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Contos-->tarde do 2º dia -- 18/03/2002 - 13:14 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estava resoluto em descobrir se Potira começava a gostar de mim. Era uma terça-feira e a aula de Metodologia, um enfado só, guardava-me naquele dia uma surpresa da qual ainda hoje me ressinto, dado o grau de violência do episódio.

Minha habitual preguiça me afastava de um maior envolvimento com o assunto ministrado pelo professor, até que um dos alunos presentes resolveu humilhar o mestre, contradizendo violentamente alguma de suas afirmações em sala. Minha têmpera digna de um britânico se revelou em toda sua cólera, quando perguntei ao dito cujo se ele não gostaria de tomar o lugar do professor e ministrar a aula. O ambiente se cercou de uma névoa insuportável, tanto que saí da sala, para o espanto dos que conheciam minha polidez e gentileza.

Quem sabe tal episódio não tenha sido um mero fruto do acaso, e a coexistência de circunstâncias que redundariam na mais avassaladora descoberta demonstrasse que mesmo um furtivo arroubo de intolerância pode se revelar em excelente aprendizado sobre a natureza humana, complexa e contraditória que é.

Chamei Potira para, junto dela, refrescar a mente, tomar ar puro e um pouco de suco de laranja. No caminho, timidamente perguntei-lhe sobre alguns detalhes de sua vida. Pra quê! Soube que acabava de romper com o namorado: no carnaval ela o flagrou com outra mulher. A indignação foi tão grande que o traidor levou um soco na cara! Potira justificou seu ato radical afirmando resolutamente que não admitia traições, já que sempre fora muito fiel nos seus relacionamentos.

Meu plano parecia não estar dando os frutos desejados. Além de saber que Potira tinha namorado, mais chocante que isso foi descobrir nela um temperamento tão explosivo a ponto de agredir fisicamente alguém. Que mulher de costumes tão primitivos...Sua delicada imagem começou a fugir de mim naquela hora. E quanto a mim, a raiva contra meu colega de classe se resumiu a um acalorado diálogo, nada que chegasse perto de uma agressão; eu não admitiria ser violentado daquela forma por ninguém.

De volta para a sala, apertado pela impressão de não mais suportar estar perto de Potira sem querer beijá-la e dizer que sem ela minha vida haveria de continuar um mero exercício de existência, toquei-lhe o rosto com meus lábios tímidos, somente para ser apagado o fogo que me induziu ao ato de imensa coragem pela ainda maior indiferença de sua postura, ou melhor, pelo silêncio gélido que paralisou-me os pensamentos.

Secos instantes de tortura, olhar fugidio, semblante de derrota, coração inerte diante daquela morte anunciada, empurraram-me a querer não mais a presença de Potira, e que também todos os elementos materiais, dentre eles as mulheres do mundo, deixassem de existir, pra eu captar a perfeita dimensão do sofrimento que aquela recusa me havia causado.

Por que Potira me desprezara daquele jeito? A quem seu coração devia favores tão grandes que lhe impedissem de ao menos admitir se entregar a outrem? Que defeitos ela vira em mim? Eu que sou o melhor dos homens, que nutro na alma as melhores intenções em relação às mulheres? Jamais quis me aproveitar de sua fragilidade, de sua decepção com aquele que a havia ofendido. Em que a ofendi?

Desapontado pela recusa avassaladora, deixei a sala e fui pra casa. Quem sabe ali, livre da presença de Potira, sem que minha consciência sofresse a influência de seu olhar e seu julgamento, pudesse encontrar as respostas de que se ressentia meu apaixonado coração. Quem sabe...
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