Dito vulgar panfleto
De versos nados no chão
Com imposta rimação
Sobre motejo faceto,
Qualquer inábil soneto
Ao cordel em primazia
Não reconhece mestria
Nem admite direitos
Por, entre outros defeitos,
Ser pobre de poesia.
Assim se regista em dia
No régio dicionário
Que considera ordinário
E de estulta mania
O versejo que porfia
Em redondilha-maior
Dar de si mais e melhor
À expressão popular
Que põe a alma a cantar
Com prazenteiro suor.
Sob opinião de cor
E miolo absoleto
Os vesgos de intelecto
Por consideração menor
Preferem em derredor
Do bom gosto de rimar
O snobismo aspar
Da verborrente cassete
Que degrada e compromete
A arte de versejar.
Ignora-se que rimar
Obriga à sábia procura
Da palavra que assegura
A música de embalar
E dá o verso a cantar
Em aroma delicado
Para o soprar endeusado
No ventre do sentimento
Que opera o nascimento
Do poema iluminado.
O cordel é um achado
Que os incautos vulgarizam,
Apoucam e escravizam
Ao humilhante passado,
Submetido ao recado
Da mesquinhez pessoal
Que por insulto banal
Só ofende a poesia,
Deusa mor da harmonia
E incenso celestial.
Poesia... Excelso sal
De quem a sente e traduz
E com ela dá à luz
O vigor fundamental
Que alcança triunfal
Por um humilde cordel
O poema que à pele
Dá o intenso prazer
De amar e de viver
Para morrer dentro dele!