Cresci ouvindo o barulho das mós moendo os grãos de milho.
O som do moinho, eu ainda ouço dentro de mim.
Agora eu o visito, depois de tanto tempo...
A gigantesca roda está toda enferrujada.
Um mato ralo cresce onde corria a água que movia a roda.
Um vão no lugar da porta pintada de verde. Uma construção tão humilde, levantada pelas mãos de meu pai.
Ele adorava o verde, é a porta da casinhola era mesmo verde!
Não cheira mais a fubá o cómodo todo. Cheira abandono.
O silêncio reina onde antes, tanto tempo atrás, se ouvia o som da vida.
Uma simples engenhoca que transformava o grão em alimento.
A polenta que nunca faltou em nossa mesa!
No vão escancarado que ameaça a parede toda, parada, observo as teias de aranha estendidas de canto a canto.
A janela minúscula ainda está lá, caindo aos pedaços.
Deito meus olhos para um tempo que já está fora do tempo e vejo um homem lá dentro.
De roupas simples, mãos calejadas, com muito jeito manuseando a peneira para deixar o pó mais fino.
Uns olhos ternos admirando o resultado final daquela pequena indústria.
Agora vejo uma mulher corada, tão sacudida, carregando um saco de grãos e despejando-os no recipiente da engenhoca.
E vejo a mim mesma admirando o milagre da transformação do grão.
Não aguento mais as lembranças e me afasto.
Não preciso fechar a porta como antes, porque ela já não está mais lá.
Vou caminhando, de rosto voltado para o velho moinho, com os olhos que teimam em ainda olhar.
Uns olhos que em vez de ruínas, só o moinho ativo busca enxergar!