Usina de Letras
Usina de Letras
26 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62287 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10389)

Erótico (13574)

Frases (50677)

Humor (20040)

Infantil (5459)

Infanto Juvenil (4781)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140819)

Redação (3310)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6211)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Erotico-->28. APROXIMAÇÃO, FINALMENTE -- 15/08/2002 - 07:00 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Carlos resolveu enfrentar o irmão. Derradeiro parente, sentia-se como que impulsionado por obrigação familiar. Consultou o etéreo, sendo-lhe recomendada prudência, mas o que teria de fazer, fizesse-o desassombradamente. Quem não devia, nada teria a temer.

Consultados os endereços possíveis, Carlos constatou que o irmão atendia em diversas empresas de fachada para os negócios escusos. Por telefone, nunca se dava encontro algum. Deixava recado. Pedia que o irmão ligasse. Passava o número.

Nessa vida, transcorreram-se dois meses. Carlos não ansiava pelo encontro, mas a dificuldade da aproximação punha-o alerta para a possibilidade de vir a ser mal recebido.

Por essa ocasião, Alfredo estava despachando o representante das forças ocultas, sem prestar maior atenção aos serviços que poderiam ser-lhe úteis. Achava o preço desconforme. Ao conhecer a insistência do irmão, julgou que algo havia por trás dessa iniciativa. Por incrível coincidência, ao sentir o desejo de decifrar certo problema de caráter espiritual, eis que chega, de chofre, a oportunidade mais próxima da necessidade.

Ao contrário da habitual rapidez, dessa vez hesitou. Parecia que algo havia a prender-lhe a vontade em aceitar aquele oferecimento que lhe vinha de graça. Por várias vezes, chegou a discar os primeiros números, mas a mão, como em movimento automático, independente do domínio que o cérebro deveria exercer, repunha o fone no gancho e a vista se perdia no ar, em sonhos de realização impossível.

Via-se ao lado do irmão, subindo por longa escada, como a sair das trevas a caminho da luz. De repente, escorregava e se sentia arremessado ao fundo de um poço, cheio de vermes e de excrementos. Assustava-se com tais visões em plena vigília.

Desde há muito as noites vinham sendo atormentadas por estranhas personagens vestidas de policiais, que o prendiam e conduziam ao cárcere. Pretendendo fugir desses pesadelos, começou a ingerir bebida alcoólica em grande quantidade. Conhecia o efeito deletério do álcool sobre o organismo, mas, ainda assim, preferia enfrentar alguma dor de cabeça no dia seguinte, a ficar sob o domínio de drogas mais poderosas, algumas das quais com efeitos claros de alucinação. Pelo menos o gim chumbava-o na cama, levantando-se pela manhã com a sensação de que sonhara algo de ruim que não lembrava. Afligia-se e debatia-se durante o sono, acordava mal-humorado e com a cabeça pesada, mas não se sentia preso a sensações de sofrimento e dor.

Com o tempo, foi capaz de controlar a dose ideal que lhe possibilitava esquecimento integral, sem conseqüências por demais desagradáveis. Recompunha o domínio sobre as necessidades orgânicas, o de que se orgulhava mais na vida.

As lembranças dessas providências restituíam-lhe a confiança. Tomava, então, do telefone e iniciava nova série de discagens. Mas interrompia-se, de súbito, vendo crescer-lhe na frente a imagem do irmão querido, a apontar-lhe o dedo acusador pela desgraça da filha. Que fizera com a amizade e o respeito que deveria manter para com os consangüíneos?...

Alfredo balançava a cabeça. Levantava-se. Dirigia-se até a janela. Olhava o bulício da cidade. Voltava-se para dentro. Na sua frente, Criseide, arma em punho, pretendendo disparar a mesma rajada que sapecara sobre o quadro da família.

Dava com a mão espalmada um tapa no ar e dizia em voz alta:

— O que fiz foi salvar a família do meu irmão. Se deixasse que me delatassem, mesmo que eu fosse preso, julgado e condenado, não haveria proteção policial que os livrasse do revide, pelo medo dos outros de se verem denunciados. Sem dúvida, eu mesmo seria executado, onde quer que me escondesse. Não enviei, mensalmente, polpudo cheque para garantir-lhes a sobrevivência?...

