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Artigos-->ESTILOS DE ÉPOCA -- 14/10/2001 - 11:20 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
REFLEXÕES SOBRE A TEORIA E A PRÁTICA DOS ESTILOS DE ÉPOCA





João Ferreira

outubro de 2001





INTRODUÇÃO



O problema dos estilos de época em Literatura coloca-se quando se procura situar um texto literário no tempo. Sob o ângulo do tempo, esse texto ganha características estéticas e históricas próprias de uma determinada época.Quando analisamos a evolução literária transmitida pela história da literatura, encontramos movimentos estéticos, correntes, períodos e manifestações, encaixados num determinado tempo histórico. Nessa evolução ficam patentes as manifestações comuns provenientes de grupos, de manifestos e de escolas, mas encontramos também características singularizadas que revelam o estilo de cada escritor.É por isso que quando colocamos a questão dos estilos de época em Literatura, encontramos, a partir da própria expressão a base para uma reflexão sobre um dos pontos mais praticados no estudo da Literatura. Falar de estilos de época é defender a necessidade de estudar e pesquisar o fenômeno literário como um todo, nos textos e nos contextos. A colocação do problema obriga-nos a uma conscientização do papel do tempo e do espaço na literatura, assim como a uma análise do universal na sua relação com o particular e do particular na sua relação com o universal. A condução deste processo de pesquisa e de conscientização da realidade literária dá-nos também uma abertura para o conhecimento dinâmico da literatura, enquanto expressão do "eu literário" e de sua circunstância. Convida-nos, por outro lado, à utilização de uma metodologia que nos leva à descoberta de várias realidades e polifonias no texto literário. A base de todo o trabalho de pesquisa será a aplicação do princípio de intertextualidade e da metodologia da literatura comparada. Nesse trabalho, textos de vários autores e obras pertencentes a diferentes gêneros, podem mostrar, no contexto de uma época, mundividências , iteração temática, princípios estéticos comuns dominantes em determinada época, sem deixar, ao mesmo tempo, de preservar a individualidade literária e estilística de cada autor. É imprescindível, para isso, o confronto textual, através do serviço dos métodos críticos. Nesse estudo de confronto, aparecerão a intencionalidade estética, as temáticas, os princípios estruturantes da obra e as marcas do estilo de época.

Para tornarem o estudo acessível e a difusão mais didática, os manuais e as histórias da Literatura ocidentais, usam comumente o método da divisão periodológica e o estudo da Literatura através dos estilos de época, persuadidos de que este proporciona simultaneamente uma visão cronológica da evolução estético-literária.

Segundo Afrânio Coutinho, a periodização é o problema metodológico de maior importância dentro da história literária. Mas é ao mesmo tempo um problema difícil. Essa dificuldade nasce principalmente do fato de que as divisões periodológicas da história literária têm sido condicionadas às divisões da história geral, a qual é vista ora sob um ângulo político (era elisabethiana, vitoriana), ora sob um ângulo cronológico. E isso não basta. Quando estudamos a divisão periodológica da literatura portuguesa, por exemplo, encontramos nos autores várias maneiras de encarar o processo evolutivo. Há autores que preferem o uso de denominações da História Geral (Idade Média, Tempo do domínio filipino), outros que lançam mão de denominações numéricas como Literatura portuguesa do século XVI, do século XVII, do século XVIII, do século XIX, do século XX. Outros preferem falar simplesmente de quinhentistas,de seiscentistas, de oitocentistas, de literatura contemporânea, etc. Há, por sua vez, outros autores que utilizam terminologia proveniente da história da arte (literatura renascentista, barroca, realista). Outros ainda, usam termos de movimentos estético-literários (Classicismo, Romantismo, simbolismo, futurismo, surrealismo,etc). Igualmente na Literatura Brasileira, as divisões tradicionais tomam por base, com pequenas diferenças, os critérios políticos e históricos. Do modo de entender a história literária, provém, segundo Afrânio Coutinho, a forma como certas histórias da literatura falam da era colonial, da era nacional e também as subdivisões a maior parte das vezes arbitrárias, em séculos e escolas literárias.

Afrânio Coutinho mostra também que existe uma enorme confusão e impropriedade devido à variedade terminológica referente às divisões: era, época, período, fase, idade, que são empregados ora como sinônimos ora como termos diferentes. Na proposta de periodização da literatura portuguesa, Fidelino de Figueiredo usa o termo "era"como o mais amplo de todos (era medieval, era clássica, era moderna) e "época" para as subdivisões, em sentido cronológico. Nestes processos, não há dúvida de que os autores procuram arrumar as fases evolutivas, procurando um vínculo e uma relação cultural. Mas a verdade é que faltaria, segundo críticos renomados, um critério científico que pudesse justificar toda essa variação. Muitas vezes é a necessidade e a clareza didática que imperam, outras vezes é o marco temporal do século, outras vezes, o movimento estético dominante da época. Como reação contra aqueles que interpretaram o período literário em dois sentidos extremos, seja como entidade metafísica a ser intuída,seja como símples rótulo linguístico, a nível de concepção nominalista, devemos dizer, na sequência do que escreveram René Wellek e Austin Warren em "Teoria da Literatura" e Guilherme Merquior no capítulo "Estilo e épocas"publicado em "Teoria Literária" de "Tempo Brasileiro"(Rio, 1975) de que o período literário deverá ser estabelecido apenas por critérios literários (Lisboa, Public. Europa-América, 335).

