falta-me hoje a palavra.
talvez me sobrem versos na alma
que o papel não comporta.
- insuportável cheia que transborda,
mas não vaza
falta-me hoje, nesse dia de retorno a casa,
em que a varanda não me coube,
em que a mesa estava cheia demais,
onde tudo parece terrívelmente estático,
a minha alegria.
talvez precise de um ritual
para reconhecer-me,
para rever-me.
é como se não me encontrasse.
logo aqui,
onde habito cada milímetro,
onde inspiro meus próprios ais,
onde construo recantos de sons, palavras,
belezas que descubro nesta vida doce.
o que não me completa?
é como estivesse cheio de vazio,
insuportávelmente silencioso.
preciso da melodia de minha alma,
aquela que diariamente ouço.
resolvo logo.
farei uma bela paella,
tomarei vinho.
ouvirei Andrea a todo.
pronto.
depois, é acender todas as velas.
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