Mudei o meu computador velho de guerra de posição. O motivo oficial foi o reflexo da janela do banheiro no monitor. Na verdade, porém, o motivo foi outro. O único espaço livre e razoavelmente tranquilo da mansarda é aqui,
entre o quarto do Gabriel e o banheiro principal do andar de cima. Acontece que eu incomodava todo mundo. Minha cadeira prendia a porta que dá acesso ao quarto e ao banheiro. Você já atrapalhou o acesso a um banheiro? Pois em
caso negativo, saiba que é uma experiência terrível.
Portanto, extra-oficialmente mudei o micro de posição visando ganhar qualidade de vida e reduzir os xingos e pragas (além, é claro, de acabar com o reflexo da janela no monitor). De brinde e para minha surpresa, ganhei a visão da janela. Puxa, justo ela que incomodava tanto, agora permite que eu veja lá fora enquanto escrevo. A porta do banheiro precisa estar aberta, mas isso é o de menos. Vejo ramos da sibipiruna que tem na calçada de lá, algumas janelas do prédio vizinho e fios, muitos fios.
Esta é a primeira crónica escrita a partir da nova posição. Posso até me dar ao luxo de analisar o excesso de fios dependurados nos postes, enquanto o vento da tarde mexe os ramos da sibipiruna. Ouço Tony Bennet cantando Mel
Torme. Se você não os conhece, tudo bem, nem precisa se preocupar. Imagine um daqueles filmes romànticos dos anos 50. O clima em que estou é mais ou menos esse.
Enfim, acho que encontrei um novo lugar para viajar. Espero que os meus passeios em textos ajudem vocês a viajarem também. Viajar acompanhado é muito melhor. E ter a sua leitura é equivalente a olhar para a aeromoça em meio à turbulência e ela sorrir. Lembra Dick Farney. "Com essa flor a bordo, eu concordo então, é bobagem medo de avião".