Segundo esses autores, "um período é uma seção de tempo, encaixada no desenvolvimento universal, dominado por um sistema de normas, padrões e convenções literárias", cujo aparecimento, difusão, diversificação e desaparecimento podem ser traçados"(Wellek). Cada obra de arte deve ser compreendida como uma aproximação a esse sistema ou a esse modelo; por outro lado, o sistema de ideias reguladoras e normativas devem ser derivadas da arte literária, a fim de que o desenvolvimento da literatura possa ser dividido e entendido em categorias literárias: "A história de um período consistirá em mostrar a ascensão e a decadência de um sistema de normas e as mudanças de um para outro sistema.

Partindo para o campo da análise histórica, verificamos que nas literaturas ocidentais, a história da literatura é normalmente iniciada pelo estudo da literatura medieval representada pela poesia popular do trovadorismo, prosseguindo depois pelas novelas de cavalaria e prosa doutrinal. A seguir vem o humanismo-classicismo, o renascimento, o maneirismo, o barroco, o neo-classicismo, o pré-romantismo, o romantismo, o realismo e o naturalismo, o parnasianismo, o simbolismo, o modernismo, as vanguardas modernistas (cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo, expressionismo e outras vanguardas) e literatura contemporânea.

Se nos situarmos na condição de leitores, de alunos ou de professores de instituição de ensino superior, ou de intelectuais e pesquisadores ou de simples eruditos, sentiremos a necessidade de manter nosso estudo permanentemente voltado para dois horizontes: o primeiro deles, o horizonte do texto literário de um escritor, com a toda a particularização ôntica, de ser e parecer. A individualidade e a peculiaridade de um escritor é o momento mais emocionante da leitura. Nele aprendemos e nele sentimos a força da mensagem e do estilo, a realidade intersubjetiva, o poder da escrita, e as nuances hermenêuticas. O segundo horizonte privilegia-nos como seres sociais engajados numa cultura coletiva e num círculo hermenêutico próprio de um grupo social. Esse horizonte obriga-nos à perseguição de uma análise mais abrangente, de um exercício da intertextualidade e do auxílio dos princípios da literatura comparada para aliviar nossas dúvidas. Em consequência disso não podemos deixar de estudar as características comuns de uma época que serão encontradas no espaço da pesquisa sobre a obra dos autores de uma época ou de um período dado, ou seja, as características estético-literárias dos estilos de época.

Após estas observações introdutórias, vem a pergunta pertinente e necessária: mas o que são esses badalados "Estilos de época"? Como entendê-los, como compreendê-los e como analisá-los?



I. CONCEITUAÇÃO DE "ESTILOS DE ÉPOCA"



Para chegarmos aos conceitos apropriados ao entendimento dos estilos de época, vamos recorrer a sete conhecidos críticos literários: Afrânio Coutinho, Vítor de Aguiar e Silva, René Wellek-Warren, José Guilherme Merquior, Raul H. Castagnino, Massaud Moisés e Domício Proença Filho.

1.1. Na "Introdução à Literatura no Brasil"( 6.@ ed., Rio, Civilização, 1978, p.24- 25), Afrânio Coutinho apresenta uma síntese do que seja "estilo de época", citando texto de Hatzfeld:

"Estilo de época é a atitude de uma cultura ou civilização que surge com tendências análogas em arte, literatura, música, arquitetura, religião, psicologia, sociologia, formas de polidez, costumes, vestuário, gestos, etc. No que diz respeito à literatura, o estilo de época só pode ser avaliado pelas contribuições da feição de estilo, ambíguas em si mesmas, constituindo uma constelação que aparece em diferentes obras e autores da mesma era e parece informada pelos mesmos princípios perceptíveis nas artes vizinhas".



