A Rural do Zé do Raul era o caminho mais seguro e certo para Aparecida. Quantos
romeiros da Serrana Velha puderam realizar seu sonho de visitar e orar na Basílica da
Padroeira Negra, onde pregou um Padre Vítor.
Não chegava a ser um primor de desenho ou de conforto, aquele aparente caixotão,
mas ao menos era ligeira, mais que uma jardineira e mesmo levando um tiquinho
de gente de cada vez não se submetia à rigidez dos horários das rodoviárias de
pouco asseio e de tanta devassidão em seu meio, com caminhoneiros às pencas e às
encrencas.
E os devotos conheciam bem o Zé: homem da terra, filho do velho Raul e de dona
Tilita, merceeiro que se por um descuido um dia no peso ou no troco erraria, na
romaria tudo concertaria em meio às preces e indulgências, das mais várias às
plenárias. Pois o certo é que a Santa gostava do carinho que o povo lhe devotava e
bem recompensava. E mesmo quando a graça buscada não se conseguia, ao menos,
ninguém duvidava, a Santa intercedia. De noite e dia.
O tempo para a realização da romaria era mais ou menos o de uma viagem à lua. Com
menos holofotes ou fricotes. E nem pensar em decotes. O vestir discreto e respeitoso
era de rigor.
Tia Lia fez e bisou o feito. O cansaço da viagem foi leveza, transportada que foi
para aqueles domínios que além da razão é que vão. Ver, sentir, poder pagar uma
eventual promessa, agradecer por uma graça, quanta bem-aventurança! E os lugares
porque passou, tão distantes, tão distintos. Perdôes era uma de suas lembranças mais
renitentes. "Pois você não imagina que tem uma cidade chamada Perdôes!", e se ria
de plenos, arejados pulmões. Falava também da companhia, das matulas alheias, das
conversas travadas ao longo da jornada. Mas de sestros, ou gases, não falava nada. |