Há algum tempo, os aposentados foram xingados de vagabundos por sua Alteza FHC. Estava contrariado, ao ver centenas de funcionários públicos federais se aposentarem, antes de com-pletar o tempo, diante da ameaça de cassação de seus direitos.
A oposição já foi chamada de neoboba e carcomida. Estava contrariado, diante das críticas pesadas e persistentes a seu autoritarismo e à entrega do patrimônio nacional a grupos estrangeiros.
Hoje os jornais estampam: “Para FHC, se a pessoa não consegue produzir, ser cientista, coitada, vai ser professor”. Estava contrariado, pois foi obrigado pelo Judiciário a pagar aos professores universitários em greve o salário retido injusta e ilegalmente.
Sempre que sua vontade soberana é contrariada, ele apela para o sarcasmo. Ainda que para os áulicos seja manifestação de “finesse d’esprit”. Quantas vezes seu destempero verbal contra o Legislativo e o Judiciário já não colocaram em choque os três Poderes e sob ameaça a sociedade.
Já confessou um dia que o título de professor não lhe traz nenhum prestígio. Considera-se cientista social, sociólogo.
Na verdade deve ter até hoje vergonha de ter sido professor (de fato não o foi), apesar de receber como professor, e não como cientista ou sociólogo, gorda aposentadoria.
Pousou de “príncipe dos sociólogos brasileiros”, quando Oracy Nogueira, Florestan Fernandes, Otávio Ianni, e vários outros tiveram produção superior a sua. Já está denunciado que FHC e Faleto piratearam e plagiaram textos sobre “a teoria da dependência” (que o diga Ruy Mauro Marini). FHC sempre acusou “rancor” contra o socialismo na América Latina, por isso “lidou com a dependência através da absoluta ausência de uma teoria do imperialismo”.
Esperamos que o blefe de antigo cientista social e hoje o de estadista sejam desmascarados na campanha de 2002. Enquanto aguardamos esse dia, é bom ficarmos atentos. Voltando ao sarcasmo contra o professor, cumpre ressaltar: com a repressão de seu id, FHC acabou se projetando, ao desmerecer a função do professor, por considerá-lo um incompetente que não conseguiu ser cientista.
Os professores universitários, o sabemos, não temos como ele a vaidade de sermos “cientistas”. A rigor, nem ele jamais o foi. Embora por vaidade se autoproclame. Aliás, Leonardo Boff já o declarou: “FHC é um pseudo-intelectual”. O autêntico cientista não trocaria sua carreira pela política, pois não o movem o poder e o dinheiro, ao político, sim.
Nós professores (e nos orgulhamos de o ser) não temos essa vaidade. Apenas temos a vontade de produzir conhecimento (através da pesquisa e do trabalho científico) e de transmiti-lo, pois nosso agir é em função da indissociabilidade do ensino e da pesquisa.
Assim como do cadáver de um cão na estrada, salva-se, ao menos, a brancura dos dentes, também da fala do presidente algo positivo há de se aproveitar. Revelou pela primeira vez sua con-cepção de universidade: uma instituição formada de meros ministradores de aula, que ele chama de professores.
Fora da universidade é que devem alocar-se os pequenos grupos de excelência para se dedicarem à pesquisa e gozarem do status de cientistas.
Revelação feita sob o guante do rancor, nem por isso o exime de ter perdido oportuna ocasião de ficar calado. Não foi em vão que o Au-tor Sagrado gravou no livro da Sabedoria: “Retém suas palavras o que possui o conhecimento (...) Até o tolo quando se cala será reputado por sá-bio” (Provérbios, 17: 27,28).