1.2. O notável catedrático português e teórico da Literatura Vítor de Aguiar e Silva, escreve em sua "Teoria da Literatura"(Coimbra, Almedina, 1993, pp. 413 e segs.) :

"A ocorrência, no âmbito de um dado tempo histórico e de uma dada comunidade cultural de um conjunto de textos literários com marcas similares, atinentes quer à forma do conteúdo, quer à forma da expressão, só é explicável racionalmente pela existência e pela ação do mesmo código literário - ou da mesma corrente de gosto estético-literário, como se diria numa terminologia pré-semiótica ou não semiótica - prevalentemente aceita por autores/emissores e por leitores/receptores [...](p.413-414). "Os períodos literários e os estilos de época representam,tal como os gêneros literários, construções teoréticas elaboradas hipotetica-dedutivamentea partir de um conjunto de dados observacionais, isto é, de fenômenos literários, artísticos e culturais. e que podem, como qualquer construção teorética ser corroboradas ou infirmadas por via intrateórica(coerência interna), por via interteórica(adequação ou contradição, com outras teorias não infirmadas) e através de provas de testabilidade empírica[...] (Ib. 415). "Espírito de época"é uma expressão consagrada em autores alemães posteriormente divulgada entre autores latinos e ocidentais. É o "Zeitgeist"de Hegel e de Dilthey e designa a concepção de que o espírito está presente nas principais manifestações vitais, sociais, culturais e artísticas de um determinado período histórico (Ib. 423), atingindo características singulares.



1.3. René Wellek- Austin Warren, em "Teoria da Literatura"(Lisboa, Europa-América (1971) escrevem: "Se é possível descrever o estilo de uma obra ou de um autor, não há dúvida de que podemos descrever também o estilo de um grupo de obras de um gênero: o romance gótico, o drama isabelino, o poema metafísico; e de que podemos também analisar tipos estilísticos tais como o estilo barroco da prosa do século XVII. Podemos generalizar mais ainda e descrever o estilo de um período ou de um movimento"(Ib. 231).

Wellek propõe que consideremos "período estilístico um segmento temporal dominado por um sistema de normasd, padrões e convenções literários, cuja introdução, expansão, diversificação, integração e desaparecimento possam ser traçados. Nesse sentido, a unidade do estilo de época, sempre relativa, constitui basicamente uma função de plenitude, ainda que aproximada, do aludido modelo de normatividade do período".



1.4. José Guilherme Merquior em seu trabalho sobre "Os Estilos históricos na Literatura Ocidental " ( Teoria Literária, Rio, Tempo Brasileiro, Biblioteca Tempo Universitário, 42, 1975, pp. 4O ss), ocupa-se dos grandes períodos estilísticos da literatura ocidental moderna, ou seja dos sucessivos estilos de época, desde a Renascença[...] A natureza dos estilos de época- diz Merquior - é com efeito tão cheia de prismas, tão multifacetada e tão rebelde as definições unívocas que é grande a tentação de considerar esses conceitos histpriográficos como simples rótulos práticos, completamente destituídos do real valor cognitivo.Mas essa visão das coisas, a pretexto de rigor, acaba por violentar a realidade[...) Tanto quanto os estilos do autor, os estilos epocais existem - por mais esquivos que sejam ao arsenal classificatório da história da literatura. Podemos aprimorar os instrumentos lógicos utilizados para compreendê-los, porém não temos o direito de fingir que se trata de puras fantasias arbitrárias, imotivadas pela realidade da literatura"[...] (p.4O). Os conceitos periodológicos são para Merquior categorias históricas e não realidades lógico-epistemológicas e portanto são essencialmentre esquemas heurísticos, meios de pesquisa e "não fotografias da infinita polivalência do processo histórico"( p.41).A nível terminológico prefere que se fale de "estilos históricos"em vez de períodos históricos e mesmo de "estilos de época".(p.42).



1.5. Raul H. Castagnino, na obra "Tempo e expressão literária"(São Paulo, Mestre Jou, pp. 27-3O), diz que "em uma época há ideias e teorias dominantes, preponderância de razão, ou imaginação, de idealismo ou materialaismo. Na atmosfera de uma época percebem-se irradiações otimistas ou pessimistas, euforias coletivas ou depressões, angústia e neurose. No plano da arte pode-se assinalar a época por seu sentido de ordem, do acatar disciplinado de modelos e cânones ou por uma propensão para a originalidade rebelde. Cada época oferece ao criador temas, enfoques, ideias, perspicácias ou cegueiras. Vida e arte condensam para cada época sua concepção particular do mundo[...] Esta evolução, estes quadros de época testemunham-se nas criações literárias [...; a época filtra presença e influxo: ideias, estilo, sentimentos, temas ou condutas denotam seu espírito declarado ou implícito [...]".



1.6. Massaud Moisés, da Universidade de São Paulo, em seu "Dicionário de Termos Literários"(São Paulo, Cultrix, p. 2O5), ao desenvolver o verbete "Estilo"tem este pronunciamento: "Aceitando que o estilo refere o modo particular como são manipulados os recursos de uma língua, podem-se considerar: a) "estilos de época"ou seja, soluções linguísticas empregadas por vários indivíduos em determinado lapso de tempo ( por exemplo, o estilo romântico, o estilo realista, o estilo impressionista,etc); b) "estilos individuais", ou seja, as soluções preferidas por um escritor, dentro do que se denomina "estilística do indivíduo". Num caso ou noutro, é procedente vincular o estilo à questão das visões de mundo ou mundividências, naquil;o em que o estilo implica uma dada forma de conceber o homem e a realidade"(ib. 2O5).



