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Cronicas-->A Primeira Vez -- 17/04/2000 - 23:01 (Marilene Caon pieruccini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A PRIMEIRA VEZ

Existem emoções e Emoções! Algumas acontecem, provocam um frenesi na alma e assim como chegaram, vão-se embora, esvaindo-se em gotas de saudade. Outras, chegam com mais calma, apanhando-nos meio desprevenidos; instalam-se em nosso coração e nunca mais desaparecem, transformando-se, com o tempo, em doces lembranças. Essas são aquelas que fazem com que a vida valha a pena de ser vivida.
Dessas emoções todas, a mais linda e terna, que em nós habita, é aquela da criança que fomos um dia, porque, pelo menos alguma vez, tivemos a capacidade de sonhar com um amanhã melhor, mesmo que adivinhássemos, que ele nunca poderia ser alcançado. (Por isso era só um sonho).
Essa criança não devemos deixar morrer nunca, pois é dela que tiramos a alegria, a esperança, e a magia para viver.
E é com ela, essa sua criança interior, que eu quero dividir agora a emoção que vivi a primeira vez em que fui Mamãe Noel, num dos maiores e mais conhecidos shoppings comerciais: o Shopping Center Iguatemi de minha cidade.
O calor forte anunciava um verão radical. Daqueles verões que convidam à preguiça, à piscina, à praia... As pessoas andavam depressa, recendendo a Sol.
No ar pairava estranho mistério, porque Dezembro chegara, trazendo consigo antigos e gostosos perfumes da meninice.
A humanidade revestia-se de novas alegrias para mais um Natal, revivendo bucólicas esperanças...

