ESPERAS
J.B.Xavier
Aguardo-te em minha alcova
Com a ansiedade dos adolescentes,
E com sorrisos de esperança, vejo as horas
Aninhando-se nos braços do tempo...
Espero-te com a agonia dos condenados,
Reviro-me no leito, declamo poemas,
Converso com meus espelhos,
Teço mil considerações,
Espalho incensos, te perdôo mil vezes,
Outras tantas dispo-me,
E me visto com as sedas que tu gostas,
Faço-te mil propostas de indecências várias,
De felicidade eterna, de entregas delirantes,
Abraço tuas lembranças, beijo o travesseiro
Onde ainda permanece teu perfume
De nossa última noite de amor...
Depois, lentamente, como sombra no horizonte
Consinto o nascimento de uma dúvida...
Talvez não venhas...
E o deslizar agoniado e lento dos ponteiros,
Anunciam já a aurora na ribalta.
E em mim, a dor presente, física, de tua falta,
Apaga o sol que desponta no horizonte...
Um pulsar de prazer agonizante
Transforma-se em lágrima carente...
Que deslizando pelo meu rosto, indulgente,
Aninha-se nas dobras do travesseiro,
E ali permanece, perfumada por teu cheiro...
E enquanto se aproxima um novo dia,
Numa saudade atroz e pungente,
Contemplo essa união, e nessa urgência
Sobre teu perfumado travesseiro,
Estamos juntos novamente...
* * *
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