1.7. Por sua vez, o bem conhecido e divulgado manual sobre "Estilos de Época na Literatura"de Domício Proença Filho, no capítulo específico sobre "Estilo individual, estilo de época"(pp.51-69) começa por nos intrioduzir no debate citando um texto de Otto Maria Carpeaux: "Há em todas as épocas o tipo ideal daquela época, o homem medieval, o homem renascentistas, o homem barroco, o homem classicista, o homem romântico; e esses homens seriam mudos e por consequênmcia esquecidos se certos entre eles não tivessem o dom da expressão artística, realizando-se em obras que ficam"(Ib. 62). Desenvolvendo a ideia de Carpeaux, Domício Proença Filho defende que "há um estilo que empresta fisionomia própria e inconfundível a cada época e que se traduz em características comuns aos vários escritos representativos desta mesma época". Entrando diretamente na conceituação, Domício Proença Filho, citando texto de Helmut Hatzfeld veiculado pela "Introdução à Literatura no Brasil" de Afrânio Coutinho, afirma que o estilo de época pode ser entendido como "a atividade de uma cultura que surge com tendências análogas nas manifestações artísticas, na religião, na psicologia, na sociologia, nas formas de polidez, nos costumes, nos vestuários, gestos, etc. No que diz respeito à literatura, o estilo de época só pode ser avaliado pelas contribuições do estilo, ambíguas em si mesmas, constituindo uma constelação que aparece em diferentes obras e autores da mesma era e aparece informada pelos mesmos princípios perceptíveis nas artes vizinhas". Dentro desta visão, as unidades periodológicas em que costumamos dividir a história da literatura passam a caracterizar-se pelos traços estilísticos que predominam e levam a determinar as marcas gerais da de tempo considerada".



II. OS ESTILOS DE ÉPOCA PREDOMINANTES NA HISTÓRIA LITERÁRIA



Depois de buscarmos uma noção de estilos de época, chamando à pedra conhecidos especialistas que já se pronunciaram sobre o assunto, é agora ocasião de analisar os períodos estético-literários que no Ocidente mais se notabilizaram. Registraremos e caracterizaremos, mediante a apresentação de um perfil histórico, estilístico e mundividente, os estilos mais destacados.



2.1. TROVADORISMO MEDIEVAL



Quando falamos de literatura medieval na história literária portuguesa entendemos a abrangência do trovadorismo vigente nos séculos XII,XIII e XIV, as novelas de cavalaria e a prosa doutrinal dos cronistas desde Fernão Lopes, Zurara e Rui de Pina, até aos Nobiliários, Corte Imperial e traduções clássicas e religiosas. Na fase trovadoresca encontramos a literatura feminina, encarnada pelas canções de amigo, onde a protagonista é a mulher apaixonada.No outro pólo está a poesia cortês, provençal, em moda nos serões das cortes reais. É uma cultura que traduz a ambiência rural, por um lado e a ambiência da corte. Os textos das novelas de cavalaria mostram a circulação das histórias romanescas da cavalaria medieval, aplicada em cruzadas e hist roias de amor.

Apresentamos poesia de Pero Viviães "Pois nossas madres vam a San Simon"(cantiga de amigo) e "Foi um dia Lopo jogral"de Martim Soares (Cantiga de escárneo).



2.2. RENASCENTISMO



Entre as características do estilo renascentista está o recurso aos modelos estéticos greco-romanos. No período que vai do século XIV ao século XVI, temos o "dolce stile nuovo"de Petrarca, a revolução estética da relação das letras com as artes italianas, a renovação da pintura, os princípios humanistas comandando o processo da renovação da mundividência renascentista, uma etapa nova nos conhecimentos geográficos e científicos através do descobrimento do mundo graças às navegações portuguesas e espanholas. Entre os textos tipicamente renascentistas, as odes, as canções, as éclogas camoneanas, a poesia de Sá de Miranda e os Lusíadas, em geral, enquanto são o espelho de uma técnica usada na epopeia clássica da Odisseia de Homero e da Eneida de Vergílio, com reserva para alguns aspectos maneiristas assinalados na mistura da mitologia greco-latina com deuses e fados em abundância misturados à fé e à crença cristã dos portugueses. O soneto "Transforma-se o amador na coisa amada" e O Concílio dos deuses dos Lusíadas (Canto I, 2O) é uma amostragem do recurso à cultura clássica na estruturação do poema.



2.3. MANEIRISMO



Por maneirismo se entende a tendência estética da segunda metade do século XVI que se caracteriza pela desintegração do relativo equilíbrio clássico do Renascimento, pela ruptura da noção de harmonia entre a natureza e a razão e pela perda da própria concepção humanista de um mundo antropocêntrico. Efeitos de surpresa, gosto do bizarro, predileção pela ambiguidade, anti-naturalismo, busca da beleza ideal, abandono da clareza renascentista, mistura do profano e do sagrado, complexidade decorativa,etc.

