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Erotico-->37. PREOCUPAÇÕES ÍNTIMAS -- 24/08/2002 - 07:41 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O que teria levado Alfredo a tomar tão radical decisão? O período que mediou a leitura da carta de Ângela até a instalação na fazenda daria assunto para se preencher todo um livro. Tentemos resumir.

Inicialmente, preocupou-se com o destino da organização criminosa. Achava que tudo que fizera fora feito com muito empenho e significava a realização de sua vida. Entretanto, desde logo lhe foi ponderado pela consciência que o preço a ser pago para a manutenção seria cobrado a peso de muitas vidas. Sabia que as forças inimigas vinham com ímpeto para derrubá-lo, de modo que não se sentia estimulado para o revide doloroso. Deixando a responsabilidade em outras mãos, parecia-lhe diluir a carga da malignidade necessária para o suporte dos acontecimentos.

As primeiras mortes, contudo, não lhe deram sossego. O noticiário dos jornais televisivos começaram a mostrar os corpos das crianças e das mulheres sacrificadas e a visão de tanto sangue eletrônico começava a repugnar.

Houve tempo em que estivera presente em cenários de execuções, onde pessoas foram decapitadas à sua frente. Ele mesmo deu tiros para evitar o sofrimento de alguns feridos, por ato de dantesca misericórdia. Não se arrependia daquilo tudo nem sentia tremores ao recordar-se. No entanto, a visão de seres inocentes massacrados não era o que tinha em mira, agora que se preocupava em descobrir o que se passava por detrás do mistério da morte.

Não podia hesitar, porém, caso contrário daria aos comandados a impressão de fraqueza. Por isso, punha-se à cabeça dos empreendimentos, sem, contudo, chefiar pessoalmente as ações de represália.

Por volta de um mês depois de iniciada a conquista de seus territórios pela quadrilha inimiga, já se lhe configurava claramente no espírito que não conseguiria manter o pulso firme nas decisões críticas que envolvessem extermínios. Foi aí que buscou compreender o que realmente se passava com sua sensibilidade.

Os livros doados pelo irmão tiveram leitura rápida. O “Evangelho” não foi bem recebido, considerado que foi extremamente desvinculado da realidade moral com que convivia. Isso de respeitar os direitos dos outros, de amar o próximo, de viver com Jesus no coração, parecia-lhe inócuo. Dizia que o homem é o que é em função de seu aparato físico e intelectual, herdado da família e aplicado ao meio social e natural em que se vive. Se existiu espírito desejoso de ver todos salvos para o Senhor, é porque não conviveu com os dramas pungentes das drogas e das armas. Sentia em seus comentários a falta de melhores noções de história, pois lera que o povo judeu estava sob a dominação romana. Mas, mesmo assim, não concebia nada com a força de uma rajada de metralhadora a ameaçar quem quer que seja. Para abafar uma revolta, bastara executar pela cruz um único insurrecto.

Mas “O Livro dos Espíritos” continha perguntas e respostas. Percorreu o índice e verificou que a distribuição dos capítulos não favorecia a sua ordem de prioridade. Ciente, contudo, dos temas que mais o afetavam, começou a leitura pelas partes que lhe pareciam mais importantes. Não quis saber a respeito de Deus, de espíritos ou dos dramas do encarne ou do desencarne. Foi logo atrás dos temas da possibilidade de ligação entre os planos. Quando soube que as respostas tinham sido dadas pelos espíritos, voltou à introdução para avaliar a maneira pela qual foram obtidas. Cotejou com a carta redigida pela mãe e deu como de boa fonte tudo o que lá se continha. Passou por cima do fato mediúnico para compreender, refutar ou acatar todos os argumentos. Valia-lhe a leitura pelo que representasse de positivo.

Se fôssemos avaliar as análises e críticas a que submeteu cada tópico, poderíamos elaborar extensa edição comentada à luz do materialismo criminoso. Mas havia sementes bem fincadas naquele solo árido, sendo estimuladas pelas copiosas lágrimas de amor de quantos acompanhavam o difícil soerguimento.

Dadas por encerradas as leituras, ficou claro na mente de Alfredo que nem tudo que se faz aqui na Terra, aqui mesmo se paga. Não havia inferno de penas eternais, mas havia cavernosas regiões umbráticas nas consciências pejadas de culpas. E para todos os crimes havia remédio. E que Deus era Pai para todos, independentemente de cor, credo, raça, posição social. O que não chegava a entender com perfeição era a justiça divina, a propiciar a cada qual a possibilidade de errar à vontade, por meio do que se denominava de livre-arbítrio. Se Deus amava os filhos, por que deixava tão à mão deles o seu próprio destino?

Mas Alfredo estava disposto a não sucumbir com a organização, nem às mãos dos adversários, nem abatido por policiais a serviço de outras quadrilhas. Sabia bem que não teria guarida na cadeia, onde a chefia estava nas mãos de declarados inimigos de sua gangue. Não deixaria a vida sem a exata compreensão do que esperar depois da morte.

Sendo assim, após dois meses de indecisões, de cálculos, de análises pessoais e do estado dos negócios, principiou a providenciar a sua "morte". Não lhe foi difícil simular a queda do helicóptero no oceano, momento em que transportava cadáver previamente preparado para que fosse impossível o reconhecimento. Trabalho de profissional, até se implantaram várias coroas retiradas de sua boca, para o caso de eventual resgate, após terem os peixes realizado algum trabalho de descarne.

Embora tenha providenciado seu desaparecimento com a ajuda de diversos comparsas, também eclipsados para não sofrerem os embates da derrota, ao se apresentar para a posse da fazenda, com novo rosto e identidade, nenhum deles sabia para onde se deslocara. Por prevenção, mantivera três projetos de fuga, tendo colocado em ação o que era do conhecimento do ajudante assassinado. Nem os dois auxiliares diretos ficaram sabendo do seu destino.

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