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Erotico-->19. A TAREFA DE JOSINEIDA -- 06/08/2002 - 07:04 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Deixemos Nepomuceno às voltas com o encaminhamento do querido Marcos às lides da evangelização e abramos extenso parêntese para nos referirmos às atribuições de Josineida.

Após a condução do casal Carlos e Catarina às sendas do espiritismo, pouco mais havia para ser feito por ela, uma vez que a influenciação se dava com amplo sucesso, tanto em relação a um quanto à outra. O mais que desejava fazer era posicionar-se ao lado de bom médium psicofônico no centro, mas se via impedida por expressa ordenação superior. Virgílio havia dito para encorajar os filhos, mas proibiu-a de referir-se aos trabalhos de assistência que lhes seriam destinados mais tarde em relação a Alfredo.

Sendo assim, Josineida tinha pouco para realizar e passava longas horas em tertúlias com Adelaide, com quem ia afinando-se, apesar de ser criatura muito arisca no que respeitava a cumprir ordens. De qualquer modo, não lhe pedindo para realizar nada, tinha-a ao pé de si para a troca salutar de idéias.

Essas conversas eram longas e entrecortadas de lamentações de oportunidades perdidas, especialmente por Josineida, que se desesperava por não ter tido a acuidade intelectual de ter percebido que melhor deveria ter cuidado do marido e dos filhos. Se tivesse feito por eles algo mais em época oportuna, possivelmente o quadro de suas vidas não estaria tão negro. Culpava-se, entretanto, mais para o desforço de retirar da amiga as informações que lhe dariam a real configuração do relacionamento dela com Carlos.

Adelaide, contudo, atilada, não se submetia ao jogo de Josineida, revelando-lhe tão-só o que julgava oportuno, para incrementar-lhe o desejo de ajudar o filho. Incentivava-a a recrudescer a solicitude de mãe, o que refletiria em benefício para o ex-companheiro. Nesse quadro, Catarina aparecia como intrusa para Josineida, todavia, era irrestritamente aceita pela amiga, como se fora parte integrante de um trio formado de amor. Acresce saber que os netos de Josineida também eram como irmãos para Adelaide, de modo que tudo indicava íntimo relacionamento do grupo todo em encarne anterior.

À vista de tal situação, às vezes, Josineida se sentia como estranha ao conjunto, de modo que assumia ares de protetora sem vínculo, para sufocar certo despeito que se lhe instalava na consciência.

Mas Virgílio estava atento ao jogo de interesses daqueles dois espíritos ainda mergulhados na psique feminina, de sorte que, toda vez que se toldavam as intenções de ajuda mútua, providenciava algo para demonstrar que o objetivo de ambas era preservar a família de males maiores. Foi por essa razão que colocou na mente de Carlos certa dúvida de caráter moral, que se transformaria em sério abalo de consciência.

Pela altura da décima visita ao centro, quando o casal já se capacitara a admitir a lei de causa e efeito e a necessidade da reencarnação, Carlos principiou a meditar profundamente a respeito dos negócios que promovera durante toda a vida e o meio utilizado para arrecadar dinheiro. Lembrou-se do velho pai a indicar-lhe as fórmulas capazes de burlar o fisco e a necessidade de agradar os clientes com saídas eficazes para diminuir os gastos. Sabia que muitos funcionários e ex-funcionários ficaram ricos aplicando certos expedientes de seu conhecimento. Entretanto, adotando a política do pai, “azeitava” a mão de quanta autoridade podia, para que os negócios se fechassem de modo a prevalecerem os interesses individuais.

Recordou-se da cutilada que recebera ao desferir de modo errado certo golpe financeiro em pessoa que não suspeitava tão agressiva. Não chegara a armar a trama que incidiria em vantagem para todos e recebeu a facada certeira, que o retirara de circulação por algum tempo. Tantos anos decorridos e ainda sentia o frio do aço a penetrar-lhe pelo abdômen.

Ia sacudir a cabeça para afastar tais idéias, quando lhe ocorreu que poderia ter sido aquele mal o indício de que deveria refletir a respeito das atitudes de vida. Fora por aquela época que avaliara as incursões da família pelo campo dos vícios e do crime. Espírita de primeiras letras, era capaz, no entanto, de ver nos acontecimentos a mão dos protetores familiares. Estaria a mãe ou o pai por trás de tudo o que lhe ocorrera? Que voz era aquela que lhe dava estremecimentos quando lhe recomendava amar a família e cumprir os compromissos do encarne e que se identificava como Adelaide? Parecia repercutir no fundo da alma aquele nome, como se já tivera sido íntimo de alguém com aquele apelido. Seus conhecimentos da doutrina faziam-no suspeitar da possibilidade de estar diante de algum espírito muito chegado de outras encarnações, mas não atinava como poderia ser aquilo, uma vez que se apegava em profundo amor, em ânsias de paixão à sua doce Catarina.

Refletia, então, sobre a vida e sobre a família. Via os meninos crescidos a ameaçarem desalojá-lo de sua posição no tabelionato. Ensinara-lhes todas as formas de serem bem sucedidos na profissão, mesmo aquelas que subtraíam ao governo a sua maior parte. Ei-lo de volta a meditar a respeito dos erros da vida.

Era assim que passava os últimos tempos. Esse volteio que dava em torno da necessidade de agir corretamente, para fazer jus ao progresso espiritual, obrigava-o a tropeçar freqüentemente nos atos errados. Aos poucos foi tornando-se taciturno e triste. Não via saída para os males realizados. Às vezes, pensava que fora esse o crime que o pai intentara superar ao final dos dias. Será que o velho houvera logrado safar-se das agruras morais? Teria também ele de abrir mão das propriedades?

