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Erotico-->17. EM TERRAS PARAGUAIAS -- 04/08/2002 - 09:06 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Nepomuceno, por seu turno, esperava não ter o que fazer junto à neta e à nora. Acreditava que havia protetores familiares do lado de Criseide, a velarem pelo crescimento moral de todos. De fato, em lá chegando, buscando conhecer os amigos que da espiritualidade cuidavam da família do filho, logo foi apresentado ao avô paterno da nora, o qual se desdobrava em atenções para recepcionar o enviado especial do etéreo, para, conforme lhe havia sido dito, missão arriscadíssima de resgate do famigerado malfeitor.
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O ex-notário percebeu logo que havia unidade familiar rigorosa, mantida com muito amor pela brandura e intensa atividade da dona da casa. Reparou no carinhoso tratamento dispensado à mais velha e intuiu que grave peso de consciência a obrigava à luta, para não deixar os mais novos encaminharem-se para qualquer desvio do padrão ideal de conduta.

Criseide era o modelo vivo do arrependimento. Culpava-se pelo que sucedera à filha e, ainda mais, por tudo o que ocorrera ao marido. Atormentava-se em suas noites, muitas das quais passava insone, a orar contrita pelo perdão do marido. Fora levada ao espiritismo por força das circunstâncias, dado que a filha se interessara pela doutrina, desde que se lembrara de seu caminhar ao lado do avô, para auxílio aos necessitados.

Neste ponto das recordações, Nepomuceno agradecia a bondade e a previdência divinas, que lhe deram o conforto de pequenino sacrifício seu ter tido tão ampla repercussão para a vida de diversas pessoas. Imaginava quão deveria ser grande a alegria de Jesus, por salvar a humanidade, e enxugava lágrimas de satisfação, por ter sido agraciado com alguma benemerência.

Mas Criseide era outra durante a vigília. Determinava com rigor as tarefas do dia de cada filho, reservando alguns momentos para a cobrança das atividades escolares e para o conhecimento rigoroso de todos os passos. Desde aquela fatídica noite em que Alfredo cravejara o retrato da família de balas, todos pareciam temer a volta do tio para realizar a façanha diretamente sobre eles. Esse terror se instalara na alma de cada um, de sorte que cabia a Criseide devolver-lhes a serenidade e a confiança em viver, segundo as normas evangélicas.

É de interesse notar que jamais houvera suspeitado de que fora o cunhado o autor dos desvios morais da filha, pois via o jovem senhor, à época, altamente interessado em conviver com seus filhos e com o irmão, uma vez que não formara família. Depois do incidente, nunca mais o viu.

Era-lhe, portanto, incompreensível a maneira pela qual o rapaz lhe entrara em casa e tão resolutamente implantara o medo em todos os corações. Não compreendera antes e ainda agora não conseguia configurar na imaginação os processos psicológicos ou conscienciais que o induziram à prática de tão violenta atitude. Através do conhecimento das verdades espiríticas, conseguia vislumbrar-lhe algo profundamente arraigado na personalidade, como crimes antigos, originados em encarnes anteriores. Mas não se atrevia a ir além nos comentários, pois o desajuste era tão grande que não lhe admitia a razão estar alguém possuidor de tal malignidade como que embutido em família que tanto bem vira realizar na vida.

Nepomuceno desejou saber se poderia contar com o apoio da mãe para a consecução do plano arquitetado pela filha. Acercou-se da nora e imprimiu-lhe na mente a figura de Alfredo em presença de Ângela. A mãe imediatamente rejeitou a sombra projetada. Não compreendia como a filha sequer poderia aproximar-se de... Nesse ponto, hesitava em caracterizar a figura do cunhado, para não incorrer no perigo de emitir vibrações contrárias à boa virtude que deveria desenvolver. Lutava contra as más idéias e fazia esforço supremo para perdoar os malfeitos ao cunhado. Nesse instante, lembrava-se do marido, da própria apatia, do desejo de vê-lo sempre satisfeito, de sua inoperância, e transferia o ardor da raiva inteira para si mesma, para não ter de se lamentar mais tarde por ter-se agitado contra o cunhado.