O maneirismo foi inicialmente formulado e utilizado pelos histpriadores da arte, e adotado, anos depois, pelos críticos e historiadores da literatura. John Shearman, em sua biografia sobre o Maneirismo (São Paulo, Cultrix, 1978) afirma que as formas características deste estilo são em primeiro lugar a "forma serpentinata", que exprime a contorção da cobra viva em movimento e o movimento da chama. O nome de "forma serpentinata"deve-se a Miguel Ângelo e já se encontra no "Trattato"de G.P. Tomazzo, publicado em 1584. A segunda característica do estilo é a atenção dada ao pormenor, ao detalhe, às maravilhas, ou seja, ênfase à parte em relação ao todo.

Entre os textos de índole maneirista, estão alguns sonetos de Luiz Vaz de Camões: "Alma minha gentil, que te partiste", pode ser um exemplo e a redondilha "Sobolos rios que vão/Por Babilônia me achei/ onde sentado chorei/ As lembranças de Sião/ E quanto nela passei". Neles se encontram misturadas teses cristãs de céu, assento etéreo, Deus, repouso eterno, com conceitos pagãos, o contraste entre vida mundana e vida celeste, metáforas bíblicas, lembranças pastoris, conceitos platônicos idealizados, conceitos místicos de bem-aventurança.

Walkyria de Oliveira de Melo, em seu livro "O maneirismo: um estilo de época"(Belém, Universidade do Pará, 1983) apresenta Gregório de Matos como um maneirista.



2.4. BARROCO



Ao contrário do Renascimento que defendia que a natureza era boa, bela e verdadeira, o Barroco sustenta que a natureza nos engana: "A natureza nos engana: não é verdadeira; uma beleza mentirosa pode superar a beleza natural: o natural não é nem mais belo nem melhor". Há também um importantíssimo estímulo material para o desdém barroco pela natureza: o desenvolvimento incipiente da técnica que mostra às claras a superioridade do artifício sobre o natural (BOUSOÑO, Carlos. - Épocas y Evolución,II, Madrid, Gredos[1983], p.5O1, notas 54 e 55).

Um famoso soneto do poeta espanhol Argensola, apresentado por Menendez Pidal em "España y su História, II, Madrid, ed. Minotauro, 1957, p.158) testemunha todo este contraste estético, no texto que oferecemos na tradução portuguesa que dele fizemos:



Quero confessar-vos, Dom João Primeiro, /Que aquele branco e carmim de Dona Elvira/ Nãso tem dele mais, se bem, se mira/ Que o ter-lhe custado seu dinheiro/

Mas por trás disso confessar-vos quero/ Que é tanta a beldade de sua mentira/ Que em vão a competir com ela aspira/ Beleza igual de rosto verdadeiro/

Mas por mais perdido que eu ande/ Por um engano tal, já sabemos/ Que nos engana assim a natureza/

Pois esse céu azul que todos vemos/ Nem é céu nem é azul. Lástima grande/ Que não seja verdadeira tanta beleza.

(O texto original foi tomado de CARLOS BOUSOÑO, o.c., 5Ol, nota).

Para o barroco, o pecado original perverteu a nossa índole e trouxe ao homem uma "vulneratio in naturalibus". O estilo bom é o rebuscado e o recôndito, segundo as correntes do culteranismo e do conceptismo. Na arquitetura, o barroco procurou impressionar através de seus efeitos de poder e de magnificência, obtidos por meio da ênfase dado ao volume e ao exagero da decoração. O poeta expressava-se através de cultismos, hipérbatos, perífrases e eufemismos, evitando a palavra quotidiana e vulgar e usando a metáfora, buscando o anômalo, o monstruoso, o paradoxal em todos os aspectos da arte e da vida.



2.5. ROMANTISMO



Domício Proença Filho utiliza, como epígrafe, para abordagem do Romantismo como estilo de época, um texto de Gonçalves Dias que contém alguns elementos essenciais característicos desse estilo: "Casar assim o pensamento com o sentimento, a ideia com a paixão, colorir tudo isto com a imaginação, fundir tudo isto com o sentimento da religião e da divindade, eis a Poesia - a Poesia grande e santa - a Poesia como eu a compreendo sem a poder definir, como eu a sinto sem poder traduzir"(Gonçalves Dias, A.-Poesia completa e prosa escolhida, Rio de Janeiro, Aguilar, 1959, Prólogo).

Entre as características mais condizentes com o estilo romântico estaria a capacidade de o escritor criar mundos imaginários considerando-os como realidade em si. O subjetivismo é outro traço fundamental. A realidade é revelada através da atitude pessoal do escritor. O artista traz à tona seu mundo interior, sua plena liberdade, sem preocupação de modelos a seguir. Em terceiro lugar estaria a evasão ou escapismo, "a fuga para um mundo idealizado à base do sonho, das emoções pessoais"(Proença Filho, D. Estilos de Época na Literatura, 18O). Vêm em seguida outras características: senso do mistério, consciência da solidão, aspiração por um mundo de sonho, atitudes antitéticas e paradoxais nos personagens românticos, temáticas medievais vulgarmente mais abertas ao mistério e ao transcendentalismo, à dustância, ao passado, predomínio do sentimento e da emoção sobre a razão, gosto pelas ruínas,

culto da natureza e da pqaisagem, idealização da mulher. A nível estilístico, o Romantismo prefere a metáfora, em contraste com o classicismo que usa mais a metonímia.

