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Artigos-->Análise de Claro Enigma (Drummond) e Mensagem (Pessoa) -- 29/10/2005 - 19:33 (Jayro Luna) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Análise da Estrutura das partes de Claro Enigma (Drummond) e Mensagem (Fernando Pessoa)

Por: Prof. Dr. Jayro Luna

(artigo apresentado no Simpósio Internacional Pessoa - Drummond promovido pela PUC-SP/USP, em 25/10/2005)

1. Introdução

Publicado em 1951, Claro Enigma marca uma fase da poesia de Carlos Drummond marcada por um transcendentalismo de característica místico-esotérica. Desdobramento dos ventos espiritualistas que marcaram a produção poética do pós-guerra. Nesse desdobramento o pessimismo e o sentimento apocalíptico em relação aos destinos da civilização - marca da fase espiritualista - são transformados num amalgama de característica histórico-profética com fortes nuanças da literatura portuguesa. Como observa Massaud Moisés:



“O poeta volta-se para os seus mitos, dá razão ao inato transcendentalismo, colocando-se a par dos grandes poetas do Idioma. Não mais a lírica admiração do próprio ego, mas o descortino dos arquétipos. Timbre de vate épico, da estirpe de Camões e Fernando Pessoa. “A Máquina do Mundo” o enuncia claramente, no seu ar de paródia aOs Lusíadas, revisitados por uma imaginação congenial à do autor da “Ode Marítima”.

(MOISÉS: 1989, p. 347)



No aspecto formal Claro Enigma revela uma preocupação nunca antes demonstrada pelo poeta acerca dos aspectos versificatórios do poema com relação ao aproveitamento de ritmos e métricas de caráter clássico e parnasiano. Como comenta Francisco Achcar (1993, p.54) houve quem visse nisso um retrocesso na prática modernista do poeta. Outros encontraram ali motivos para falar em amadurecimento de sua poesia. O fato é que, como observa Affonso Romano de Sant’Anna, o livro demonstrava um apuro formal até não visto na poesia drummondiana:



“A partir de Claro Enigma, significativamente o início da exploração mais sistemática da memória, há um aumento de jogo de palavras, trocadilhos, antíteses, ecos, paradoxos, enfim toda uma parafernália de ‘agudeza y ingenio’, que mereceria detalhada descrição. Encarando a vida como um exercício-pesquisa-procura, como nos poemas ‘Inquérito’(...). ‘Procura’(...) e ‘Relógio do Rosário’(...) revela essa consciência lúdica/lúcida de quem sabe que ‘nem existir é mais do quem exercício/ de pesquisar da vida um vago indício’”.

(SANT’ANNA: 1972, p. 211)



Ainda acerca da citação de Affonso Romano de Sant’Anna, destaca-se a importância da memória que se apresenta tanto como constituinte histórico, a memória como patrimônio histórico das cidades mineiras e, por outro lado, a memória drummondiana acerca das cidades de Minas.

Mas o aspecto da divisão do livro de Drummond em uma seqüência de partes e subpartes não tem merecido maiores comentários dos estudiosos do que a de se referir, de forma genérica, como mais um índice desse apuro formal.

Pois, um aspecto que me parece relevante é o fato de citar Fernando Pessoa e Camões e de se tratar de um livro que evoca a questão da memória de um forma transcendentalista. Não podemos aqui, deixar de lembrar de Mensagem de Fernando Pessoa.

Como já observou Carlos Felipe Moisés:



“Seu plano geral [Mensagem], isto é, sua complexa estruturação em partes, que se subdividem em seções, que contêm os poemas, foi imposto pelo poeta a um conjunto de composições preexistentes, às quais esse plano levou a acrescentar outros poemas, então especialmente escritos para esse fim. Esse lento e laborioso processo de criação reflete as oscilações, as dúvidas e perplexidades do poeta em relação à alma portuguesa, complexa e heterogênea como a estrutura da obra.”