O sogro não gostou das sensações contraditórias que sentiu no íntimo da nora. Precisaria eliminar o ódio que se lhe instalara fundo no coração e que transparecia sufocado, pela tentativa de superação intelectual. Percebeu que a nora buscara o conforto da doutrina espírita para o entendimento da verdade íntima contida no que há de circunstancial nos acontecimentos, mas não se alheou do fato de que os sentimentos persistiam grandemente estimulados pela repulsa a Alfredo.

Meio seguro para confirmar as conclusões preliminares encontrou nas reações da nora, ao infiltrar-lhe na mente a figura da artista com quem se envolvera o marido e de quem recebera a doença fatal. Tal como quando aproximou a imagem da filha à de Alfredo, do mesmo modo viu Criseide afastar peremptória a memória da artista, substituindo-a imediatamente pela da enfermeira, a quem levara os informes a respeito do marido. Realmente, Criseide não estabelecera vínculos de conciliação com quem a havia agredido.

Esse o ponto que Nepomuceno deveria atacar em primeiro lugar. Em longo conciliábulo com o protetor familiar da amiga, soube tudo a respeito das atividades dela, de sorte que não perdeu tempo com investigações.

Quis, então, conhecer o que ia no coração da neta. Buscou entrar em contacto direto com ela, informado que foi de que estava inteiramente consciente da necessidade de demonstrar ao tio que o caminho que seguia conduzi-lo-ia à perdição do encarne atual, restando para resgatar longa série de crimes.

O avô viu na neta verdadeiro anjo de candura e a auxiliar mais eficiente para condução do filho às sendas da virtude. Aprendera a amar o jovenzinho, quando muito infante, embora sentisse certo estremecimento íntimo ao se achegar a ele. Desconfiava de que eram resquícios de sentimento de culpa por havê-lo rejeitado de início e, por isso, forçara a convivência com o filho até o ponto em que se sentiu, por sua vez, afastado por ele. Só, no etéreo, foi-lhe dada a compreensão da realidade de seus relacionamentos e da necessidade premente de captá-lo em sua rede para o seu próprio bem. Se o filho resvalasse, de novo, para as trevas profundas que freqüentara, não teria fim aquela desavença de tantos séculos.

Era preciso agir rápido para aparelhar a menina, com o fito de enfrentamento da dura batalha que se prognosticava indefinida.

Durante o sono, Ângela se desprendeu das vestes corpóreas e se encontrou com o avô pela primeira vez. Abraçaram-se longamente e reconheceram-se dignos aliados em favor daquela entidade em desalinho.

Ângela quis saber de todos, especialmente do pai. O avô deu-lhe os informes solicitados e prometeu-lhe, assim que possível, na primeira oportunidade, providenciar encontro entre ambos, pois era necessário, para bem do restabelecimento do médico, que não se arriscasse a decaídas ao influxo da fúria de que se veria tomado, ao conhecer as atitudes do irmão relativamente à sua família. Ignorava, portanto, tudo o que ocorrera à filha.

Ângela penalizou-se com a situação do pai e, ali mesmo, na companhia do avô, elevou os pensamentos a Deus, realizando sentida prece pelo restabelecimento do progenitor.

Na manhã seguinte, acordou decidida a viajar, mesmo que o tio Carlos não se manifestasse a respeito. Criseide, porém, se opôs com veemência, insistindo para que a filha atendesse à razão e não superestimasse os recursos para o convencimento do tio. Que se recordasse das palavras dele. Não estavam ali os cheques, que demonstravam que jamais se havia esquecido delas?

Ângela, então, fez um trato com a mãe. Iriam rezar juntas, solicitando das forças espirituais manifestação em favor de suas idéias. Se estivessem, como acreditavam, sob o amparo dos amigos do etéreo, receberiam clara notícia a respeito do que fazer. Calariam a intenção de voltar ao Brasil, para não influenciarem nenhum médium a oferecer seus préstimos anímicos, mas ficariam atentas para qualquer informação espontânea. Aguardariam.

Nepomuceno considerou bem arrazoada a decisão, mesmo porque se abria perfeita perspectiva para, no momento azado, enviar mensagem direta, sem subterfúgios, podendo fazer nítida referência à deliberação de ambas. Agora, era trabalhar para o crescimento moral de todos.

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