Usina de Letras
Usina de Letras
38 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62330 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22543)

Discursos (3239)

Ensaios - (10406)

Erótico (13576)

Frases (50709)

Humor (20055)

Infantil (5474)

Infanto Juvenil (4794)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140845)

Redação (3313)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6220)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Erotico-->16. SEPARAÇÃO -- 03/08/2002 - 09:13 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Nepomuceno deveria cuidar da neta. Josineida precisava encaminhar Carlos nas sendas do espiritismo. Separar-se-iam, portanto, sem reencontros diários, sem relatórios circunstanciados.

Desde que Nepomuceno voltara da densidade corpórea, Josineida não se havia afastado dele por vinte e quatro horas sequer. No tempo de espera, estivera internada quase incomunicável. Na peregrinação pela Terra, tornara-se a amiga de todas as horas. Após a aproximação para proteção de caráter espiritual, estivera com ele o tempo todo, com exceção de alguns momentos de desafogo carnal, que ela compreendera e respeitara. Mas a união era grande e a perspectiva de se verem distantes um do outro deixava-a imensamente triste.

Nepomuceno, ao contrário, mais prático, não sentia a mesma necessidade da companhia da esposa e preferia, inclusive, os instantes em que podia deliberar sozinho a respeito dos temas importantes. É verdade que recorria a ela sempre que em dúvida, mas fazia-o mais por força do hábito. Não fora a intervenção de Virgílio, conciliador, não teria aceitado acompanhar Ângela, a qual reputava preparadíssima para os eventos que se seguiriam. Tinha para consigo que preferível seria estudar o ambiente junto a Alfredo, para diagnóstico do mal e receita da medicamentação.

Enfim, a previsão desse distanciamento não impedia o contacto mental, de sorte que poderiam confabular sentimentalmente por meio de vibrações específicas de amor e amizade. Afinal de contas, dois anos não haveriam de ser tão puxados assim, diante da eternidade.

Em meio a muitas lágrimas, em triste tarde de inverno, Nepomuceno partiu para o estrangeiro.

Ao se sentir sozinha, Josineida, sempre tão autoritária e decidida, imediatamente convocou a presença de Virgílio, para que lhe desse as orientações precisas dos passos a seguir. Este atendeu logo ao chamamento mas resolveu, de modo cavalheiresco, franco e leal, dizer-lhe que as melhores atitudes lhe seriam ditadas pelo amor ao filho. Não se preocupasse com roteiros, esquemas, definições de limites. Visasse ao bem do filho, unicamente. As inspirações lhe seriam sopradas no momento em que lhe falecessem os recursos do auxílio. Lembrasse as aulas do socorrismo e nunca se sentiria só, pois Deus é Pai e vela por todos os filhos.

Retirou-se o orientador, deixando a mãe às voltas com deliberações e intenções.

Josineida não se fez de rogada e aproximou-se da família de seu querido Carlos. A primeira entidade com quem topou foi o espírito da antiga companheira, agora transformada em anjo tutelar, em suave protetora. Viu naquela frágil criatura, amável e dócil, a presença do próprio marido e, desde logo, definiu-lhe a conduta. Queria que ela fosse o seu auxiliar imediato, o seu lugar-tenente para todos os serviços.

Adelaide não recebeu bem a iniciativa da fogosa senhora e, simplesmente, desapareceu-lhe das vistas. Não queria receber ordens de ninguém. Se precisasse Carlos de sua presença, compareceria incontinênti. Não receberia ordens de ninguém.

Josineida ficou estarrecida com o descaso daquele espírito que vira transformar-se um dia perante seus olhos e não compreendeu a razão de semelhante procedimento. Deixaria para resolver isso mais tarde. Agora, era trabalhar.; só trabalhar...