(MOISÉS: 1996, p. 39-40)



Um dos aspectos também abordado acerca da complexidade estrutural de Mensagem se refere ao episódio da troca de nome da obra. Sabemos que em carta a João Gaspar Simões, de 1932, Pessoa faz referência ao conjunto de poemas que formará o livro Mensagem, mas trata-o pelo título de “Portugal”. Já se observou a rigorosa simetria de número de vogais (V) e consoantes (C), bem como a posição delas nas duas palavras:



M E N S A G E M

P O R T U G A L

C V C C V C V C



Pois, partindo de uma intuição observamos que Claro Enigma tão ligado que é a questão histórica e da memória de Minas Gerais, tem com o nome do estado um interessante simetria:



C L A R O E N I G M A

M I N A S G E R A I S



Notemos que além de ter o mesmo número de letras as duas palavras dos dois nomes (Claro e Minas: 5; Enigma e Gerais: 6), ainda existe um igualdade no número de vogais e consoantes de cada palavra e que excetuando-se a letra inicial dos dois nomes próprios, existe sempre uma inversão entre a posição da consoante e da vogal entre os nomes. É fato que estatisticamente pode-se justificar essa semelhança dentro das possibilidades das coincidências, mas o fato é que a análise da estrutura das partes das duas obras permite uma leitura menos estatística e mais interpretativa das possibilidades de leitura comparativa e intertextual entre elas.



2. As semelhanças entre as estruturas das partes de Mensagem e Claro Enigma



Mensagem é um livro constituído de 44 poemas divididos em 3 partes. A primeira (Brasão) se compõe de 5 subpartes, num total de 17 poemas. É sabida a relação entre essa parte de Mensagem e a forma do brasão de Portugal (campos, castelos, quinas, coroa e timbre). A segunda parte (Mar Português) é constituída de 12 poemas. O astrólogo português Paulo Cardoso já fez estudos comparando essas doze partes aos signos do zodíaco[1].

A terceira parte ( O Encoberto) tem três subpartes, num total de 13 poemas.

Por sua vez, Claro Enigma se compõe de 6 partes, num total de 47 poemas. Não tem subpartes, mas tem poemas com subdivisões numeradas com significação própria: “Contemplação do Banco” (3 partes); “Estampas de Vila Rica” (5 partes, inclusive com nomes para cada uma das partes) e “Os Bens e o Sangue” (com 8 partes).

Quando comparamos essas duas estruturas alguns elementos comparativos começam a se destacar. Por exemplo, o total de poemas da primeira parte de cada um dos livros, de fato, “Brasão”(Mensagem) e “Entre o Lobo e o Cão”(Claro Enigma) totalizam 17 poemas cada. E se o “Brasão” se liga à heráldica portuguesa, inclusive na construção de suas subpartes, haveria alguma analogia organizadora da primeira parte de Claro Enigma?

O primeiro poema, “Dissolução”, nos dá um caminho de leitura: “Escurece, e não me seduz / tatear sequer uma lâmpada / Pois que aprouve ao dia findar, / aceito a noite. // E come ela aceito que brote uma ordem der seres / e coisas não figuradas.” Podemos ver aí uma referência às constelações do céu? Mas quais constelações? O título dessa parte já contém as pistas, pois “Lobo” e “Cão” são nomes de duas constelações características do hemisfério sul. E o que temos entre essas duas constelações. Partindo do Cão Maior até chegar à constelação de Lobo passamos pelas constelações que são referidas no globo azul da bandeira do Brasil, podemos encontrar ao lado de “Lobo” as constelações de “Escorpião”,“Triangulo Austral” e um pouco mais adiante o “Cruzeiro do Sul” e seguindo na direção de “Cão Maior” passamos pela longelínea “Hydra”. “Carina” ao lado do “Cruzeiro do Sul” e da “Vela”, mais ao centro do céu, “Octante”; “Virgem” ao lado da “Hydra” e por fim “Cão Menor” pouco adiante do “Cão Menor”, tendo entre eles “Monoceros” compõem esta parte do céu em que se circunscrevem as constelações que formam a bandeira do Brasil. Outro dado numérico coincidente, é que as constelações referidas representavam à época da escrita do poema 17 estados, se considerarmos que “Escorpião” está um pouco além de “Lobo” e que o “Distrito Federal” (Brasília) ainda não existia, e que o Pará é representado por uma estrela da constelação de “Virgem”. Ou seja, entre o “Lobo” e o “Cão” tínhamos exatamente 17 estrelas representando 17 estados.