Segundo os autores, o Romantismo mistura, transforma e cria novos gêneros literários, derrubando assim o sistema absoluto que dominava até então a teoria dos gêneros. Nesta linha, formas poéticas muito conhecidas como ode, canção, elegia e outras perderam sua significação antiga ou deixaram de ser usadas em favor de designações mais amplas como poema, poesia lírica,etc. O romance ganhou grande evidência noi romantismo, notando-se uma

tendência para o romance histórico e libera-se o teatro, em busca de novas formas (Proença Filho, Ib. 18O-188).

Apresentamos um poema romântico de Álvares de Azevedo:



"Amoroso calor meu rosto inunda,

Mórbida languidez me banha os olhos,

Ardem, sem sono, as pálpebras doridas,

Convulsivo tremor meu corpo vibra:

Quanto sofro por ti. Nas longas noites

Adoeço de amor e de desejos

E nos meus sonhos desmaiando passa

A imagem voluptuosa da ventura...

Eu sinto-a de paixão encher a brisa,

Embalsamar a noite e o céu sem nuvens..."

(Álvares de Azevedo, Obras Completas, 8@ ed., São Paulo, Nacional, 1946, pp.262-263).



Como modelo de romance romântico de língua portuguesa temos "Amor de Perdição"de Camilo Castelo Branco e no teatro é modelo romântico europeu o "Frei Luís de Sousa"de Almeida Garrett.



2.6. REALISMO



Eça de Queiroz dá-nos um texto que pode oferecer-nos o entendimento fundamental do Realismo: "O Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a anatomia do carácter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos, para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos - para condenar o que houve de mau na nossa sociedade". Ao referir-se ao realismo no prólogo que escreveu para "Margarida. Cenas de Vida contemporânea", o escritor português Julio Lourenço Pinto diz que "o artista deve reproduzir na tela o que encontra no imenso refletor da realidade; mas não ofende os cânones da arte se assimila elementos esparsos para os agrupar harmonicamente na encarnação de um tipo ou consubstanciar no vivo relevo de uma criação"( RIBEIRO, M@ Aparecida Ribeiro, História crítica da Literatura Portuguesa, 276).

Por realismo entenderíamos, segundo Harry Shaw (a) "a teoria da escrita literária, segundo a qual esta deve descrever os aspectos da vida corrente de uma forma direta e objetiva, de modo a retratar a vida tal qual ela é"; (b) em segundo lugar é o tratamento de um assunto de maneira a apresentar descrições minuciosas da vida quotidiana e, as mais das vezes, da vida das chamadas classes média e baixa da sociedade"(Harry Shaw, Dicionário de Termos literários, 389). O realismo como estilo de época está presente nas obras literárias a partir dos meados do século XIX e nele, a realidade "é interpretada como um todo orgânico em que o universo, a natureza e o homem estão intimamente associados e sujeitos, em igualdade de condições aos mesmos princípios, leis e finalidades."Predomina em sua concepção filsófica ou o ponto de vista materialista da vida ou o princípio positivista ou até científico, segundo inspirações de vários filósofos e particularmente depois da inspiração de Claude Bernard na modelização naturalista do romanece em Émile Zola e da aplicação da visão determinista da história por Hypollyte Taine. Numa aplicação de linhas características, há no realismo uma preocupação com a verdade exata, uma escrita baseada na observação e análise, a busca da objetividade, a criação de personagens como se foram tipos vivos, frutos de observaação. O herói realista é uma vontade em choque com o mundo mas termina vencido pelo meio em decorrência do determinismo biológico e social que sobre ele poderosamente atuam.

Entre os exemplares romanescos que podemos apontar dentro da literatura de língua portuguesa estão claramente dentro do modelo realista os romances "O Crime do Padre Amaro"e "O Primo Basílio"de Eça de Queirós e "O Cortiço" e "O Mulato" de Aluísio de Azevedo.