Carlos vivia para o serviço. Os três filhos ajudavam-no nas tarefas cartorárias, de sorte que a aposentadoria estava prestes a se concretizar. Josineida avaliou os sentimentos do filho em relação ao irmão e reparou que todo o amor que demonstrava anteriormente se havia transformado em puro medo. Se a imagem do irmão lhe surgia na mente, procurava, por todos os meios, desfazer-se dela, levando a imaginação a configurar o quadro descrito pela sobrinha, quando a violência do irmão deixara fundas marcas em diversos corações. Se a mãe insistia em interferir-lhe nas sensações, imediatamente lhe vedava o acesso ao coração e à mente, desligando-se inteiramente do plano espiritual.

Josineida decidiu, então, que o ponto mais favorável para conduzir o filho ao espiritismo seria levá-lo a lembrar-se da sobrinha e dos pais, predispondo-o à releitura da correspondência.

Nesse meio tempo, Catarina havia suspeitado de que a jovem distante poderia estar exercendo algum tipo de fascinação sobre o marido e, sorrateiramente, deu sumiço no maço de cartas. Escondeu-as e fiscalizou a atitude do marido, relativamente ao interesse em manter viva a correspondência. Lera a extensa narração do caso da sobrinha com Alfredo, mas não aceitou tudo como verdadeiro. Achava que a “boa menina” bem poderia ter estimulado o tio a tomar as atitudes que tomou. De qualquer forma, não lhe aprovava a vinda para a “catequese” pretendida.

Josineida desesperava-se por ver os caminhos obstruídos. Imaginou sério acidente ou enfraquecedora doença que remetesse o filho ao leito, para reflexão a respeito da vida, momento em que o faria interessar-se pelas obras espíritas. Lera diversas delas, em sua peregrinação pela doutrina, nas quais o recurso havia sido aplicado com sucesso. No entanto, ao intentar o primeiro desvio de rota do carro, percebeu que nem conseguiria materialmente atingir o objetivo, nem sentimentalmente estava em condições de admitir fazer alguém sofrer, especialmente sendo criatura de seu próprio sangue.

A sorte veio ajudá-la. Na verdade, não foi propriamente o acaso, mas o fato é que Carlos e Catarina receberam insistente convite de casal amigo, velhos senhores que compareceram ao tabelionato para estabelecerem o usufruto dos bens, ao tempo em que os distribuíam pelos filhos. Eram pessoas que se relacionaram com os pais do notário em épocas antigas e que conheceram a ambos em plena atividade no centro. Lembravam-se da chegada de Nepomuceno e dos transtornos de Virgílio. Conhecera Carlos o antigo presidente da instituição?

Carlos tinha vaga lembrança de ter ouvido o pai falar em alguém muito importante, que estivera hospitalizado e que se recuperara de sério ataque cardíaco. No entanto, o convite interessou-o sobremodo, pois parecia-lhe a oportunidade de resgatar a memória de certa parte oculta das atividades dos pais. Que haveria naquele ambiente que tanta atração exercera sobre ambos e que punha Ângela em atitude de aceitação de sacrifício tão pungente?

Assim, certa noite de dezembro, em pleno bulício das comemorações natalinas, o casal foi recebido em festas por alguns dos companheiros dos pais, que, naquela ocasião, prometiam incentivar a presença dos antigos confrades para manifestarem-se em sessão de doutrinação. Por diversas vezes, tiveram a presença de ambos em reuniões memoráveis, em que estiveram a discorrer a respeito do amor e da necessidade da prática do bem. Quem sabe se, com a vinda do filho e da nora, pudessem estabelecer algum contacto íntimo de interesse para a felicidade da família?

Espicaçada a curiosidade, Carlos e Catarina puseram-se de sobreaviso para qualquer informação de caráter particular. Por intermédio das cartas de Ângela, sabiam da possibilidade desse relacionamento entre os planos. Medo não tinham de enfrentar fantasmas, pessoas de caráter firme que eram. Temiam ofender os princípios católicos, que aceitavam por força de seu crescimento nessa religião. Mas eram pessoas muito independentes, de sorte que tudo poderia valer-lhes naquele momento da vida, para fazê-los mais próximos da verdade que, não demoraria, teriam de ver revelada, à vista de seus trespasses. Antecipariam um pouco esse momento, na certeza de que, se o contacto com os familiares falhasse, nada de ruim poderia acrescentar-se-lhes à vida.

