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Contos-->A LIBERDADE DE BRASILIANO -- 28/03/2002 - 15:16 (medeiros braga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Medeiros Braga

Ninguém duvidava do extraordinário espírito de brasilidade denotado nas manifestações de Cecílio Brasiliano. Para ele o Brasil era a melhor nação para se viver. Segundo Brasiliano, como era mais conhecido, o Brasil oferecia as condições ideais de liberdade e as iguais oportunidades para aqueles que desejavam vencer na vida. Para fortalecer a sua defesa sobre isso, ele estava sempre recitando os patrióticos versos do poeta Olavo Bilac onde afirmam que o Brasil é um país que “jamais negou a quem trabalha/ o pão que mata a fome e o teto que agasalha.”
Porém, Cecílio Brasiliano era um ignorante político. Não aquele ignorante político descrito por Bertholt Brecht, que detestava a política, nem mesmo o Jeca Tatu criado por Monteiro Lobato onde, de política, a única coisa que sabia fazer era votar no governo. Cecílio Brasiliano defendia os políticos que estavam no poder governando o país, embora fizesse oposição a nível de estado. No entanto, o seu fraco era a defesa da pátria. Infeliz de quem a criticasse na sua presença. E como já foi dito que “ninguém vence um ignorante em uma discussão”, a verdade é que seus adversários quase sempre ficavam com os nervos à flor da pele. Nem mesmo os comentaristas políticos conseguiam bate-lo.
As décadas foram se passando e com elas aquele estágio de bonança que Brasiliano fazia questão de propagar. Aumentaram a dívida externa, o desemprego e a concentração de renda, mas, Brasiliano continuava a afirmar que aqui era o país da liberdade e da oportunidade para todos. Subiam os índices do êxodo rural e, consequentemente, da marginalidade urbana e ele insistia em pintar a aquarela de um país fictício. Ele tinha a visão perfeita, mas, só conseguia enxergar por um dos olhos. O Brasil entrava em crise com o crescimento da dívida externa e interna e com o desfavorecimento da balança comercial e Brasiliano permanecia preso ao paraíso criado por ele.
Quando ele não tinha como negar, nem mesmo defender alguns problemas de impacto, dizia, então, que aquilo era uma contingência do mundo moderno, da governabilidade, da globalização. Se o patrimônio nacional estava sendo surrupiado pelas multinacionais, com a privatização das estatais, dizia, pois, que era para otimizar a gestão pública, enxugar a administração, sanear as finanças. E tudo foi vendido e o país continuou com a sua quebradeira. O nível de educação despencou, os serviços de saúde pesssimizaram, a segurança ao cidadão se tornou mais ineficiente ante a ação dos bandidos.
Mas, Brasiliano continuou com o seu trabalho de defender a pátria e os seus dirigentes. Sobre o golpe militar que deixou as páginas da história manchadas pela arbitrariedade das prisões, tortura e assassinato, Brasiliano afirmava que aquilo fora necessário para salvar a democracia e a própria liberdade. Os governos militares endividaram o país, e as condições da população pioraram. E ele persistia em dizer que o Brasil estava no rumo certo.
Enquanto isso, e por conta disso, a marginalidade crescia a uma velocidade impressionante. Os assaltos, os roubos seguidos de morte e os sequestros multiplicaram-se. Eram poucos os brasileiros que já não teriam passado por algum vexame. O próprio defensor da liberdade, Cecílio Brasiliano, fora assaltado em pleno dia e em uma avenida bastante movimentada. Sair de casa a certa hora ou caminhar em determinadas ruas se constituira em verdadeiro risco de vida. Do ir e do vir só se tinha a certeza da efetivação do primeiro. Os assaltos em plena avenida, em ônibus, casas comerciais e (imaginem) em delegacias policiais tornaram-se mais freqüentes. Deles, nem policiais fardados e armados escapavam. Chegou-se a uma situação que até assalariados estão sendo seqüestrados e extorquidos nos seus saldos de cartão de crédito.
A reação da população tem sido de inibição ao crime, com medidas de proteção como a instalação de grades de ferro nas janelas da casa, alarmes eletrônicos e cães de guarda. Até mesmo Brasiliano teve que recorrer a esses paliativos. Também, tendo já sofrido dois assaltos e uma tentativa de arrombamento, não deixa de ser uma iniciativa sensata. E certa vez, olhando pela flerta de uma janela gradeada um bando de assaltantes que rondavam a sua casa, Brasiliano chegou a fazer uma profunda reflexão:
-Como eu estava enganado! Nós não temos nenhuma liberdade. Liberdade mesmo têm esses ladrões!... enquanto estão livres lá fora, eu me encontro preso nessa casa toda gradeada de ferro sem o direito de sair!

FIM
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