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Erotico-->NO GOZO DE UMA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA -- 17/08/2002 - 20:42 (COELHO DE MORAES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NO GOZO DE UMA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Como uma gazela vinha eu vestida de seda vinho e um corpo balzaquiano, daqueles descritos pelo velho Honoré. Dos bons.
Meu marido estava inteiro, da raiz à glande, visível como um Apolo que se senta diariamente ao computador. Um pneuzinho sensual, a altura do abdome, aparecia ao lusco-fusco do abajur.
Deitei-me de bruços, como ele gosta. Ergui as nádegas... como ele gosta, e peguei, da mesinha de cabeceira, o livro de filosofia contemporânea... como eu gosto.
O livro expunha de maneira clara e penetrante as principais correntes de filosofia da atualidade e eu gemia, lânguida, enquanto o autor se debruçava sobre mim, armado de conceitos e pareceres excitantes. Na oportuna introdução tive de fletir os joelhos, tamanho o volume e a solidez que chegavam ao mais profundo do meu ser. Juro que ouvi um leve gemido. Meu marido arfava enquanto eu ainda não havia passado da folha 25!
A introdução tinha sido breve como quem abre espaços para experiências mais profundas e tentadoras.
Esperei de boca aberta.
Quanta palavra doce chegava ao meu ouvido. Um hálito transbordante de pasta de dentes! Que livro!
Uma gota de suor descia, escorrendo sobre minha face calculadamente limpa com produtos cosméticos... como ele gosta. Senti que as mãos do marido me viravam, enquanto eu, sofregamente, me dirigia à página 30, onde se falava no indivíduo, na sociedade e na cultura... insana, eu lia e adorava.
O suor que caia, agora, era o do meu marido que fazia de tudo para gozar e me fazer gozar. Eu estava nos heterodoxos pujantes quando gemi de maneira portentosa. Sentia que a língua amada deslizava pelo meu ventre desnudo. Que danado, era esse marido! Nem Kierkegaard valeria tanto a pena... na cama é claro... pois, dentro das folhas de um livro e na agonia de um pensamento, Kierkegaard era imbatível!
Enfiei a cara nas páginas e comi uma delas inteirinha.
Foi aí que meu marido quis subverter alguns valores... ou, no mínimo... posições! Tomou minhas pernas e colocou-as sobre seus ombros. Seus cabelos longos caiam sobre meus joelhos! Que perfume! Aquela imagem materializou-se na página 43... eram as mônadas de Leibniz, como centros de atividades. A minha mônada íntima, a muito úmida caverna platônica, se alvoroçou quando nova e penetrante investida do marido se aproximava. Que delícia! Eu me individuava, escaldante! A cada penetração nas minhas vastidões eu me identificava comigo mesma... me tornava mais eu... me conhecia mais, desfazendo a idéia de que quando o casal se ama torna-se uno. Dois, no final. O marido e eu. Cada um de acordo com o seu ser.
Eu gozava!! Sartre nos tornava em não-ser!!
Novamente ele saiu de dentro de mim no momento em que eu chegava à página 86. Apaixonada, mas já sem a paixão da fé, no âmago do desejo, resolvi burlar os valores morais da burguesia, como mandava a linha três do primeiro parágrafo. Ainda com as pernas nos ombros do marido - e sabendo que nessa posição a costura anal fica mais frouxa - lambuzei-lhe o cetro de uma pomadinha calêndula da vovó e "sóof"... lá se foi o marido para dentro do meu tubo retal. Que cilindro, ele tem!! Em uma só penetração baixamos por terra toda uma teoria judaico-cristã. E, olha que eu tinha medo... mas, no ápice do gozo...!!! Que nada, belo!!!... Na 87 eu lia que a afirmação da extrema individualidade é o êxtase dionisíaco. Eu só fiz experimentar... um ato empírico... meu marido como um fauno que persegue sua ninfa e a toma pelo rabo... nada mais dionisíaco que isso. Enquanto ele me saboreava eu abria o ânus e a garrafa de vinho da mesinha, e sorvemos alguns goles rubros em homenagem a Baco ou Dionísio. Estávamos além do Bem e do Mal e nossas atitudes eram humanas, demasiadamente humanas.
Depois, retornamos ao estado burguês, lá pela página 132, quando então nos voltava a percepção dos corpos, a queda e redução de tamanho das carnes masculinas. Tudo variava nos fatos, mas não na contingência que os marcava. Senti me esvaziar. O apetite se fora.
Meu marido dormitava sobre meus seios, descansando... eu meditava, relendo a lombada do meu livro e as letras douradas ... e um lapso...!
A minha leitura na noite caminhava para o fim. Os olhos semicerravam-se quando à página 188 topei com a conclusão de Wittgenstein, de que devemos silenciar sobre aquilo que não podemos descrever.
Depositei meu livro na cabeceira iluminada e dormi, sonhando com meu marido. O Orfeu que veio tocar canções de desejos nas minhas liras carnais.

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