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Contos-->Peleja -- 09/03/2002 - 02:03 (Marcelo Santos Costa (Marcelo Tossan)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Domingo dia de sol quatro da tarde, o pai de Dionísio Sr. Adelson, senta no sofá de frente a tv para assistir ao clássico Corinthians e Palmeiras. E ele vibra e xinga o juiz com tanta firmeza que acredita que o mesmo ouviu.
Dionísio senta pra torcer contra o Corinthians pois é São Paulino, para Sr. Adelson tudo bem, pois estando do lado do seu “parmera” pode ficar.
Dionísio se levanta no meio do jogo e vai ao bar onde o assunto é o mesmo da tv. Jogo ao vivo e cervejas em cima das mesas e olhos atentos na tela. São Paulinos,Santistas e Palmeirenses “unidos” pra torcer contra o rival maior, que é o Corinthians. Final de jogo 3 a 2 pro Corinthians e é hora de discutir o porque daquela vitória, aquele gol foi roubado, impedido, aquela falta não foi falta. E aquele lance foi pênalti ou não foi? Desce mais uma cerveja, aposta feita aposta cumprida, uma caixa paga pelo perdedor.Palitando os dentes o corinthiano sorri malandramente pela vitória.
E todos bebem juntos, uns cambaleando beijam o distintivo da camisa, aqui é raça! grita um mais exaltado.
No outro dia, muitos têm que se levantar cedo pra ganhar o pão de cada dia, juntando todos do boteco não dá um por cento (1%)do bicho que o artilheiro ganhou por aquele golzinho, aquele de pênalti. Enquanto Sr. Adelson comemora do seu jeito sentado no sofá, em dias de jogos importantes ele monta uma espécie de bar doméstico, compra salaminho e uma dúzia de cerveja e grita com para a janela que dá pra rua.
Sr. Adelson apesar do fanatismo nunca tinha ido a um estádio.
Nos seus 56 anos de idade nunca tinha sentado a bunda em um cimento de arquibancada. Dionísio reparou que esse fanatismo do seu pai pelo palestra Itália, começou de uns tempos para cá depois que ele ficou desempregado.Apesar de ter se convencido que esse amor era verdadeiro depois que achou uma foto antiga de binóculo com Sr. Adelson de calça boca de sino e camisa regata do palmeiras. Sr. Adelson já fora taxista, chofer, motorista de ônibus coletivo e nas três profissões se envolveu com futebol. Mas nunca foi fanático e nem ligava pra jogo, queria apenas trabalhar ganhar o seu. Quando taxista na década de setenta, tinha como clientela a comissão técnica do Vasco da Gama que quando vinha jogar em São Paulo sempre telefonavam para Sr. Adelson. Que os levava a hotéis, restaurantes e aeroportos. Sempre ganhava ingressos para os jogos, quando não vendia no ponto de táxi, dava pra alguém ou jogava fora. Foi chofer de um procurador da república que vez ou outra ia assistir aos jogos do São Paulo e seu Adelson ficava de plantão esperando o jogo acabar. Não entrava porque não era convidado e tinha que esperar o procurador e seus filhos e sobrinhos visitar o vestiário, tirar fotos, ganhar camisas e pegar autógrafos. Quando foi motorista de ônibus teve o destino de dirigir aqueles ônibus que saiam do centro direto pros estádios e agüentava os gritos de guerra das torcidas. Os torcedores além de não pagarem a passagem muitas vezes brigavam, faziam batucada no teto, cuspiam nos carros de passeio, rasgavam e rabiscavam os bancos,as vezes quebravam vidros, era uma baderna, até que a prefeitura viu que era inviável esse tipo de condução.
Mesmo assim seu Adelson nunca tinha ido a um estádio assistir o seu time do peito. Agora que está no ócio, sua alegria é acompanhar o palmeiras na tv e no rádio. Comprou com as últimas economias que tinha uma camisa novinha não era oficial mais era uma réplica bem feita.Por outro lado Sr. Adelson estava muito triste por que não estava conseguindo arrumar emprego, alegavam que sua idade já não dava para cargos pesados. Ele só queria dirigir, era isso que sabia fazer dirigir. Nem a aposentadoria conseguia porque perdera a carteira de trabalho e trabalhou boa parte da sua vida na roça só depois de jovem veio pra capital paulista. Começou a beber e o pouco dinheiro que tinha estava gastando na bebida. Nunca foi de beber exageradamente, apenas uma cervejinha socialmente como costumam dizer, agora era cachaça pura e chegava cambaleando. Dionísio e sua irmã, Mariana e a mãe dona Bete deram-lhe conselhos e conversaram seriamente com seu Adelson. Esse em lágrimas respondeu que estava desgostoso da vida, homem sem emprego era homem inútil, se sentia velho e queria voltar pra sua terra, a Bahia, de qualquer jeito, coisa que os filhos não queriam de jeito nenhum.