Em um cenário de sonhos, Papai e Mamãe Noel, auxiliados por quatro duendes, a todos encantavam magicamente.
Como é maravilhosa a imaginação! Em um reduzido espaço cabiam árvores, anjos, anseios, luzes, sorrisos, choros, crianças, adultos e magia...
Era o Bosque da Família Noel!...
Pinheirinhos decorados, trono dourado, cadeira de balanço, assentos rústicos, colunas antigas, caminhos de luz e a incrível "Árvore de Bicos" eram animados por seres fantásticos, não se percebia bem se de carne e osso, ou se feitos de brumas quase irreais.
Árvore de Bicos! A primeira vez que tive contato com uma delas.
Um pequeno arbusto, no qual os enfeites eram as chupetas, que as crianças (e muito mais os pais) haviam feito questão de lá deixar penduradas. Colorida, muito graciosa, não havia quem não se encantasse com ela, admirando-a, extasiando-se com o aroma de vida que dela se exalava.
Parecia linda. Era uma árvore linda. Mas sempre me significou triste em sua beleza. Cheia de enfeites, parecia-me vazia. Era vazia em sua plenitude.
Acredito que, se alguém se desse um pouco de tempo, quedando-se imóvel, olhando-a (como eu fazia com frequência), por certo ouviria os sentidos lamentos apaziguados, que eu ouvia, e que aprendera a identificar: dor, raiva, frustração, sono, teima, manha, consolo, alento, comunicação, abandono...
Aqueles bicos haviam acalmado todos os tipos de choro e, agora, aí assim expostos, qual ricos enfeites, assemelhavam o gotejar antigas lágrimas de antigos prantos... Por isso era uma árvore triste.
Era uma árvore vazia de seus afetos.
Para mim, aquela era a "Árvore das Lágrimas"!...
E era a primeira vez que eu ouvia uma árvore chorar!...
Eu pensava nas boquinhas, que tinham sugado aquelas chupetas com sofreguidão, nas bochechinhas vermelhas, nos olhinhos inchados, nos narizinhos úmidos e, então, uma enorme ternura me assombrava o coração, despertando um desejo imenso de confortar, ninando em meus braços, todos aqueles pequenos, cujos choros seus bicos abandonados, agora aí guardavam, naquela incrível árvore, circundada por trilhas luminosas.
Por aqueles caminhos de luz, todos podiam chegar até a família Noel! Especialmente elas, as crianças. Grandes ou pequenas, não importava, bastava que fossem crianças e que pela primeira vez acreditassem que a mágica era possível. Que um sonho podia ser uma realidade. A magia existia para todos.
Muitas e muitas vezes, olhando aquelas criancinhas, que se aproximavam, tentei entender o que lhes pareceria mais fantástico: se a tal "Árvore de Bicos", ou o caminho, que as colocaria ao alcance do toque de Papai Noel...
Vê-las chegando assim tão devagarinho, "num passo de formiguinha", imaginava o quão laboriosa lhes era essa "imensa" caminhada...
Que coisas estranhas passariam por aquelas cabecinhas, enquanto venciam a si mesmas, achegando-se ao doce velhinho?...
O trajeto que, na prática, não ultrapassava os três metros, deveria ser para elas o mais difícil, longo e espantoso caminho de suas jovens vidas! E seria para sempre o mais difícil.
Ah! Como eu quisera compreender o quanto lhes sabia espinhosa aquela "estrada".
E que brilho de vitória em seus olhos! Que sorriso de conquista em seus lábios, quando a concluíam e recebiam do bom Noel as melhores balinhas, que um dia já existiram, porque haviam sido obtidas por elas mesmas, vencendo seus medos, anseios e angústias!
Eram balas mágicas, que atraíam e superavam qualquer temor e que jamais seriam encontradas de novo, porque aquela tinha sido a primeira vez... Depois, tudo ficava fácil, não tendo nunca mais o mesmo sabor...
Será que algum dos adultos, que acompanharam aqueles pequenos, por um breve momento, chegou a entender o que representou para eles terem conseguido se aproximar daquelas figuras mitológicas e com suas mãozinhas ansiosas apossar-se daquelas "balinhas mágicas"? ... Chegou a compreender a importància que representou para aqueles pequeninos seres tocar a Família Noel e sentir, pela primeira vez, o gosto maravilhoso do "eu consegui"?!...
Ah! O forte sabor da vitória... O doce sabor da primeira vez!...
Pela descrença de uns, pela pressa de outros, pela ansiedade de alguns, que tentavam, eles mesmos, alcançar a dádiva, acredito que poucos foram os escolhidos, que tiveram a graça de refletir sobre essa emoção. A emoção de uma primeira vez...
O Natal passou. Dezembro terminou numa das tantas curvas do tempo e um novo ano anunciou-se, recheado de incógnitas, de desafios, de apostas, de emoções...
E o que restou? Ah! O que restou foi a certeza de ter descoberto o quão importante, o quão poética e saborosa é uma primeira vez!...
Depois, a gente parece se acostumar, e aquele sabor se confunde com a pressa, o desinteresse e a monotonia.
Será que é por isso, que cada ano que termina deixa em nós uma estranha saudade, que traduzimos sempre por "nunca mais"?...
Será que é por isso que cada ano que começa, desperta em nós uma estranha emoção, a emoção de uma primeira vez?...
A primeira vez... A força, o amor, a magia e a ternura de sermos sempre nós, crianças, ainda que só uma primeira vez na vida!...
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Lembro, que um tipo especial de brilho surgiu. Era quase invisível em minha tela mental: como olhar o céu ao amanhecer, quando o sol ainda está abaixo do horizonte e as extremidades do mundo se abrem na direção da luz. Sentia tal brilho fluindo, através de meu corpo, como se meu sangue se transformasse em ouro líquido. Aos poucos eu percebia que, de alguma forma, eu me dispersava, através da pele, e "via" minha energia corporal correndo pelo espaço à minha volta. Meu coração abria-se, como uma flor especial, para cada um que se aproximava. E cada vez mais o mundo era luz e a luminosidade era eu.
O tempo se amplificava e se movia gloriosamente em direção a magia... Eu era a magia! Esquecia-me de mim mesma e me iluminava no sorriso cativante de quem buscava uma mensagem de amor, de paz ou de carinho. Tinha que ter muita coragem para esquecer minhas tristezas e minhas decepções para me transformar em um puro sonho de amor e mistério. (É a coisa mais difícil do mundo ter seu coração partido e não contraí-lo ou fechá-lo, deixá-lo abrir-se para os outros.)
Mas ao me ver refletida no espelho do olhar dos outros, sentia-me compensada e dava-me conta de como valia a pena ser quem eu estava sendo naquele momento... É assim que eu trabalho em Dezembro....



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