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Erotico-->18. A ASSISTÊNCIA A MARCOS -- 05/08/2002 - 08:43 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Um dia, Marcos despertou do longo martírio consciencial, causado principalmente porque não se compenetrara de que a vida é vivida pela pessoa, uma vez que responsabilizava o Criador pela infelicidade de não ter concluído a peregrinação da maneira que imaginara, ou seja, no regaço da família, agradado pelos filhos e netos. Imaginava que o vírus contraído pelo contacto sexual imprevidente fora armadilha do destino, esquecendo-se de que não só possuía inteiro domínio da propagação da doença, como ainda era totalmente cônscio de seus deveres para com a família e a esposa. Além de tudo, exercia pleno direito de livre-arbítrio, não se convencendo jamais das razões que outras pessoas poderiam opor-lhe às deliberações.

Esse raciocínio deixava, portanto, de ser lógico, mas era o puro reflexo do desvario alucinatório de quem se deixa dominar por superior egoísmo, fundamentado em vaidade e orgulho do mais alto poder. Reclamar, no entanto, era o que menos pesava na balança do ilustre cirurgião. Fazia-o para olvidar as reais mazelas que desejava esconder por meio da manifestação íntima da vontade. Mesmo só, abandonado ao leito de dor em que se consumia, com a única vibração amorosa dos pais e a lembrança dos filhos, onde preponderava a força de Ângela, ainda justificava todos os atos para o fantasma de Criseide, diante de quem se via permanentemente, por injunção cármica dessa imagem personificar a figura da divina justiça, a cobrar-lhe as falsas interpretações da vida.

Por ter tomado o bonde errado, Marcos não conseguia perceber que todos os pensamentos revoluteavam em torno desse ponto principal, absolutamente em desacordo com a verdade, uma vez que fora ele mesmo o culpado por se ter precipitado em condições tão adversas.

Mas Criseide, que nunca fraquejara no amor pelo marido, à medida que ia desprendendo-se das preocupações com os filhos, foi infiltrando-se no campo magnético possível de contato pelo pobre ser internado, de sorte a impor, finalmente, certa autonomia à quimérica imagem do tormento. Se, nos primeiros tempos, seu dedo acusador apontava indefectivelmente para o marido, ao se achegar a ele, foi alterando aquela postura até que conseguiu introduzir algumas idéias de perdão e de amor realizado em sacrifício.

Criseide aproveitava-se dos momentos de sono, para poder, livremente, comparecer à presença do amado ser. Nesses instantes, era fortemente auxiliada por Nepomuceno, que via nesse mister da nora a mola propulsora que a faria, de modo definitivo, pender para a necessidade de perdoar e de salvar o cunhado. O ex-notário sabia como controlar os momentos de desprendimento energético, ligando-se afetivamente a todos aqueles seres a quem dera origem na Terra e que lhe cabia por sorte elevar aos olhos do Pai.

Foi através desse processo que Marcos chegou a despertar para a vida de relação com os demais seres. Ao acordar, estava presente o pai, em companhia de Criseide e de Ângela, ambas em estado de vigília sonambúlica, convocadas para a reunião.

O ex-médico não tinha total noção de seu estado, por isso Nepomuceno agiu com extrema cautela, fazendo-o recordar-se de todas as fases do passamento, dedicando-se à evidência clínica de pleno domínio do doutor.

Assim que as idéias se aclararam e Marcos se achou na presença do pai, pôs-se de joelhos a orar, pedindo perdão por todo mal que causara na vida.

Nepomuceno, com os olhos rasos d água mas com o coração fremente de alegria, impôs as mãos sobre a cabeça do filho e fez-lhe a passagem dos acontecimentos que se seguiram ao desencarne, revelando-lhe toda a verdade dos fatos que envolveram Ângela, Alfredo, Criseide e os meninos. Para evitar o borbulhar de ódio ou de extremo rancor, ao se referir às entidades femininas, liberou-lhe a vista para a percepção de suas figuras, deixando-os em plena liberdade para as efusões sentimentais.

Era tempo, porque o esforço de concentração começava a debilitá-lo fluidicamente.

Julgamos dispensável a descrição minuciosa do encontro e da profusão de afetos que envolveu aquele grupo unido pelo amor e pelo sofrimento. Marcos estava envergonhado e não sabia a que atribuir tantas manifestações de benquerença.; julgava-se impuro para merecer tanto carinho e tanta consideração.; via-se mesquinho diante da formosura moral que evidenciavam os queridos companheiros de lutas. Inicialmente, retraiu-se, mas acabou expandindo-se em solidariedade e confraternização.

Amainados os sentimentos de amor, era chegado o momento da exaltação, à vista dos malfeitos do irmão.

