despir-se pra que o frio maltrate o corpo
ferir-se pra que o sangue escoe como água
deixar-se ao léu, sentindo na alma a solidão,
não parecem provas de lucidez, mas de loucura...
pensando em conquistar o intocável criei meu próprio abismo
preparei as armadilhas das quais fugir parecia impossível
e longe dessa prisão emocional lamento
por saber que ao alcance das mãos estavam todas as coisas
menos o coração da mulher cuja beleza me iludiu
como se iludem os olhos com a formosura...
e por que o não ser belo pôde afastá-la de mim?
será que o amor, uma paixão fulminante, são privilégios dos belos?
houve caso de amor à primeira vista entre pessoas não belas?
é superficial o amor, sem dúvida, nesses termos,
contudo, quem no mundo não alimenta os olhos com a aparência das coisas?
não é natural que as espécies se congreguem por suas afinidades?
pois bem, como eu mudaria a natureza humana?
resta-me o consolo de saber que nem sempre o que é lógico prevalece
talvez um dia os amores prescindam da beleza física
aí teremos a chance de ver a razão soberanamente cuidar dos destinos dos corações...