Iniciados os trabalhos, manifestou-se certo espírito feminino, que se identificou como Adelaide, que fez breve alocução a respeito do amor e da consideração pelo ser amado. Demonstrou que se interessava pelo casal recém-chegado e predisse para aquela noite a manifestação de alguém muito importante para a família. Recomendava-se às suas preces e orava, por sua vez, fervorosamente, para que o futuro os resguardasse da dor e do sofrimento.

Em seguida, vários espíritos protetores encaminharam sofredores em vias de conversão ao bem, de modo que a sessão teve transcurso normal, sendo que Carlos e Catarina se agitavam nas cadeiras, diante das narrativas em que os efeitos correspondiam exatamente às causas, em encadeamento perfeitamente explicável. Era o princípio que viam aplicado pelo doutrinador em cada ligeira participação para esclarecimento dos fatos e dos infortúnios. Os dramas eram pungentes, apesar de corriqueiros. Parecia a eles que a realidade se transfigurava, desdobrando-se em dois planos completamente distintos mas intimamente relacionados.

No etéreo, Josineida se preparava para a exposição, preocupada em fornecer ao filho os elementos mais seguros, para confirmação de sua presença. Queria fazê-lo fortalecer-se moralmente para os embates que se lhe delineavam no horizonte da vida.

— Querido filho, eis-me aqui. Em primeiro lugar, devo agradecer à amiga Adelaide as providências que tomou para aproximar os amigos e fazer com que conseguissem trazer a este recinto sagrado uma das criaturas que mais amei na vida. A emoção com que me dirijo a vocês sufoca-me as palavras e é a custo que me manifesto pela primeira vez diante de meus familiares. Não que estivesse impedida, mas é que eles não se compõem para o encontro e para a aceitação das verdades espiritistas. Rogo a Deus, neste momento, que o meu bom Carlos se tenha recuperado da estocada que levou e que Catarina se tenha compenetrado de que Ângela esteja bem intencionada. Digo-o para comprovar que sou eu mesma, Josineida, que me apresento para a comunicação. Para não cansar o instrumento, devo rapidamente dizer que será de suma importância que meus filhos se dediquem com denodo à causa espírita. Neste momento de confraternização, rogo perdão por ter abandonado a luta tão cedo, embora não tenha sido por desejo meu. Pedem-me para deixar o lugar, que outras entidades desejam manifestar-se. Sendo assim, solicito a todos os presentes que, em suas preces, se lembrem de meu filho Marcos, que está precisando muito de ajuda espiritual. Muitas felicidades e aceitem a minha alegria como demonstração de que Deus é pai misericordioso.

Ao final, Josineida não sabia mais o que dizer, pois fora obstada nas revelações pela presença do amigo Virgílio, ali enviado às pressas para impedir que os informes ao plano carnal superassem os limites do racional. Era preciso plantar uma semente, não deixar fixada imensa floresta.

Naquela noite, cada uma das personagens de nossa história tinha muito a que aplicar as reflexões. Josineida buscava vibrar intensamente para localizar o marido. Queria dar-lhe a notícia que demonstrava que seus planos caminhavam para a solução dos problemas. Recebeu de volta a comunicação de que Nepomuceno recolhia com satisfação as informações e que, de seu lado, tudo também caminhava conforme o programado.

Carlos e Catarina dormiram tarde e mal. Ainda bem que o dia seguinte era um sábado e poderiam ficar na cama mais algum tempo.

Adelaide, ajoelhada ao pé do casal, orava com fervor para agradecer o reconhecimento por Josineida de suas atividades e pelo fato de não ter-se magoado em virtude da iniciativa. Agradecia, ainda, a forma pela qual o casal estava aceitando as informações do plano espiritual. A jovem acrescentava muitos pontos ao seu ativo de amor.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui