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Artigos-->O Presidente bossa-nova (o pica-doce preferido das donzelas) -- 12/04/2006 - 09:39 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Presidente bossa-nova



por Raymundo Negrão Torres (*) em 07 de abril de 2006



Resumo: Na realidade, JK foi o empreendedor imprevidente da parábola bíblica que construiu a casa sobre a areia.



© 2006 MidiaSemMascara.org





O seriado da TV Globo fez surgir novas manifestações e escritos com apreciações e reminiscências sobre JK. Muito já se escrevera sobre o assunto. O próprio Juscelino deixou dois depoimentos sobre si mesmo nos livros “Meu caminho para Brasília” e “Porque construí Brasília”. Todavia, existem outros dois livros que falam de Juscelino e que se tivessem sido consultados por Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, o seriado não teria apresentado tantos aspectos da vida do ex-presidente falseados ou incorretos. Refiro-me ao livro de memórias de Roberto Campos, no qual os anos JK ocupam um extenso capítulo de quase duzentas páginas, e ao livro que seu chefe da Casa Civil, o então senador Luís Viana Filho, escreveu sobre o governo Castello Branco.





Ao falar sobre figuras do passado, sempre se corre o risco de ficar nos louvores gerais e totais que, normalmente, acompanham as biografias dos entronizados no altar da reverência nacional ou na apresentação de fatos muitas vezes sem base histórica. Mas o respeito à verdade histórica – que nem sempre é o objetivo de quem escreve para a televisão e para obter bons índices de audiência - exige que se use de certo equilíbrio e prudência na apreciação dos homens públicos. JK foi realmente “um homem predestinado, carismático, sonhador irresistível, capaz de incendiar o entusiasmo popular pela mobilização psicológica”, como o retratou Roberto Campos. Mas isto não é tudo e cumpre sempre separar a realidade do mito.





O seriado mostra bem a saga do menino pobre de Diamantina, órfão de pai muito cedo, que logo veria suas ambições crescerem graças à fibra de sua mãe – dona Júlia - que o fez médico. Deputado federal, perdeu seu mandato com o golpe getulista de 10 de novembro de 1937, mas a nova situação política, mantendo no governo de Minas seu grande amigo, o ativo e folclórico Benedito Valadares, deu-lhe a oportunidade de ser prefeito de Belo Horizonte, início de uma bem sucedida carreira que o levaria à presidência da República como celebrado tocador de obras, embora mais empreiteiro que estadista. No dizer de Gustavo Capanema, ao ser eleito presidente, Juscelino tornou-se “o maior prefeito do Brasil”.





Escolhido candidato pelo Partido Social Democrático, em maio de 1955, JK restabeleceu o pacto populista PSD-PTB, criado por Getulio Vargas dez anos antes, e pôde contar para a elaboração de seu programa de governo com uma invejável retaguarda de tecnocratas mobilizados por seu amigo Lucas Lopes. Octávio Bulhões, Roberto Campos, Cleanto de Paiva Leite, Celso Furtado eram algumas das estrelas dessa constelação que, utilizando o cabedal herdado da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, montou o Plano de Metas, um programa de 30 metas setoriais, mas que exigiriam uma austera programação monetária e fiscal para mobilizar recursos e uma reforma cambial realista. A construção de Brasília não era uma dessas metas. A chamada “meta-símbolo” surgiria depois, durante a campanha eleitoral, como bem mostra o seriado.