2.7. SIMBOLISMO



Após o reinado do naturalismo, forma científica e radical do realismo, e do parnasianismo que volta a propor o culto da forma (vocabulário aristocrático, rima rica, metrificação impecável, preferência do polimento paciente do verso ao fluxo da inspiração), encontramos o simbolismo, um movimento onde aparece em destaque o subjetivo em oposição ao objetivismo realista. É, apesar de tudo, um movimento que não permite uma caraterização precisa por não apresentar propósitos definidos nem unidade doutrinária. É, entretanto, estudando os principais simbolistas franceses, desde Baudelaire, Verlaine, Rimbaud e Mallarmé, que poderemos entender um pouco da natureza deste estilo de época. Segundo Baudelaire, "as imagens não são um ornamento poético, mas uma revelação da realidade profunda das coisas. O soneto "Correspondances" corrobora essa linha. Em Verlaine há uma ênfase no sentido de considerar a arte poética essencialmente musical destinada a sugerir em vez de dizer e nomear: "De la musique avant toute chose". Há despreocupação com a pintura e com a figuração de linhas e formas, sendo a arte centralizada nas nuances, na flutuância: "nem a ideia clara, nem o sentimento preciso, mas o vago do coração, o claro-escuro das sensações, o indeciso dos estados de alma", dentro de uma rima aproximativa, emprego de assonâncias e aliterações, conforme se lê em "Art Poétique".

Em Rimbaud há "a alucinação da palavra , alucinação sensorial, invenções verbais capazes de transformar a vida. A palavra é a realidade concreta, colorida pelas vogais, animada pelas consoantes, misteriosa (cf. Proença, 233), conforme expresso em "Voyelles".

Em Mallarmé, a poesia assume o papel de forma que sugere, assume valor musical, valoriza a imagem, sendo a matéria do poema uma noção abstrata, emotiva ou intelectual. O verso, segundo Mallarmé, "de vários vocábulos faz uma palavra total, nova, alheia à língua e como encantatória"(Mallarmé, Prefácio ao Traité du Verbe, de R.Ghill (1885) Cf./ Proença 233.) . "O real é vil: é a cinza do charuto, que se deixa cair para ele arder melhor, imagem de uma poesia leve e imaterial"Ib.233.

* Em 1886, Jean Moréas publica na revist Le Figro Littéraire num artigo sobre a nova corrente que passa a ser

considerado o manifesto do Simbolismo, a partir da Franca. No novo estilo, segundo Moréas, os reparos que se fazem à nova escola são a pompa do estilo, a estranheza da metáfora, um vocabulário novo onde as harmonias se combinam com as cores e as linhas, que são caracterísrticas de toda a renascença. Moréas filia a anova escola em certos poemas de Alfredo Vigny, até em Shakespeare e nos místicos até. Diz que Baudelaire pode ser considerado o precursor do movimento; Mallarmé o lotit do senso do mistério e do inefável; Verlaine superou os entraves dos versos que a mão prodigiosa de Banville assoprara antes. Inimiga da poesia didática, da declamação, da falsa sensibilidade, da descriçãoobjetiva, a "poesia simbólica procura vesrtir a aideia de uma forma sensível, que apesar de tudo, não seria fim de si própria[...] O caráter essencial da arte simbólica consiste em não chegar nunca até à concentração da ideia em si. Assim ,nesta arte, os quadros da natureza, as ações dos humanos, todos os fenômenos concretos não têm capacidade para se manifestarem por si próprios; são aparências sensíveis destinadas a representar suas afinidades esotéricas com as ideias primordiais[...] Para a tradução exata de sua síntese, é necessário ao Simbolismo um estilo arquetipico e complexo: vocábulos impolutos, o período que se sustenta alternando com o período de desfalecimentos ondulados, os poleonasmos significativos,, as misteriosas elipses, o anacoluto em suspenso, tudo muito audacioso e multiforme; enfim, a boa linguagem - instaurada e modernizada -"(Ib. Proença,236).

"Um cacto no Pópl e "Epifania dos Licornes"de Eugênio de Castro (18969-1944). "Spleen"de Alberto Osório de Castro (1868-1946).



