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Contos-->o 3º dia -- 19/03/2002 - 14:42 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A chuva me acordou no meio da noite. Pensava em Potira. Os fortes pingos no vidro da janela interromperam minhas meditações sobre o processo que se iniciara com aquele beijo. O sono fugiu e nada de proveitoso aconteceu naquela noite.

Pela manhã, as monótonas tarefas de um solteiro em nada contribuíram para que a aflição diminuísse e me desse condições de refletir serenamente sobre como me comportaria à tarde, sem saber como entender as atitudes contraditórias de Potira, um dia me recusando, em outro sendo receptiva e dócil, quando lhe toquei os lábios, retirando delicadamente, por duas vezes, um pouco de suor que ali se acumulara. Foram momentos mágicos, nos quais imaginei possível que sua relação com o namorado traidor tivesse chegado ao fim eu pudesse ocupar o espaço vazio no seu coração; silente, contudo, ela parecia lamentar o episódio, dando a entender que ficaria contente se tudo voltasse a ser como antes.

Estávamos irritados naquela tarde com a ausência do professor. Todos da sala fizemos apitaço, fomos à Reitoria, promessas foram feitas e não houve a última aula.

Chovia muito próximo das sete. Estava frio. Potira e eu nos dirigimos ao laboratório de informática, uma vez que ela queria saber sua colocação em um concurso público. Ficaríamos juntos e sozinhos? Um sonho...

Tudo trancado, nada funcionando; decepção dela, alegria minha, já que mais tempo teria pra ficar do seu lado. Quando saíamos do prédio não resisti, puxei-lhe pelo braço e beijei-a...no rosto! Silêncio constrangedor. Como fiz aquilo? Perguntei. “Por que ele fez isso?”, deve ter perguntado Potira. Por instantes sem nenhuma palavra caminhamos de volta para a sala, até que Potira falou:
“- Lembras que ontem te disse que toda vez que namorei um amigo e não deu certo, a relação de amizade acabou? Mas é sempre assim...Estou acostumada que se aproveitem da minha amizade...”

Aquelas palavras foram uma espada a cortar meu coração. Uma confusão mental imediatamente substituiu a euforia do beijo, a esperança de um minuto atrás, produzindo um desconforto humilhante, aumentado quando Potira encontrou um amigo e, deliberadamente, ignorou-me, ficando a conversar descontraidamente como se eu não estivesse presente, obrigando-me a fugir dali como um cachorro fétido escorraçado por estar incomodando.

O episódio foi o ponto culminante de minha decepção. Resolvi no dia seguinte acabar com tudo, ou melhor, reconhecer que minhas fantasias haviam produzido um resultado pífio, ridículo e constrangedor. Na verdade não havia nada de concreto, nenhuma evidência que me assegurasse qualquer possibilidade de Potira se apaixonar por mim. Não admitiria, portanto, rastejar suplicando um pouco do seu amor, como se ela fosse uma deusa a cujos pés eu devesse me ajoelhar e adorar sem nenhum resquício de auto-estima. Não seria um servo fiel de uma mulher indigna de minha servidão.

Essa foi a resolução mais firme de toda a minha vida. Esperava que o tempo diminuto entre um dia e outro não me fizesse esquecer dela.
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