Em “Ingaia Ciência” o tema celeste parece tão presente quanto em “Dissolução”: “A Madureza esta terrível prenda / que alguém nos dá, raptando-nos com ela, / todo sabor gratuito de oferenda / sob a glacialidade de uma Estela, // a madureza vê, posto que a venda / interrompa a surpresa, onde se estenda, / e que o mundo converte numa cela.” Também em “Os animais do Presépio” temos essa referência (“Salve, reino animal: / todo o peso celeste / suportas no teu ermo.”) A grande maioria das constelações recebem nomes de animais reais ou mitológicos.

Em “Opaco” o poeta parece querer nos falar de sua necessidade de interpretar a carta celeste: “Noite. Certo / muitos são os astros. / Mas o edifício / barra-me a vista. // Quis interpretá-lo, / Valeu? Hoje / barra-me (há luar) a vista. // Nada escrito no céu, / sei / Mas queria vê-lo, / O edifício barra-me / a vista”.

O poema “Contemplação” desta primeira secção de poemas de Claro Enigma, está dividido em três partes (numerados em algarismos romanos), em Mensagem, de Fernando Pessoa, há duas secções de três poemas (“Avisos” na parte III-O Encoberto e “O Timbre” na parte I - Brasão). Nesse poema, a primeira parte elege o coração e a flor como elementos simbólicos (“O Coração pulverizado range”, “quem sabe a flor que aí se elabora, calcária, sangüínea?”). No primeiro poema de “Avisos” também o coração é o símbolo evocado metaforicamente: “Este, cujo coração foi / Não portuguez mas Portugal.” A forma etérea e vaga que se consubstancia num homem ou no discurso de um homem parece estar presente no segundo poema de “Contemplação do Banco” (“Ele é seu próprio irmão, no dia vasto, / Na vasta integração das formas puras”) e no segundo de “Avisos” (“Segundo/Antonio Vieira”: “No immenso espaço seu de meditar, / Constellado de fórma e de visão”). No terceiro poema de “Contemplação do Banco” o ato de escrever e a leitura parecem realizar a presentificação de uma vaga visão que se aproxima ou se distancia: “Dissolvendo a cortina de palavras” e “Triste é não ter um verso maior que os literários”. No terceiro poema de “Avisos” também a escrita dos versos é evocada (“Terceiro”: “Screvo meu livro à beira-magua”), em ambos os poemas o vago que se apresenta visível, o ausente que se evoca parecem ser determinantes do tema. Se a palavra “Contemplação” é significativa já no título do poema de Drummond e na parte I desse poema: “Ah, não viver para contemplá-la!” Nos três poemas de “Avisos” temos os verbos “Sonhar” (“Primeiro / O Bandarra”), “meditar” (“Segundo / Antonio Vieira”) e “pensar” (“Terceiro”). Diante dessas comparações, a releitura de “Contemplação no Banco” parece evocar uma espécie de correlação entre um homem que surge de suas palavras, de seus sentimentos escritos, que é assim que se resume sua existência, um homem que só existe na própria obra, como não lembrar dos heterônimos de Fernando Pessoa e também no mito sebastianista: “e vejo-te incorpóreo, / contudo nítido, sobre o mar oceano”.