Nesta altura das cogitações, lembrava-se de Catarina e via-a bem viva, ao contrário da mãe, que partira bem antecipadamente, liberando o caminho para as obras de benemerência do velho Nepomuceno. Carlos tinha especial afeto pelo pai. Houve um tempo em que este se afastou da família, sem que chegasse a entender-lhe as razões. Começava agora a refletir a respeito do despojamento demonstrado pelo pai, sentindo-se inferiorizado em relação às fortes decisões que deveria tomar na vida.

Bem sopesando os fatos, se desfizesse os negócios espúrios, simplesmente, levaria inúmeras pessoas a enfrentar as malhas da lei, em cujos tribunais certamente seria vencido, por estarem muitos dos fatos inteiramente prescritos. O governo não constituíra advogado que o representasse diante do poder judiciário e isto fazia com que todos se sentissem seguros de suas propriedades. De cambulhada, apareceram-lhe na mente os filhos e o irmão Alfredo, todos ameaçados por sua atitude de “pureza” e “desprendimento”. Recordou-se do pai mais uma vez e viu que o caminho não estava em sacrificar as demais pessoas, mesmo porque a lição poderia não vir a ser aproveitada.

Esse tormento, porque era verdadeiro tormento, instalava-se rapidamente na mente de Carlos. Para efeito da narrativa, apontamos de modo ordenado o que, na verdade, era pura agitação.

Josineida e Adelaide, diante do fato novo, que, aliás, deveriam estar esperando, esqueceram-se de seu esgrimir de astúcia e partiram para o socorro oportuno.

Imediatamente, acionaram Catarina, no sentido de fazê-la pôr-se a par do que ocorria no íntimo do marido. Ela mesma passava por alguma pressão psicológica, em virtude das revelações cármicas do espiritismo, mas nada tão intenso e dramático quanto à avalancha dos problemas que assoberbavam a mente ao esposo. Lembrava-se da injusta ciumeira com relação à sobrinha e penitenciava-se, imaginando-se recepcionando-a em casa, ao tempo em que pretendia “salvar” a alma do tio. Crucificavam-na a lembrança dos males que sofrera a pobre criança em mãos dele e a sua frieza em imaginá-la falsificando sensações de dor e de angústia. Menosprezara aquela suave criatura que manifestava o desejo superior de perdoar o maior inimigo, disposta até ao sacrifício para reverter aquele quadro de perversidade. Mas a sua atitude não se refletia na mente com a mesma força que no marido, uma vez que, para ela, os seus próprios “crimes” não haviam saído do âmbito das intenções, enquanto, para ele, tudo se transformara em atos palpáveis e demonstráveis.

Adelaide, independentemente das atitudes “oficiais” da companheira, não hesitava em contrariar certos tópicos vedados à outra e dizia, por meio de rodeios e de metáforas, tudo o que julgava oportuno, nas exposições no centro. Josineida, ao contrário, protocolarmente, insistia para que o casal prosseguisse nos estudos da doutrina. A primeira instigava a análise percuciente das causas e efeitos dos sentimentos e idéias que borbulhavam na mente e no coração de cada um. A outra dispunha as considerações na ordem do dia dos eventos de caráter universal, insistindo para que se desse azo ao conhecimento profundo dos ensinamentos espiritistas. A primeira praticava o evangelho. A segunda propugnava-lhe o estudo.

Virgílio supervisionava os acontecimentos no âmbito das consciências, julgando que as atitudes díspares das auxiliares iriam condensar-se fatalmente no ânimo dos pupilos encarnados, para fazê-los deliberar corretamente em prol de seu soerguimento espiritual. Se tudo decorresse como esperava, estava próximo salutar desfecho dessas agonias conscienciais. Bastava pequeno empurrão no campo das decisões capitais. Era o que iria fazer. Para isso, em elaborada situação de constrangimento, obrigou o marido a revelar à esposa todos os temores. Em conversa bem franca, Catarina expôs todos os seus receios e ambos, amparados um no outro, resolveram que deveriam afastar-se dos negócios para dar tempo ao tempo, na configuração da melhor solução para seus dramas.

Agradeceram a Deus a influenciação clara que perceberam provinda da espiritualidade e chamaram os filhos para a partilha imediata dos bens e distribuição das responsabilidades. Agiam sob o impulso forte do desejo de cumprirem a palavra de Jesus, mas intensamente motivados pelas lutas que julgavam ter de enfrentar. Não se aposentavam para espairecer a mente nas viagens de recreio. Visavam ao trabalho junto aos necessitados.

Ao contrário de Nepomuceno, expuseram lealmente aos filhos todo o drama íntimo que os afligia, não lhes permitiram palavra de desagrado ou de reprovação e abriram o jogo, no intuito de encaminhá-los à verdade existencial revelada pelo espiritismo. Era preciso seguir o caminho dos pais, para não se verem um dia lançados às garras do remorso.

Os filhos respeitaram-lhes a vontade, especialmente porque tudo lhes passava às mãos, ficando reservados os direitos de usufruto de algumas propriedades, o que garantiria ao casal tranqüila aposentadoria. No fundo dos corações, contudo, decidiram-se por crescer em bens materiais, já que lhes era preciso garantir o futuro aos filhos pequenos. Mas foram obrigados a aceder, como condição moral, em instruírem-se na doutrina.

Foi a vez de Josineida reunir-se no etéreo com o filho, a nora e Adelaide, para o encontro do reajuste das diretrizes que norteariam o objetivo maior da salvação de Alfredo. Foi a vez de Nepomuceno apresentar-se por meio de comunicação a distância, para confraternização e apoio.

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