Mas, Juscelino não acreditava muito em minúcias tecnocráticas. Seu credo o fazia mais um adepto do “desenvolvimentismo com inflação” para atingir os seus “50 anos em 5”, mesmo que às caneladas ou, como diria Glycon de Paiva, com “pé na tabua, fé em Deus e improvisação”. E a primeira mostra disso viria ao colocar no ministério da Fazenda um político jejuno em economia, mas perito em conchavos, seu amigo de infância, José Maria Alkimin, em lugar do competente Lucas Lopes, o artífice da CEMIG, que fora um dos pilares de seu famoso binômio Energia e Transporte no governo de Minas Gerais, e que o credenciara a postular a cadeira presidencial. Lucas Lopes só seria chamado ao posto em julho de 1958, quando a execução destrambelhada do programa de Metas já acelerara a inflação e levara o país ao descalabro cambial. Mas o austero programa apresentado – Plano de Estabilização Monetária - e que poderia recuperar parte do tempo perdido, entrava em choque com a construção de Brasília. E JK optou por esta última. A dramática situação cambial exigiria buscar no exterior um “bode expiatório” e a ruptura com o FMI foi a solução populista aconselhada pelos “técnicos nacionalistas”. Ao anunciar publicamente a ruptura, JK tinha a seu lado no palanque ninguém menos que Luís Carlos Prestes. Lucas Lopes sofre um enfarte e é substituído por Sebastião Paes de Almeida, o Tião Medonho, um empresário mineiro, acomodatício e dócil aos desejos do presidente, mas incapaz de entender a gravidade dos problemas e muito menos de lhes dar solução. As dificuldades cambiais passam a ser adiadas pela venda de promessas futuras de câmbio que iriam constituir a herança maldita que explodiria no governo Jânio Quadros, sendo uma das “forças ocultas” que ajudariam o descabelado presidente a pretender poderes especiais, razão essencial da farsa mal sucedida da renúncia que chocou a Nação.





Na realidade, JK foi o empreendedor imprevidente da parábola bíblica que construiu a casa sobre a areia e mesmo sua meta-símbolo só se manteve de pé por ter tido o apoio dos governantes do ciclo autoritário que a consolidaram por julgarem-na – como bem expressou o presidente Médici – “um erro tático, mas um grande acerto estratégico”. A estória de sua cassação – atribuída no seriado unicamente a Castello – foi obra da chamada “linha dura”, a mesma que tentou impedir sua posse, agora endossada e imposta por Costa e Silva e aplaudida por Carlos Lacerda que queria ver afastado um concorrente à Presidência, com candidatura já lançada desde março de 1964. Castello fez tudo para evitá-la, pois precisava dos votos do PDS – representado no governo pelo vice José Maria Alkimin, amigo de JK – partido que apoiou no Congresso todas as iniciativas do governo com o trabalho de homens como Ulisses Guimarães e que depois tornar-se-iam adversários do regime. As agruras que assinalaram os últimos tempos de Juscelino foram devidas a ter afrontado seus inimigos com seu precipitado e festivo retorno logo após a vitória de seus aliados – Negrão de Lima e Israel Pinheiro – nas eleições de outubro de 1965, a duras penas mantidas e realizadas pelo empenho de Castello Branco em conservar abertos os canais de comunicação democrática, e depois sua adesão à Frente Ampla com que ele, João Goulart e seu arqui-inimigo Lacerda pareciam sonhar em restabelecer a situação anterior a 1964.





Para resumir, vale a pena reproduzir o que escreveu Roberto Campos sobre o ex-presidente, à página 376 do citado livro:





“Tinha visto o melhor e o pior de Juscelino. Do lado melhor, seu espírito generoso, sua capacidade magnética de mobilização, seu dinamismo político e destreza na administração de conflitos. Do lado pior, seu aventureirismo financeiro, sua propensão para deslocar a culpa para inimigos externos, sua capacidade, quando isto lhe dava rendimento político, de converter o leite da ternura humana numa intoxicação mercurial do ciúme do poder”.





Sem esquecer o marido dado às inúmeras aventuras extra-conjugais, representadas no seriado pelo condescendente artifício da “amante-simbolo”.





(*) General-de-Divisão Reformado do Exército Brasileiro, foi instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército; exerceu, como oficial superior, quase todas as funções de Estado-Maior, especialmente as ligadas às áreas de Informações e Operações. Dentre suas obras destaca-se "O fascínio dos Anos de Chumbo ", publicado em 2004.







Obs.: Na novela histórica da TV Globo, com a criação da "amante-símbolo", JK tornou-se um "amante genérico", uma abordagem talvez única na literatura mundial. As amantes de JK foram diversas, os teores sexuais variados, porém o princípio ativo foi sempre o mesmo: o macho latino-americano, o amante fogoso das Alterosas, o pica-doce preferido de donzelas desamparadas de antanho... (Félix Maier)









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