Ciente de que praticara ato de benemerência e de proteção, apanhava de novo o fone e iniciava nova chamada. Aí alguém lhe batia ao ombro. Voltava-se. Era algum ser esquálido a cobrar-lhe a vida pela vida que deixara em algum monturo do vício. E a ligação não se completava.

Alfredo desconfiava de que iria enlouquecer, se não se decidisse a atender aos constantes reclamos do irmão de entrarem em contacto. Antes, porém, que se determinasse a encará-lo face a face, procurou um médico e relatou-lhe os anseios íntimos e as visões que vinham perseguindo-o. Pediu-lhe conselhos e remédios. Que pensava o doutor a respeito do método de afastar-se dos maus sonhos pela bebida?

O médico, conhecedor de algumas atividades menos comprometedoras do cliente, percebeu que algo como que pruridos de consciência estavam a perturbá-lo. Mas cumpriu a obrigação jurada com muita competência, indicando o caminho dos exercícios físicos morigerados para diminuir o estresse, receitando brando calmante de leve efeito soporífero, recomendando que largasse imediatamente a bebida e sugerindo que passasse a responsabilidade de parte das atividades profissionais para outrem. Se possível, acrescentou, tirasse férias.

Alfredo ouviu atentamente todos os conselhos do facultativo, avaliou o fato de não ter contado a indecisão relativa ao encontro com Carlos, imaginou-se a deixar crescer em poder na organização algum dos diretos auxiliares, criou coragem e, duas semanas depois, com a mente desanuviada das premonições, que percebeu advirem de algum sentimento de culpa embutido no coração, pediu para uma das secretárias para ligar para o irmão. Iriam encontrar-se.



Quando Carlos recebeu o endereço em que estaria Alfredo a esperá-lo, tremeu na base. Dentre todos os prédios para que havia ligado e onde, de uma forma ou de outra, se havia registrado o recado, aquele não se encontrava. Seria algum refúgio especial? Com facilidade de ex-notário, localizou a rua, conheceu o edifício e ficou sabendo tratar-se de condomínio de alto luxo, de propriedade do irmão. Mais de quarenta apartamentos estavam ocupados por capitães de indústrias, por ricos comerciantes, dois juízes e diversas pessoas cujas atividades não lhe foi possível levantar. O irmão ocupava a cobertura, em apartamento “triplex”.

Como surgira tal endereço desconhecido até então, perguntava-se extremamente curioso. Sabia que o irmão vivia no morro, em casa de mais de dois mil metros quadrados de construção, cujo registro fora o único que restava no tabelionato da família. Quão misteriosos eram os seus caminhos!...



Na espiritualidade, o clima não era de alegria. Por todos os corações, corria certo temor pelo que poderia ocorrer em conseqüência de entrevista mal conduzida. Parecia claro que o encontro não incluiria a família, mas estariam os irmãos “tête-à-tête”, a medir forças em torno de objetivos ainda não totalmente fixados.

Virgílio era o único que demonstrava satisfação e desafogo. Parecia-lhe que iriam chegar ao fim de longa agonia. Qualquer fosse o resultado, nenhum prejuízo poderia advir para quem se encontrasse imbuído de amor e boa vontade. No fundo do pensamento, julgava que era muito mais importante, no momento, fortalecer as convicções socorristas do grupo do que oferecer real oportunidade de redenção a criminoso de tanta periculosidade, com tão amplo retrospecto no campo da malignidade. O único fato que temia era o desalento e a insatisfação do pessoal por possível fracasso, e isso despertava-o para integral envolvimento no plano da restauração das premissas de vida do filho mais novo de Nepomuceno.

O que mais se fazia no etéreo era orar com fervor pela assistência e amparo a Carlos. Se Deus estendesse seu manto misericordioso, tudo resultaria a contento.



Às seis horas da tarde, pontualmente, o porteiro liberou o ingresso no prédio a Carlos, por ordem expressa do irmão, do outro lado da linha.

Chegado ao último andar, a porta do elevador abriu-se e os irmãos estreitaram-se em apertado abraço, ali mesmo no vestíbulo. Carlos confundiu-se com a afabilidade do irmão. Alfredo sentiu o estremecimento que perpassou por todo o corpo de Carlos. Os gigantes haviam conhecido as forças do adversário. Iria começar a luta.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui