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Contos-->O PALETÓ DO COZINHEIRO -- 28/02/2002 - 12:35 (Maurilio Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ano era 1978, e acabávamos de chegar à cidade portuária de Southampton, na Inglaterra, a bordo do Navio Lloyd Liverpool. O mundo estava vivendo o "boom" da discoteque e John Travolta encantava a todos com os seus requebros em “Saturday Night Fever”, ou “Os embalos de Sábado à noite”.
Para nossa surpresa e satisfação, o nosso navio atracou na proa ( na frente) da fragata Constituição, da Marinha do Brasil, que estava sendo entregue ao governo brasileiro naquela ocasião. Aqueles marinheiros já estavam na Inglaterra há vários meses e ficaram super alegres em ver outra embarcação brasileira, adentrando o porto. Logo foi estabelecido um clima de cordialidade, onde foi promovido uma espécie de escambo. Como estávamos vindo diretamente do Brasil, foi logo proposto a troca de iguarias como cachaça por whisky, rapadura e outros produtos raros naquelas cercanias. Naquele mercado, uma garrafa de cachaça “Praianinha” ou “Pitú” valia mais de que um Johnny Walker ou outro similar.Uma peça de carne-seca, ou charque, era ouro, já que para aqueles marujos, devido ao longo tempo longe do Brasil, a dispensa quase não possuía produtos brasileiros.


À noite, saímos para um clube por nome “Mecca”, onde rolava um agito da melhor qualidade, tudo ao som de Bee Gees e outros grupos da moda. Ao chegar à portaria, tive a desagradável surpresa de ser barrado pelo porteiro, que alegou que sem um paletó não seria possível penetrar no salão.
Fiquei desolado. Como iria arrumar um paletó naquela altura do campeonato? Tanto sacrifício em vão. Para minha sorte, um grupo de marinheiros da Fragata presenciou o meu dilema, e um deles se aproximou e me disse: “ Olha amigo, se você quiser entrar nesse baile, dê uma chegada até a nossa fragata e procure o Cozinheiro Marcolino.....“Ele tem o seu porte físico e está de serviço hoje”....... “Peça o paletó dele emprestado e volte correndo para não perder o baile.”


Enfim uma luz no fim do túnel. Peguei um táxi, retornei ao porto e contatei o tal cozinheiro, indivíduo muito cortês, que sem a menor parcimônia foi logo me emprestando a valiosa peça. Era um paletó horrível, todo quadriculado, parecido com o que o Renato Aragão usava no seu programa “Os Trapalhões”, mas era o único disponível. Embarquei no táxi que me aguardava e regressei ao tal “Club Mecca”.
Desta vez entrei sem maiores problemas, e fui saudado pela marujada sorridente.
Resolvi dar uma voltas pelo salão, para melhor me situar, quando notei um olhar que me perscrutava dos pés à cabeça. Tratava-se de uma mulher de fino trato, elegante, madura e de sorriso encantador. Qualquer que fosse a minha posição no salão, eu não saía da sua linha de fogo.
Não me restou outra alternativa, senão tirá-la para dançar. Convite feito e prontamente aceito, lá fomos nós, deslizando pelo salão ao som de “How deep is your love” e outras baladas e depois em uma performance chacoalhante de “Stayin´Alive”, tudo sob os olhares sorridentes e estupefatos da marujada brasileira. Aquele paletó, a despeito de sua extravagância, havia me dado uma sorte inusitada.
Após danças e contradanças, o baile infelizmente chegara ao seu término. Foi então que Mary, esse era o seu nome, me convidou a esticar até a sua casa para um vinho, um queijo e uma música suave ao pé da lareira. Saímos de braços dados do clube, sob as bênçãos da rapaziada simpática.

Foi uma noite de gala. O fog, a fleuma britânica, tudo emoldurava aquele episódio .
Pela manhã, me despedi de Mary e retornei às pressas ao cais pois deveria entrar de serviço, mas não sem antes devolver o paletó de tão amável cozinheiro , que certamente iria usá-lo à noite em alguma badalação local.
Quando eu ainda estava me aproximando da Fragata, pude perceber que estava sendo aguardado, pois uma turma me apontava. Subi ao barco, cumprimentei as pessoas e mandei chamar o cozinheiro.
Depois de alguns minutos, eis que me surge a figura do prestativo amigo, só que dessa vez com uma cara de quem havia comido algo estragado. Na mesma hora lhe passei o paletó, agradecendo a gentileza. Foi quando ele me perguntou sobre a mulher que eu conhecera no baile. Eu lhe respondi que conhecera uma mulher maravilhosa , por nome Mary, e que havia tido uma noite espetacular no clube e depois em sua casa.


O cozinheiro, disfarçando o mau estar, desabafou: “ Pois é meu amigo, aquela mulher é a minha namorada aqui na Inglaterra.”....."O pessoal do navio em peso está pegando no meu pé por causa desse ocorrido".. “ Eles dizem que você pediu o paletó emprestado e eu emprestei a mulher também”
Como consolo eu só pude dizer que o mérito da conquista então não havia sido meu, mas sim do paletó.


Passado alguns anos, encontrei esse cozinheiro no centro do Rio de janeiro, e ele me revelou que não teve sossego durante o regresso ao Brasil. Veio até o Rio, agüentando a gozação da turma e que só de raiva colocou o paletó num boneco de Judas perto de sua casa,para o devido linchamento.




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