Parou pra pensar o quanto antes, ainda bem que nunca gostou muito de pinga, só gostava dos efeitos pois o gosto era horrível, pelo menos para o seu paladar. Isso o ajudou a largar a pinga que ele já bebia a uns dois anos.
Parando com o vício da pinga, agora apenas fumava cigarros de palha e beber só cervejinha no final de semana. Só que agora o que o atrapalhava era o vicio do bingo, era noite e dia no bingo, quando ganhava era festa fazia compras e dava dinheiro pra dona Bete, mas quando perdia (o que era rotina) voltava reclamando que nunca pisaria o pé naquele inferno.Dinheiro que vinha dos bicos e não sei de onde mais. E quanto mais falava, mais ia, e assim vai levando a sua vida entre o bingo e em casa vendo os jogos na tv.
Realmente era incrível como ele torcia, se sentia no estádio, gritava, comprava fogos, xingava e vibrava a cada lance.
Dionísio sempre ia com os amigos aos jogos do São Paulo, tinha sido membro da torcida organizada. Sua mãe ficava preocupada quando Dionísio saia em turma todos com camisas do time e gorros na cabeça. As vezes ele voltava com hematomas no corpo, galos na cabeça,sujo de sangue e olho roxo de confrontos com torcidas rivais ou policiais.
Até que as torcidas organizadas foram banidas e ele amadureceu, sossegou e só ia ás vezes em clássicos ou jogos importantes. Dionísio observando a inquietação do pai diante da tv pensou se ele fosse a um estádio então ficaria louco. Ficou com dó do pai ali torcendo, pensou que como bom filho deveria levar seu Adelson no clássico contra o Corinthians. Dionísio não iria gritar gol nem nada era só pra levar o pai a primeira vez num estádio (aproveitaria pra torcer contra o timão). E comentou se ele gostaria um dia de ir assistir a um jogo do Palmeiras em um estádio. Os olhos do Sr. Adelson brilharam de emoção e euforia e ele respondeu que um dia iria realizar esse sonho. Dionísio falou que teria um clássico no próximo final de semana, Palmeiras e Corinthians no Morumbi, e ele iria levá-lo. Aquela semana Sr. Adelson só pensava no jogo, acompanhou os preparativos para o jogo pelos jornais a expectativa dos jogadores, técnicos e torcida. O jogo valia uma vaga para a semi final do campeonato paulista daquele ano. Avisou para o pai que era perigoso ir de camisa, mas Sr. Adelson fazia questão de ir com, e colocou por baixo de uma outra chegando lá trocaria. Chegou o dia do jogo, levantaram as dez da manhã e tomaram um café com pão e manteiga. Dionísio já tinha passado na federação e comprado o par de ingressos. E lá foram os dois, pegaram o ônibus as treze horas da tarde e chegaram ao Morumbi as quinze em ponto. Pararam numa barraca onde vendia-se sanduíche de peito de peru, de pernil, de calabresa (todos muitos cebolados), cerveja e refrigerante e a fumaça sobe num calor de quarenta.
Existem inúmeras barracas dessas em volta do estádio
Sr. Adelson viu o movimento e ficou feliz, pois só via verde e branco nas pessoas que esperavam a abertura dos portões B onde ficaria a torcida do Palmeiras. Já passou ali naquela avenidas inúmeras vezes, agora tinha uma visão diferente. Tentou imaginar como era lá dentro, como na tv? Faixas e gente pulando e gritando. Viu alguns jovens mal encarados com toca e tirando as camisas da mancha verde e guardando no carro que vieram, ao mesmo tempo o flanelinha tentava receber antecipadamente. Comprou um sanduba de pernil com bastante cebola num pão francês crocrante. Carros buzinavam, uns gritavam , verdão!!! Sr. Adelson ria. Mais para o canto tinha uma turma de torcedores com bandeiras e instrumentos de escola de samba, quando chegou a cavalaria da policia e dispersou todos com cacetetes e foi a maior correria.
Abre-se os portões Sr. Adelson toma o último gole de cerveja e joga a latinha para um senhor que as recolhia pra vender.
Ele sente seu coração pulsar, a fila está imensa pra revista, o sol está forte eis que sua mente turva. Sr. Adelson se sente fraco e põe as duas mãos na barriga gemendo de dor, cai quando ainda atravessava a rua. Dionísio apavorado pede ajuda algumas pessoas mais solidárias ajudam a puxar Sr. Adelson pra calçada tiram sua camisa e pede para que não fiquem muito em cima por causa do ar. Sr. Adelson está branco e tem o suor frio. Com muita dificuldade chega depois de vinte minutos um carro da policia leva Sr. Adelson para o hospital.
Uma hora e meia depois Dionísio espera ansioso noticias do pai, e o um médico o chama para dar a noticia. Infelizmente o paciente Sr. Adelson não resistiu e entrou em óbito,os motivos são; infecção estomacal generalizada e duas paradas respiratórias seguidas.
No final o Sr. Adelson perdeu a vitória do seu time por um a zero em cima do rival.
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