Nas tardes serenas de nossa meninice brumadense, Celinho e Onésimo de um lado,
Bebel, Beu e eu do outro - com a cerca de tela bem ao meio - agachados, e a
lamber u`a mãozada de açúcar, resolvíamos os problemas do mundo da mais doce
forma possível. Enquanto isso, Jotaká, sem nos dar ouvidos, dava início ao
desbravamento do planalto central.
Das aventuras narradas, e sorvidas, uma que não passava bem pela nossa goela
açucarada era aquela daqueles meninos do Vicente e da Lia - os ditos Onésimo e
Celinho - terem viajado tão longe de automóvel pra ver a cachoeira de Paulo
Afonso. Até chegar lá, tudo bem, mas terem passado debaixo da cachoeira, e até
tirado retrato - ainda não revelado - isso era de dar água na nossa boca.
Mas se o mundo acabasse, e nos púnhamos todos de acordo, íamos permanecer
em nossas camas rodeados de uma montanha de bolos bem gostosos e de uns
baldes de água para matarmos a nossa sede. E era o que nos bastava. Nem pro
açúcar de cada dia que nos sustentava os sonhos, ou para as cáries que ele fazia
na realidade, dávamos pelota.
Hélio Lúcio, o irmão maior de Celinho e de Onésimo não participava de nossas
importantes tratativas. Vivia num outro mundo, vagando pelo quintal, falando uma
linguagem incompreensível
de que apenas uma palavra podíamos captar, sem contudo entender-lhe o
significado: butala, que repetia indefinidamente.
Terminados nossos papos - e o açúcar - era hora de nos recolhermos, e com
pressa, às obrigações domésticas que nos esperavam. Pois não costumavam
esperar mais do que o retorno dos pais do trabalho na `Fapa`. A dúvida, contudo,
me perseguia: como iria o Hélio Lúcio ouvir seus irmãos para ele também escapar
do fim-do-mundo?
Teria a mesma sorte de Jotaká? |