2.8. MODERNISMO

Finalmente, na trajetória evolutiva da história literária, os tempos modernos registram um movimento que se diz em consonância com os tempos modernos, com suas inquietações sociaqis e psicológicas, com o desejo de fazer arte avançada,etc. É o Modernismo, que caminha a par da evolução das artes, com Guillaume Apollinaire, com o cubismo e que tenta, acima de tudo acompanhar o estrondoso fenômeno da máquina, da civilização industrial e tecnológica, o movimento das massas proletárias, das guerras, das revoltas e do espírito aguerrido e agressivo, voltado para a luta. Numa variedade incrível de manifestações o modernismo é todo o conjunto de correntes e estéticas que se apresentam em oposição às convenções literárias anteriores com a expressa intenção de "épater le bourgeois", ou também, como se diz, com a intenção de espantar o burguês, deixá-lo de boca aberta, escandalizá-lo, desafiá-lo.A literatura pretendia mexer com o convencional, com o estabelecido, romper com a vaga decadente e simbolista, para operar uma renovação e um avanço. Pela variedade dos movimentos e pela fragmentação, as vanguardas, de 191O a 1925, multiplicam-se e criam um "complexo estilístico"com múltiplas variantes mas não um estilo uniforme. São movimentos de protesto, de demolição (dadaísmo), dedemolição da lógica, de preocupação pelo tempo presente. No futurismo temos o amor ao perigo, o canto entusiasmado da velocidade, "canto das grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela rebeldia, o canto da civilização industrial, do automóvel, do motor, das engrenagens, das locomotivas e dos vapores, segundo o manifesto de Marinetti. O manifesto técnico da literatura futurista (11-3-1912 - Milão) propõe a destruição da sintaxe, abolição do adjetivo e do advérbio, do emprego do verbo no infinitivo", entre outras coisas, numa proposta explosiva de transmutações técnicas. Entre os traços comuns notados na múltipla e fragmentada família modernista, os principais críticos apresentam: a) uma concepção lúdica da arte. A arte romântica e pós-romântica tinha um certo compromisso salvador ou soteriológico voltado para o resgate espiritual do homem. A arte modernista, ao contrário, é uma arte-jogo. Nela, há um ludismo irônico, uma ambiguidade, imbuída do senso de máscara, convicta de que - di-lo José Guilherme Merquior - todo o gesto artístico é transfiguração semiconsciente, imitação necessária e mentira indispensável ao vislumbre da realidade( o.c.84). O processo soteriológico do romantismo foi abandonado e substituído por uma "amor barroco"à arte-jogo(ib.84), no conteúdo e na forma; no conteúdo, parodiando sentimentos e situações: "De Rimbaud a Joyce, enorme parte da literatura moderna consiste em criptoparódias, sátira dissimulada. Toda a arte moderna tende a brincar com seus temas"(85). Tem ojeriza ao patético e mantém um recuo da visão tragicizante do destino (ib.85). Quanto à forma é jogo também, porque é profundamente experimentalista(85), na proporção em que há a dessacralização dessa mesma forma. Para certas poéticas, o leitor é um elemento ativo, participando de uma co-autoria dos ritos simbólicos propostos pelo autor. b) a segunda característica comum destas correntes modernistas é a tendência à figuração mítica. Ou seja, há o abandono da figuração individualizadora em favor da representação que privilegia os traços genéricos, abstratos e despersonalizadores quando trata de cenas e personagens (86). c) a terceira característica é o predomínio da figuração alegórica. Walter Benjameim entendia a alegoria como "aquele figurar poético em que perdura um hiato entre a representação literária e a intenção significativa." Nesse hiato se aloja a polissemia fundamental do texto alegórico, que se recusa à identificação entre sujeito e objeto, marca distintiva da consciência do símbolo (p.86); d) o quarto ponto importante seria dizer que a literatura moderna valorizou nos impulsos do inconsciente as livres energias dos instintos bloqueadas pelo policialismo ético da civilização vitoriana(p.86).

Para uma visão poética modernista-futurista, serve à feição a análise modelar da "Ode Triunfal"de Fernando Pessoa.





CONCLUSÃO



Apresentamos os principais movimentos estilísticos mais característicos da história literária. Cremos que, através deste metodo, teremos construído uma visão projecional do assunto, a nível analítico e sintético. Propositadamente não inserimos em nossa exposição qualquer problemática céptica ou negativista sobre a pertinência ou não de uma divisão da história literária através do processo de periodização por estilos de época. Essa reflexão é, pela lógica, posterior ao recebimento das informações necessárias à compreensão do tema. Num debate mais avançado poderão ser apresentadas, noutra oportunidade, algumas teses polêmicas a respeito do tema. Mais importante do que atender uma polêmica é registrar que os próprios modernistas do movimento francês L Esprit nouveau"(192O), também eles engajados num movimento de época, defendiam " que não há obra de arte sem sistema estético mais ou menos consciente, mais ou menos elaborado por aquele que o criou"(Teles, 168). "O espírito novo, dizia Guillaume Apollinaire, é o mesmo do tempo em que vivemos[...] Os poetas, conclui o poeta cubista [1918], querem um dia manejar a poesia como manejam o mundo. Querem ser os primeiros a fornecer um lirismo todo novo a esses novos meios de expressão que ajuntam à arte o movimento e que são fonógrafo e o cinema. Estão ainda no período dos incunábulos. Mas, esperem, os prodígios falarão deles e o espírito novo, que enche de vida o universo, se manifestará formidavelmente nas letras, nas artes e em todas as coisas que conhecemos"(Teles,166).

Este testemunho de Apollinaire, publicado em 1918, ano do final da Primeira Guerra Mundial, é uma alusão autorizada ao jogo entre a arte e o tempo, entre a arte e os meios tecnológicos, uma alusão, enfim, ao "espírito do tempo", o "espírito novo" vigente na era do aparecimento das máquinas, do movimento mecânico e do cinema. Esse prisma sugere-nos que reflitamos sobre "nosso espírito contemporâneo", tempo da TV, do clip, do video, do CD, dos vôos espaciais, do ultraleve, do computador, da energia atômica, do rock, da guerra eletrônica e pensemos qual é o estilo que mais se adequa a esta relação, e qual é a arte que na fição, no teatro e na poesia mais exprimem este tempo. Essa arte e esse estilo serão a expressão deste tempo.



João Ferreira

2001
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