Se bem raciocinarmos sobre as notícias que ultimamente têm inundado jornais e canais televisivos do mundo sobre as actividades da CIA americana em territórios estrangeiros, naturalmente se nos suscitará que algo, assaz semelhante a gato enterrado com rabo de fora, paira a entrelaçar tão estranhas e absurdas ocorrências.
Eu, por exemplo, não tenho dúvida que a CIA, actuando como muito bem lhe apraz, tem células de espionagem implantadas em todos os países com quem a administração americana procura andar de braço dado, embora os respectivos governos, claro, desmintam que não existe qualquer convénio nesse sentido.
Semelhante estratégia, em ponto final, visa tão-só, com mais ou menos tempo, transformar a sigla EUA em EUM, ou seja - reparem bem - "E UM" só mundo deverá existir no futuro, objectivo a que Hitler, se fosse vivo, de imediato aderiria, porque deveras é um sonho muito mais gordo do que o seu.
Sequer vale a pena citar o estendal de efeitos contraditórios de um país que, proclamando-se primordial arauto da democracia e dos direitos humanos no mundo civilizado, comanda e acciona, ora em evidência nítida aos olhos de toda a gente, ora em sub reptícia dinâmica que vai eclodindo periodicamente, como é agora o caso da detenção de supostos terroristas, sua transferência para prisões secretas, sua tortura e - quem o sabe? - sua eliminação sem mais.
As preocupações e investigações que de momento estão sobre a mesa, procurando, através de famigerados inquéritos, saber se tal prática está ou não em curso, irão sem dúvida alguma parar ao habitual caixote do lixo do tempo. Diz-se que a CIA sequer dorme quando está a dormir.
Entretanto, interrogo: serão estas peripécias boas ou más para todos aqueles que não são cidadãos de nacionalidade americana? Isso?... Francamente, não sei, nem já provavelmente estarei cá para fruir ou padecer as consequências.
O que sei, sem teias de aranha a toldar-me a vista, é que os eleitores do EUA reelegeram um potencial assassino-indirecto para mais um mandato de guerra e morte sobre milhões de seres humanos e, em face de tamanha hediondez, nada me importa, que um dia destes, um tiro me atravesse a cabeça e eu nunca mais saiba que a morte existe.
Aprecio imenso os verde-rubros barretes de Vila Franca que os campinos mais enfiam na cabeça quando vão pegar o touro de caras e à unha. Não estou pois inclinado a trocar uma tão franca e significativa peça lusitana pelo capuz hodierno que aguarda a humanidade e que, com manteiga ou à força, está acobertando os miolos daqueles que só almejam um carrinho para andar às voltas e trincar pastilha elástica no banco traseiro. Pelo menos, desejo-lhes boa viagem e recomendo que nunca estacionem em locais ermos para soltar o pássaro: dá sempre mocho, coruja ou morcego.
António Torre da Guia |