Num belo dia de primavera, quando as flores tornam a vida dos homens mais alegre, a jovem mulher, ansiosa pela chegada de seu amado, o vê chegando com a mão direita estendida a dizer:
- Toma essa flor que te trago.
- Que flor? Não tens flor alguma!
- Ó minha vida, se eu fosse te dar uma flor, uma única flor, digamos, amarela, ou vermelha, estaria eu sendo o mais limitado dos homens.
- Por quê? Como me dás uma flor invisível; és louco?
- Não, claro que não. Quantas espécies de flor há no mundo? E delas, quantos cheiros, quantas cores?... Quando eu digo: toma uma flor, na verdade quero dizer: toma todas as flores do mundo, pra que fique em tuas mãos o perfume de todas elas; e enchas delas teu quarto, tua sala, teu banheiro, as ruas por onde andas, cada recanto onde pões teus pés, feito a rainha a cujo caminho se antecipam pétalas de rosas, jogadas por súditos que a vêem como a mais digna mulher do universo.
- Sendo assim, aceito tua flor invisível. Certo é que tua explicação pode ser muito bonita, até romântica, todavia nem todas as mulheres gostam de ser apenas simbolicamente amadas e honradas. Ficaria contente sim, se tivesses me dado uma singela e única flor, no caso de ser essa uma demonstração evidente do amor que dizes ter por mim.
- Não está longe o dia, minha doce vida, em que eu te darei não somente todas as flores do mundo, mas todos os tesouros escondidos na minha alma. E então verás que minha explicação não significa uma tola embromação, mas uma preparação necessária pra que teu coração compreenda que mesmo todas as flores do mundo um dia deixarão de existir; o meu amor por ti, jamais!
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