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Artigos-->Cuba (vivências a partir de uma viagem - 3a) -- 27/05/2005 - 18:13 (Rodrigo Contrera) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(Primeira parte, feita na madrugada de 26 para 27/5)



Até quando um povo resiste? Quando é que um povo se rende?



É difícil tentar responder a essa pergunta, se feita em La Habana, Cuba.



Quem gosta de tirar sarro, adora comentar as horas-sem-fim dos discursos de Fidel, ao vivo e na televisão. Vi o comandante na TV. E vou lhes dizer uma coisa: gostei.



Fisicamente, o comandante está bem mal. Aparece com a mandíbula saliente, os beiços pendurados, o corpo cansado, falas desarticuladas (ou, no mínimo, lentas, quase parando), gestos descontrolados (coça-se e limpa os ouvidos compulsivamente), etc. Está com 78 anos, claro.



Mas Fidel resiste. Parece haver sido feito para isso. E não resiste apenas por discursar, fazer ironia, praticamente monopolizar as atenções e gelar qualquer um quando fica zangado. Resiste porque, enquanto o vi, na TV, mostrou que geralmente tem mesmo razão.



Em 1976, um atentado terrorista matou 76 pessoas que iam para Caracas em um avião da aerolínea Cubana. Os responsáveis foram pegos e cumpriam pena na Venezuela (não por causa disso) até fugirem em XXXX. Em 200X, um desses sujeitos foi preso no Panamá com XXXX toneladas de explosivos, prontos para matal Fidel Castro. Em XXXX, numa dessas decisões de última hora tão conhecidas por aqui., esse sujeito foi libertado. Estava livre, na Flórida, quando apareci em La Habana.



Por que Fidel ficou 4 horas em um dos 2 ou 4 canais da TV cubana discursando sobre o assunto? Porque ele cobra coerência por parte dos Estados Unidos, que se dizem numa cruzada antiterrorista mundial. Por que houve uma megamanifestação a respeito em La Habana a esse respeito, logo depois que eu saí de lá? Porque ele tem razão.



Alguns irão dizer que a TV cubana manipula as informações. Pode até ser. Mas eu vi apenas um discurso, com apartes, com discussões, com esclarecimentos virtualmente intermináveis a respeito do terrorista que continua à solta, com base em documentos supostamente novos (não dá para saber), e argumentos convincentes (se bem que apenas de um lado). Não vi manipulações (embora a TV prefira mostrar a platéia quando o Fidel perde a linha de raciocínio ou fica perdido procurando documentos na mesa).



Em suma: Fidel resiste, e bem. Resiste usando a cabeça, transmitindo argumentos para todos, e não arredando o pé de suas convicções.



Resta saber como é que o povo, e não Fidel, resiste em Cuba.



Em última instância, não dá para saber. Seria necessário fazer uma pesquisa de opinião. Ou mensurar, de forma qualitativa, a opinião dos cubanos em termos de valores. Ou viver a Cuba profunda, da mesma forma que o pensador romeno Emil Cioran fez pouco antes do fim da Segunda Guerra na França real, ou seja, a França das cidades do interior. Cioran chegou ao diagnóstico de que, se invadida, a França não iria resistir. Acertou? Mas, e quanto a Cuba?



Tornou-se comum ouvir falar sobre a prostituição em Cuba. Há quem diga que ela, a prostituição, seria hoje uma atividade familiar, em que todos os membros da família participariam como sócios de um negócio. Em valores, o predomínio da prostituição seria, para alguns, o fim da linha. "Eles estão se vendendo porque perderam os valores", podem dizer. Daí que eles estariam a médio prazo perdidos. Não vão resistir, segundo esse raciocínio.



Vi algumas prostitutas em La Habana. Logo ao sair do aeroporto, lembro-me de haver visto uma garota medianamente bonita, usando roupa apertada e mostrando alguns pêlos pubianos, fazendo absolutamente nada no caminho de saída dos carros. Bem na esquina, à espera de algo. Essa era claramente uma prostituta.



Mas o que vi mais foi garotas, em geral acompanhadas (por amigas ou um sujeito), bonitas, querendo "falar" com turistas. Elas acenam para eles, chamam a atenção, mostram sorrisos irresistíveis, no mínimo chamam para si a iniciativa de puxar papo. Não é mole viver em meio a tanta "tentação".



Mas o tempo passa e a realidade mostra-se outra. Nada supõe que todas essas garotas queiram mesmo se prostituir. A primeira, essa que eu indiquei próxima ao aeroporto José Martí, muito provavelmente. A disposição física dela "chamava" para isso. Mas, e as outras? Claro, vi garotas - não poucas - com os braços apoiados nos automóveis que paravam na orla. Vi algumas entrando neles, se bem que os motoristas não pareciam estrangeiros ou gente de muito dinheiro. Essas, muito provavelmente são prostitutas ou tendem a ser.



Conversando com Rafael, o motorista do "côco" que me guiou pela Habana Vieja e pelo Vedado (bairro de bom nível ou de classe média numa sociedade supostamente sem classes), ele me disse que a prostituição prolifera, sim, em La Habana. Como elas fazem? Segundo ele, as prostitutas de La Habana vendem-se aqui e acolá, sem chamar a atenção, fugindo da dura fiscalização da polícia. "Quando notam que estão sendo vigiadas, mudam de avenida, de quarteirões, até de bairro", diz. Para ele, essas garotas buscam um algo mais que a situação não lhes permite usufruir. "Podiam dedicar-se a qualquer coisa, mas preferem a via mais fácil, ou aparentemente". Em outras palavras: funcionaria com elas da mesma forma que com os ladrões, que também proliferam. "Quem não quer trabalhar e não se contenta com o pouco que pode ganhar, vai nessa". Para Rafael (que, cumpre avisar, trabalha para o Estado, ou seja, muito provavelmente não deve poder dizer o que lhe dá na telha), as prostitutas em La Habana são garotas com mentalidade mais urbana, contaminada pelo consumismo capitalista, que não encontram outra forma mais adequada de "subirem" de vida, financeiramente falando.



(continua)



Rodrigo Contrera, 2005.
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