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Erotico-->43. REDENÇÃO -- 30/08/2002 - 06:41 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Haveria Jesualdo de querer ficar sozinho, se soubesse de toda a assistência que vinha recebendo? Teria coragem de arrostar a sua sina, conhecendo os mistérios da vida e da morte dos seres humanos?

O plano espiritual não lhe perguntou. Após lhe dar condições de se enfronhar no mundo do espiritualismo cristão revelado por Kardec e lhe tendo propiciado meios de se entrosar com espíritas convictos, a ponto de lhe dar ao convívio pessoas verdadeiramente interessadas em seu desenvolvimento, iria retirar-lhe o apoio diuturno de que se vira apaniguado. Era preciso atribuir-lhe os créditos integrais de sua obra. O tempo da assistência passara.

No etéreo, durante profícua noite de repouso material, deu-se a liberação da memória, de sorte que lhe foi possível reconhecer cada ser com quem lidara nos últimos tempos. Chamou Rosaura de Josineida e viu em Nepomuceno não só o pai do último encarne como ainda o desafeto do último milênio. Na verdade, não sabia o que pensar. Reconheceu em Virgílio a terceira pessoa com quem Rosaura deixara para trás os dois pretendentes e inquiriu do pai a razão de estarem todos unidos fraternalmente.

— Meu filho — disse-lhe o velho senhor —, há bem pouco tempo surpreendi-me com a descoberta dessa verdade. Josineida havia intuído o grau de vinculação afetiva que os unira em anterior encarne, mas não soube definir o nível do relacionamento existente dentro do grupo. Eu temia que houvesse algo entre os dois antes de ter percebido que Virgílio fora, para a última encarnação, com a missão de encaminhar os amigos para o estudo e a prática da verdade espiritual, através da aplicação das normas evangélicas preceituadas por Jesus e difundidas pelo centro espírita. No etéreo, meu filho, o ódio é mais acendrado que na Terra, mas o amor se amalgama em pureza e em virtudes, de sorte que é capaz de superar o vil egoísmo de quem se pretenda superior aos demais. A lei do "amai-vos uns aos outros" se cumpre em sua integridade, na expectativa de que todos possamos um dia amar a Deus sobre todas as coisas. Eis aí sua mãe, sua amiga, sua irmã. Em promessa solene, prometemos uns aos outros novo encarne regenerador. Quem será o filho, quem será a mãe ou o pai? Isso pouca importância terá. O importante será o progresso que advirá do muito de amor que conseguirmos fazer crescer em nossos seres. Você terá, entretanto, pela frente, no presente encarne, muitas tribulações e se verá sujeito à força de destino adverso, pois a vida cobrará o preço das desilusões que você disseminou e que lhe repercutirão profundamente no coração. Mas, para isso, deverá compenetrar-se de que Deus não exigirá de ninguém que carregue maior fardo do que seja capaz. Você estará sozinho, mas, a partir de agora, todas as decisões terão a marca indelével de sua personalidade. Faça por se recordar dos ensinamentos cristãos. Deus o abençoe!

— Será, pai — meu amigo —, que não poderei contar com qualquer proteção?

Adiantando-se, Ângela revelou-se:

— Meu querido, eis-me aqui como protetora e amiga. A mim, me foi dado o privilégio de acompanhá-lo até o final da jornada. Desde cedo, empenhei-me pela sua recuperação e hoje vejo os esforços coroados de êxito. Se obterei sucesso em meu novo mister, só de nós dois irá depender.; no entanto, a felicidade que sinto hoje basta para saber que todos estamos sob o manto protetor do Pai. Os amigos não nos faltarão, sempre que houver obra superior às minhas forças a realizar-se, mas acredito em que, com a ajuda de Renata, poderemos cumprir as provas de nossas existências, com a mente e o coração forjados no fogo candente do sacrifício de Jesus. Vá na paz do Senhor!

Antes de descer à densidade corpórea, Jesualdo fez questão de ajoelhar-se perante Marcos e família, para pedir-lhes perdão pelos males que havia feito. Lágrimas de muita dor surtiam-lhe dos olhos, a misturarem-se com aquelas vertidas pela felicidade dos entes queridos.

Aos pais e a Virgílio, prometeu vir juntar-se um dia, para prosseguirem na luta pelo bem da humanidade.

Como derradeira informação, desejou saber quem se encarnara como filhos queridos. Foi-lhes interdito, porém, dizer que se tratava dos dois mais ferozes adversários, aqueles mesmos que um dia o acompanharam na transformação de Alfredo em Jesualdo, mas garantiram-lhe que eram seres desejosos de sentir no pai o afeto que um dia lhes faltou. Quanto aos filhos dos tempos do desvario, parecia-lhe óbvio tratarem-se de inimigos antigos. No que respeitava a eles, que se precavessem, pois haveria de se promover o bem onde só houvera mal e ódio.



Naquela manhã, Jesualdo acordou disposto a confessar-se a Renata. Parecia-lhe que a vida iria reservar-lhes surpresas desagradáveis, de modo que a informação do passado era de rigor, para que pudessem circunscrever as forças da malignidade de que estava cercado em ambos os planos da realidade.

Para surpresa sua, Renata não demonstrou qualquer emoção quando a pôs a par da verdade da vida pregressa. É que, conforme lhe deu a conhecer, fora advertida mediunicamente de que o marido necessitava de amparo pelo muito de maldades que havia praticado. Não sabia que tal passado era tão recente, mas não temia enfrentar adversários, estando com a consciência tranqüila pelo bem que praticava.

— Meu amor, que mais se pode tirar de nós além da vida de nossos filhos? Mesmo eles estão sob o amparo de Deus, de modo que o destino, por mais funesto possa vir a ser, só nos dará a oportunidade de crescermos em amor. Façamos o bem e oremos pelos inimigos. Um dia, todos estaremos juntos no regaço do Senhor.

Jesualdo não poderia esperar da vida ninguém com maior poder de compreensão. Ambos deliberaram deixar para trás as lembranças dos crimes, de forma que cada ser vivente passou a representar-lhes alguém a conquistar para o círculo da benquerença. Tudo que fora conseguido através das vias criminosas nada poderia significar além de algo a que se deveria consignar puro valor material. Não se visse na piscina, por exemplo, o sangue dos irmãos assassinados nas noites de terror da guerrilha urbana. Não se sentisse na fazenda a presença fantasmagórica dos que perderam a vida alijados da pureza em virtude das drogas. Não se atribuísse às propriedades o dom de representar a dor e o sofrimento dos que se viram espoliados das posses. Isso seria pura imersão na loucura que findara. Não se estancaria a voz da consciência com o retorno às vítimas dos bens que lhes foram subtraídos. Preciso seria a reconciliação pelo amor, conforme a determinação cristã. E essa conquista é que se lhes constituiria no verdadeiro suplício da vida. Que se preparassem, pois, para o duro jornadear da aquisição das virtudes. Aos que, estimulados pelo espírito de vingança, viessem cobrar-lhes o seu preço, estenderiam os braços e os acalentariam no sofrimento, até que viessem a compreender que Deus é Pai e que sua misericórdia agasalha todas as criaturas. Se esse ideal do amor cristão lhes pudesse embasar todas as atitudes, não haveria derrota possível. Estavam juntos naquela luta.



Numa bela tarde de verão, Carlos chegava com toda a família para o reencontro do amor. Desde algum tempo, conhecia a verdadeira identidade de Jesualdo, de modo que o abraço que se deram foi sem estremecimentos e repulsas. Estavam aptos para a confraternização no Cristo.

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