidade entre pesquisas especializadas, mas situaria essas ligações no interior de um sistema total, sem fronteiras estabelecidas entre as disciplinas” .



Será que a UFMG já superou a etapa das relações interdisciplinares?.... Ou mais uma vez estamos tentando, como diria Tristão de Athaíde, ter a coroa, sem sequer termos a cabeça e muito menos os pés no chão? Como se explica então na mesma época acabar com o ensino do 1º e 2º grau e implantar um projeto tão sofisticado para trazer catedráticos em transdisciplinaridade do exterior?



Hoje acabarão com o 1º e 2º grau, amanhã com a extensão, depois com o Hospital das Clínicas...Quando acordarmos, a UFMG já terá virado uma casa de cristal, um centro de excelência, sem nenhum compromisso com a Sociedade que a criou e a sustenta.

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