Nepomuceno, maneiroso, disse-se pai de três filhos. Deu notícias de Carlos e expôs, minuciosamente, as condições da queda e da inferioridade de Alfredo. Dispôs as coisas de tal modo que chamou a si a responsabilidade pelo crescimento dos filhos. Se cada um praticara este ou aquele desatinado gesto de contravenção às leis do Pai, cabia-lhe recambiá-los ao caminho da justiça, revelando-lhes os deveres e os compromissos para a compostura ideal diante da vida e da existência. Mas Nepomuceno não podia sozinho arcar com toda a responsabilidade nem realizar todos os trabalhos. Aí introduziu a lembrança da esposa, Josineida, e, por meio de corrente fluídica especial, pôde contatá-la e fazê-la participar do encontro, mesmo que a distância.

Josineida percebeu que Nepomuceno realizava excelente serviço socorrista, não titubeando em favorecer-lhe a tarefa, compondo-se sentimentalmente com o filho e explicando-lhe que tipo de orientação estava imprimindo ao caráter de Carlos, para o objetivo maior da salvação de Alfredo.

Marcos quase ia desfalecendo com a avalancha de informações que recebeu. Foi-lhe demonstrado que a família progredira moral e intelectualmente e que conseguira sobreviver à afronta do irmão. O pai fez questão de demonstrar-lhe que necessitava dele para o devido auxílio ao desígnio de transformar o destino que se prenunciava negro para Alfredo e lhe fornecer as diretrizes que deveriam pautar o procedimento a partir daquele instante. A primeira providência seria compreender a necessidade cármica de proteção da família, o que incluía, iniludivelmente, o afastamento das ameaças grosseiras partidas do irmão. Para isso, havia necessidade de se sujeitar à matrícula em escola de evangelização, para aprendizado dos valores morais superiores e aplicação deles na descoberta de sua personalidade. Tal preparação era obrigatória, para que sua participação nos serviços de restauro da unidade familiar não se convertesse em mais um sério problema.

Marcos fora envolvido por extremos cuidados quanto às reações intempestivas. Sentia-se bastante lúcido, embora seu poder de manifestação se visse preso por forte sensação de impotência. Parecia-lhe estar sem domínio de si mesmo, ele que se ufanava de agir sempre segundo arbítrio próprio.

Ao refletir a respeito dessa circunstância daquela reunião, Nepomuceno aproveitou para ministrar-lhe a primeira lição de humildade e ponderação. Em longa exposição, demonstrou ao filho a necessidade de autocontrole a partir daquele momento, pois os fatos que se sucederiam estariam já sob imposição direta de sua vontade. A reunião transcorrera sob o influxo energético das entidades designadas pelos orientadores da instituição, para que tudo pudesse ser dito àquele que fora afastado dos acontecimentos. Era como que a devolução do exercício livre dos direitos de cidadão da existência. Sendo assim, o peso da responsabilidade iria fazer-se sentir inteiramente, assim que fosse colocado do lado de fora daquele recinto protegido pelas forças espirituais a serviço do socorrismo. Ao se ver dono de seus poderes, agisse sob o prisma do bem, sem intenções de revide, ou iria sofrer a desdita das influenciações deletérias de muitos seres que se lhe constituíam em inimigos. De nada valeria o esforço da família, se se revelasse favorável ao mal. Ficaria na mão dele.

Marcos ia prometer tudo fazer para não decepcionar a expectativa de todos, mas, de repente, se viu sozinho, ao lado de seu túmulo. Que prece precisaria dizer para reconduzir-se à presença do pai ou da mãe? Teria força moral para realizá-la? Que estariam fazendo naquele instante os seus meninos? Lembrou-se dos irmãos e teve um estremecimento, contudo, parecia soar-lhe no fundo do ouvido a voz clara de sua menina. Sofreu muito enquanto se vira internado em si mesmo. Ao olhar para o mundo, a primeira reação foi deixar escorrer algumas lágrimas de saudade e de arrependimento. Estava salvo.

Naquele instante de concentração, perpassou-lhe pela memória, rapidamente, toda a narração do pai. Lembrou-se de Alfredo e fez sobre-humano esforço para conciliar o afeto que sentia pela menina ao antigo companheirismo que o ligara ao irmão. Não viu o crime. Não pensou em castigo. Desejou tão-só soerguer os que se encontravam caídos. Perpassou-lhe pela mente a figura da artista que lhe havia transmitido o vírus definitivo da desgraça física e desejou saber de seu paradeiro. Mas as idéias eram confusas, de sorte que lhe apareceu de súbito na mente a figura da enfermeira. Antes que pronunciasse todos os termos do sentido pai-nosso que disse, viu-se transportado para local de intensa luminosidade, amplo salão em que se encontrava espírito que lhe parecia familiar, sem, todavia, atinar de onde provinha essa sensação.

Antes que formulasse o desejo de reconhecer aquela excelsa figura, recebeu a informação:

— Meu nome é Virgílio. Você um dia me conheceu ao visitar o Centro Espírita do Amor Divino, em companhia de sua mãe. Aqui estou para ajudá-lo a programar os estudos. Fique à vontade para perguntar o que bem quiser. Deus esteja com você, querido amigo!

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