* Este artigo, apesar de ter sido escrito em 2002 pouco antes das eleições em que Serra concorreu contra Lula, continua bastante atual. Que o leitor veja como em política a corrupção não é nódoa deste ou daquele partido. No caso enfocado pelo artigo, basta substituir FHC por Lula e trocar nomes de políticos que constituiram o staff de um pelos que constituiram e constituem o staff do outro, pois tudo "c´est la même chose"....
No reino de Ali Babá não havia tucanos e coligados, mas havia quarenta ladrões. Longe de mim estar insinuando que FHC e sua coligação no poder representam em nosso país tropical o herói e seu bando das mil e uma noites de Sherazade.
Apenas associei as duas imagens, ao constatar a quantidade de políticos e assessores, que, à sombra do Planalto, se envolveram em corrupção no atual governo e até hoje continuam impunes.
Por alto fiz um levantamento em que contei, de lembrança, mais de duas dúzias de nomes sob suspeita e acusação: desde Sérgio Mota e Eduardo Jorge até o recém acusado Ricardo Sérgio. Curiosamente, como Ali Babá, também FHC é poupado de pechas e acusações.
Daí decorre a segunda razão de aproximar, para contrastar, os dois contextos: o da lenda e o da realidade política. É que Ali Babá e seus ladrões eram transparentes. Assumiam o que eram e faziam. Estranhamente as pessoas vinculadas diretamente a FHC, indiciadas ou apontadas pelo noticiário, não têm a mesma postura. Usam de todos os recursos e erguem com a maior desenvoltura uma cortina de fumaça negra e densa em torno deles mesmos e de seus atos, para evitar que a opinião pública saiba a verdade do que tem acontecido nos bastidores do governo desde 1994 até hoje.
Operações de abafa, rolo compressor, respostas sarcásticas, ataques verbais são o mínimo apresentado como autodefesa e barreira à averiguação pública. Basta simples suspeição que logo se levantam para praticar a velha máxima de que a melhor defesa é o ataque. Antes que sejam destruídos, ainda que em nome da verdade e da justiça, FHC, Serra e comparsas tudo fazem para destruir os adversários.
Para mostrar que é superior e acima de qualquer suspeita, FHC usou e abusou de expressões como neobobos, esquerda carcomida, vagabundos, ultrapassados, retrógrados, nhenhenhém e pretensas frases aparentemente d’ésprit, mas na verdade de uma pobreza intelectual de causar dó! A revelar sempre o propósito de agredir para não ser atacado.
Agora seu assaz contestado candidato à sucessão demonstra que copiou o “grande chefe”. Mal começaram as graves denúncias que o envolveram com as falcatruas de Ricardo Sérgio, tenta ironizar: - “tudo não passa de tititi e trololó”. Temendo que os ventos soprem a poeira para sua janela, FHC vem a publico declarar que se trata de “acusações requentadas”, quando para advogados de renome e respeitados políticos sua omissão e leniência, à época da ocorrência dos fatos, podem culpá-lo de improbidade administrativa. FHC, Serra e assessores pousam de impolutas vestais da República.
Ao contrário de Ali Babá e seu bando, em vez de se esconderem em cavernas, à espera do “Abre-te Sézamo”, procuram trancar a corte a sete chaves. Será que pensam que todos nós temos que engolir calados? Será que de tititi e trololó, com tropeços aqui e ali, sem o ar e a luz que paradoxalmente sobram nas cavernas de Ali Babá, mas tanto faltam nos subterrâneos do Planalto, chegaremos a eleger, sem continuidade nem continuísmo, o sucessor de FHC, e apurar tudo o que foi feito entre 94 e 2002?