O poema “Estampas de Vila Rica” da parte “Selo de Minas” tem cinco subdivisões, numeradas em algarismos romanos e tituladas: I.Carmo; II.São Francisco de Assis; III.Mercês de Lima; IV.Hotel Toffolo e V.Museu da Inconfidência. Em Mensagem existem três secções com cinco poemas: “As Quinas” (de “Brasão”), “Os Símbolos” e “Os Tempos” (secções I e III de “O Encoberto”). Nas três secções de Mensagem temos o domínio do elemento histórico. Em “As Quinas” a referência constante é sobre a formação de Portugal, nas outras duas secções, o tema dominante são as navegações e o mito do quinto império sebastianista.Em “Estampas de Vila Rica” o aspecto histórico é determinante nos cinco poemas. A cidade de Ouro Preto surge como um monumento histórico, de um passado barroco (“Daí-me senhor, só a beleza destes ornatos” - “II/São Francisco de Assis”) que deixou marcas em todo lugar, nas igrejas, nas ruas, no hotel. Conclui o poeta: “Toda história é remorso”. Desse modo, temos uma oposição do sentido histórico em Drummond e Fernando Pessoa com relação a essas partes de seus livros de poemas. Em Fernando Pessoa, a história tem uma conotação messiânica, profética, em que os fatos parecem justificar ou fazer crer na função do mito. As navegações portuguesas, a glória de Portugal que irá ressurgir num futuro com a volta do “desejado”, com a revelação do “encoberto”, porém, tal retorno se fará não mais num sentido histórico, mas messiânico, de caráter espiritual. Assim a esperança e a fé são os sentimentos característicos desses poemas, já em Drummond, os monumentos históricos registram um passado de dor e sofrimento que se presentifica num presente com cores de abandono (“Pequena prostitua em frente a Mercês de Cima. / Dádiva de corpo na tarde cristã. / Anjos saídos da portada / e nenhum Aleijadinho para recolhê-los” - “III/Mercês de Cima”), por isso o sentimento de remorso em relação à História.

Observemos que estamos considerando as cinco subdivisões de “Estampas de Vila Rica” como poemas independentes que alteram a soma total dos poemas do livro, assim como em “Contemplação do Banco”. Por outro lado, a parte “Selo de Minas” tem cinco subdivisões, e o tema histórico permanece o dominante, agora não mais restrito à Ouro Preto, mas a Mariana, Itabira, etc.

Em Claro Enigma, a parte “II/Notícias Amorosas” é constituída de sete poemas. Em Mensagem, “Castellos” é formada por 8 poemas, no entanto, numerados de 1 a 7. Comparando essas duas partes de poemas, creio que temos o sentido da grande transformação entre Mensagem e Claro Enigma. Em Fernando Pessoa, a história é determinada por um sentido profético, messiânico (“Todo o começo é involuntário. / Deus é o agente. / O heroe a si assiste, vario / E inconsciente” - “Terceiro / O Conde D.Henrique”). Portugal germina de um herói mítico (“Ulysses”), tem um passado guardado na memória inconsciente (“Viriato”: “Se a alma que sente e faz conhece / Só porque lembra o que esqueceu, / Vivemos, raça, porque houvesse / Memória em nós do instinto teu”)

O amor humano configura-se em Pessoa como resultado dessa força inconsciente, assim o pai (“D. Affonso Henriques”: “Pae, foste cavalheiro”) e a mãe (“D. Tareja”: “Teu seio augusto amamentou / Com bruta e natural certeza / O que, imprevisto. Deus fadou.”) amam-se e têm filhos em razão do profetizado, do que por Deus é determinado, para que se cumpra a história determinada de Portugal. O rei poeta faz um “Cantar de Amigo”, mas o que define seu cantar não é o amor, mas um sentimento subjetivo e lírico que vem da Natureza, que prefigura a imensidão do mar (“Sexto / D. Diniz”). Em “Séptimo (I) / D. João, o Primeiro” se lê: “O Homem e a hora são um só / Quando Deus faz e a história é feita. / O mais é carne, cujo pó / A terra espreita”). Em “Séptimo (II) / D, Philippa de Lencastre”, o amor materno é a garantia da realização do sentido messiânico da história de Portugal: “Que enigma havia em teu seio / Que só gênios concebia? / Que archanjo teus sonhos veio / Vellar, maternos, um dia?”

Em Carlos Drummond de Andrade, a história não é determinada por um sentido profético ou messiânico, mas pelo amor, pelo poder do amor. O sentimento de amor pode modificar a história, recuperar o remorso histórico que a memória nos traz: “Que pode uma criatura senão, / entre criaturas, amar? / amar e esquecer, / amar e malamar / amar, desamar, amar?”. A única coisa determinada é que temos que amar: “Este o nosso destino: amar sem conta”. (“Amar”). Em “Entre o ser e as coisas” o mar e o amor são fundidos numa metáfora: “Onda e amor, onde amor, ando indagando”, “N’água e na pedra amor deixa gravados / seus hieróglifos e mensagens, suas / verdades mais secretas e mais nuas.”

O amor ressurge constantemente como força instintiva, inconsciente, que nossa memória histórica não alcança entender, que parece existir um esquecimento dessa força devido a essa dificuldade de compreensão da força primitiva do amor: “Como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior de seus mortos” (“Tarde de Maio”). A força inconsciente, instintiva se faz presente a todo momento, fugindo no entanto ao entendimento lógico, racional: “E calcamos em nós, sob o profundo / instinto de existir, outra mais pura / vontade de anular a criatura.” (“Fraga e Sombra”).

Se D. Diniz fez seu cantar de amigo, Drummond faz sua “Canção Para Álbum de Moça”. Em “Rapto” se confirma essa inconsciência constante da força do amor: “baixemos nossos olhos ao desígnio / da natureza ambígua e reticente: / ela tece, dobrando-lhe o amargor, / outra forma de amar no acerbo amor.”

Por fim, em “Campo de Flores” o reconhecimento do sentimento de amor é que garante o entendimento do sentido da História e dos mitos: “Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos / e outros acrescento ao que amor já criou. / Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso / e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.” Se Portugal tem seus campos representados pelos castelos e pelas quinas, o que configura quase toda a primeira parte de Mensagem, e os aspectos míticos e históricos se fundem num amálgama profético, em Claro Enigma, os campos são o da Natureza, das flores, da tarde maio, o vôo da ave em “Rapto”, o amor que se concretiza nesse cenário bucólico é, enfim, a força que pode subverter o determinismo histórico: “Por fora do tempo arrasto meus despojos / e estou vivo na luz que baixa e me confunde”.

Mensagem inicia-se com uma secção de “Brasão” que só contem dois poemas: “Campos” (“O dos Castellos” e “O das Quinas”). Esse dois “campos” constituem a parte do escudo do “Brasão”. A seguir vêm os 7(8) poemas de “Castellos” e os 5 poemas de “Quinas”. Claro Enigma se encerra com uma parte de dois poemas: “A Máquina do Mundo” (“Máquina do Mundo” e “Relógio do Rosário”). No poema a “Máquina do Mundo”, em que se costuma ver uma relação com o episódio da épica camoniana em que Tétis mostra a Vasco os segredos do tempo e do espaço. Aqui, também vemos o fechamento da metáfora celeste que para nós se apresenta na primeira parte do livro. O poeta vê no céu a concretização da máquina do mundo: “...vinda dos montes / e de meu próprio se desenganado / a máquina do mundo se entreabriu” ou “olha, repara, ausculta: essa riqueza / sobrante a toda pérola, essa ciência / sublime e formidável, mas hermética”. A contemplação do céu é o caminho para se desvendar a máquina do mundo: “se revelou ante a pesquisa ardente / em que te consumiste... vê, contempla, / abre teu peito para agasalhá-lo”.

