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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->SPARTACUS: obra-prima de Stanley Kubrick restaurada -- 09/09/2002 - 03:53 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SPARTACUS, o filme que Stanley Kubrick realizou em 1960, foi primorosamente recuperado a partir das várias cópias localizadas pelo mundo todo. Restaurado, o filme foi relançado nos cinemas no ano 2000, para comemorar os 40 anos de seu lançamento. Na versão agora disponível em DVD, o filme ganha a mesma qualidade técnica dos lançamentos mais recentes e, é claro, tem algo que grande parte dos lançamentos mais recentes não têm, qualidade artística.

Dia desses revi em DVD um clássico da comédia italiana, "O incrível exército de Brancaleone". A qualidade técnica é tão ruim, que quase não vale a pena o esforço. É um filme tão extraordinário, com a atuação brilhante de Victorio Gassman, que demandaria um trabalho de recuperação como o que foi feito com "Spartacus".

Em "Spartacus", muitas cenas foram recuperadas e aprimoradas com o luxuoso auxílio da tecnologia computacional mais avançada. Agora podem ser vistas algumas cenas que foram cortadas da versão que ganhou 4 premiações da Academia no ano de seu lançamento. São cenas em que se travam diálogos, cheios de subentendidos (por exemplo, um diálogo mui capcioso sobre a difícil escolha entre comer ostras ou escargots, uma questão de gosto). Em pauta, as preferências homossexuais dos protagonistas, mais precisamente, Crassus passa uma cantada homérica no poeta e músico Antoninus.

O grande romance não acontece entre Spartacus (Kirk Douglas) e Varínia (Jean Simmons), que até se amaram bastante e geraram um filho, mas entre Spartacus e Antoninus (Tony Curtis), que também era desejado por Crassus (Lawrence Olivier). Aí o bicho pega mesmo. É por isso que Crassus quer se vingar de Spartacus. A cuspida que Spartacus lhe dá na cara é antológica. E o empurra-empurra entre Spartacus e Antoninus para ver quem vai se sacrificar pelo outro é como a dos melhores romances heterossexuais.

Uma produção que ainda não foi superada, envolvendo milhares de figurantes. Destaques: as cenas de luta entre os gladiadores, as tomadas das cenas de batalha, os cenários grandiosos. Filme de longuíssima duração (mais de três horas), "Spartacus" surgiu num contexto em que os filmes sobre o império romano e os grandes romances do cristianismo estavam em alta. É dessa mesma safra, por exemplo, "O manto sagrado".

Jean Simmons é de uma beleza impressionante. Como no próprio filme alguém diz, fica difícil pensar que seja uma escrava.

Sir Lawrence Olivier dispensa comentários. John Gavin, que na vida real seguiu depois a carreira diplomática, interpreta Julius Caesar. Peter Ustinov continua imbatível como ator que faz sempre o mesmo papel. Seus descendentes cinematográficos andam cada vez mais cansativos. Robin Willians, por exemplo, parece ter conquistado unanimidade em termos de rejeição.

Na trilha sonora, a novidade fica por conta da abertura orquestral, para ser ouvida com a tela escura, sem imagens. E o mesmo se repete no intervalo e ao final.

O roteiro foi escrito por Dalton Trumbo ("Johnny vai à guerra"), mas dizem que também entrou o dedo sempre acirrador de polêmicas do escritor Gore Vidal. Dele teria vindo a idéia de incluir o homossexualismo explícito nessa história de nobres lúbricos e escravos musculosos.

O filme só tem um furo. Aliás, um furo enorme. No queixo do produtor e ator Kirk Douglas, ele que, em meio à sua vasta produção, também, para o bem e para o mal, nos deu o Michael.

Sobre Tony Curtis, o pai de Jamie Lee, sempre disseram que ele era. Mas eu não imaginava que fosse tanto. Só posso concluir que, nos meus verdes anos, eu não enxergava direito. Muita coisa eu absolutamente não via. E esse é um dos encantos de rever todas essas películas com os olhos de hoje em dia.

Depois de ter visto quase todos os filmes de Stanley Kubrick, eu tinha na minha cabeça que "Spartacus" ficaria sendo algo não muito típico, ou talvez aquém do que esse inigualável cineasta nos legou nas três últimas décadas do século XX. Imaginava um começo de carreira cheio de concessões ao gosto da época, à moda dos filmes sobre império romano com todos os seus adereços. Enganei-me. Redondamente. "Spartacus" é Stanley Kubrick cuspido e escarrado, num momento esplendoroso, aos 31 anos de idade, poderosamente dono do seu talento no uso da máquina de fazer sonhos.

Em termos do debate ideológico, a leitura marxista da revolta dos escravos contra o poder tirânico de Roma já prenunciava as inquietações que tomariam as ruas ao final dessa década. Confrontar-se com as idéias marxistas e com o tema do homossexualismo não é para qualquer um. Menos ainda numa produção desse porte.

Alguns anos antes, Kubrick já havia encarado a hipocrisia do militarismo, a exploração do mito do herói em "Glória feita de sangue".

Se tivesse parado em "Spartacus", Stanley Kubrick já seria uma lenda. Mas ele fez o que fez, e todo cinéfilo que se preza sabe muito bem: "Dr. Fantástico: ou Como aprendi a amar a bomba", "Lolita", "2001: uma odisséia no espaço", "Laranja Mecânica", "O iluminado", "Barry Lindon", "Nascido para matar" e, por último, "De olhos bem fechados".

"Inteligência Artificial", um filme construído ao longo de 20 anos, chegou afinal às telas pelas mãos de Steven Spielberg, que o próprio Kubrick designara desde o início para assumir a direção. Por muito tempo, as pessoas debaterão se esse filme seria o mesmo se realizado pelo diretor de "Spartacus".

[Arrisco entregar ao leitor estas minhas anotações um tanto a esmo. É possível que haja erros ou lacunas nas informações que veiculo. Muitos dos comentários sobre "Spartacus" são passíveis de crítica e revisão. Não pretendia senão documentar esse reencontro emocionante com o épico grandioso de Stanley Kubrick.]
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