Se “A Máquina do Mundo” é o entendimento astrológico/astronômico do céu, o poema “Relógio do Rosário” nos apresenta a transformação da dor resultante da história, da memória que se realiza no presente no som do sino: “convertendo-se, turva e minuciosa, / em mil pequena dor, qual mais raivosa” em dor da existência: “dor do espaço e do caos e das esferas, / do tempo que há de vir, das velhas eras!” Mas o amor é a força vital que pode superar essa dor: “Não é pois todo amor alvo divino / e mais aguda seta que o destino? // Não é o motor de tudo e nossa única / fonte de luz, na luz de sua túnica?”. Assim a verdadeira máquina do mundo é o amor, ao passo que a outra, o céu é apenas um modo de ler a maquina do amor.



Nota:

1. CARDOSO, Paulo. Mar Portuguez: a mensagem astrológica de Mensagem. Lisboa, Estampa, 1990. Outra obra de Paulo Cardoso, que complementa seu estudo é: Mar Portuguez e a simbólica da Torre de Belém. Lisboa, Estampa, 1990.

Anexos

1. Estrutura de Mensagem, Fernando Pessoa.

Mensagem

partes seções poemas

I.Brasão

I.1.campos

I.1.1.castelos

I.1.2.o das quinas

I.2.Castelos

1.Ulisses

2.Viriato

3.Conde d.Henrique

4.D. Tareja

5.D.Afonso Henrique

6. D. Dinis

7. (I) D. João

7. (II) D. Filipa

I.3.Quinas

1. D. Duarte

2. D. Fernando

3. D. Pedro

4. D. João

5. D. Sebastião

I.4.A Coroa

1.Nun Alvares Pereira

I.5.Timbre

1. A cabeça do grifo: infante

2. Uma asa do grifo: D. João II

3. A outra asa do grifo: Afonso de Alb.

II.Mar Portuguez

1. Infante

2.Horizonte

3.Padrão

4.O Mostrengo

5.Epitáfio de B.Dias

6.Os Colombos

7.Ocidente

8.Fernão de Mag.

9.Ascensão de VG

10.Mar português

11.A última nau

12. Prece

III.O Encoberto

III.1.Símbolos

1.D.Sebastião

2.Quinto Império

3.Desejado

4.Ilhas Afortunadas

5.Encoberto

III.2.Avisos

1.O Bandarra

2.A.Vieira

3.Terceiro (F.Pessoa)

III.3.Tempos

1.Noite

2.Tormenta

3.Calma

4.Antemanhã

5.Nevoeiro



2. Estrutura de Claro Enigma, Carlos Drummond de Andrade.

Claro Enigma

partes poemas secções

I.Entre Lobo e Cão

1.Dissolução

2.Remissão

3.A Ingaia Ciência

4.Legado

5.Confissão

6.Perguntas em forma de Cav.marinho

7.Os animais do presépio

8.Sonetilho do falso F.Pessoa

9.Um Boi Vê os Homens

10.Memória

11.A tela contemplada

12.Ser

13.Contemplação no banco (I, II, III)

14.Sonho de um sonho

15.cantiga de enganar

16.Opaco

17.Aspiração

II.Notícias Amorosas

1.Amar

2.Entre o ser e as coisas

3.tarde maio

4.fraga e sombra

5.canção para album de moça

6.Rapto

7.campo de flores

III.Menino e os Homens

1. A um varão que acaba de nascer

2. O Chamado

3.Quintana a bar

4.Aniversário

IV.Selo de Minas

1.Evocação Mariana

2.Estampas em Vila Rica

IV.2.I.carmo

IV.2.II.S.Fco de Assis

IV.2.III.Mercês de lima

IV.2.IV.Hotel Toffolo

IV.2.V.Museu da inconfidência

3.Morte das casas de Ouro Preto

4.canto negro

5.os bens e o sangue(8 partes)

V.Lábios Cerrados

1.Convívio

2.Permanência

3.Perguntas

4.carta

5.Encontro

6.A Mesa

VI.Máquina do Mundo

1. A Máquina do Mundo

2.Relógio do Rosário



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