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Erotico-->15. O MUNDO DE ALFREDO -- 02/08/2002 - 10:38 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Volvamos o olhar para aquela figura enigmática e traiçoeira, que tanto terror conseguiu infundir na família de Marcos.

Alfredo era o que, na gíria, se conhece por “boi sonso”. Figura apagada desde criança, não se destacou em nada em que se meteu. Parecia refletir contra a sociedade a mesma rejeição que perscrutara no ânimo dos pais durante a gestação. Na verdade, se o casal, no momento da concepção, tivesse tido acesso à ficha de programação de seu encarne, talvez manifestasse o desejo de abortá-lo, no justo momento do ingresso à carne, desfazendo os compromissos.

Alfredo era antigo desafeto de Nepomuceno, contra quem investia há alguns séculos, durante encarnes dolorosos ou na penumbra do Umbral. Quanto a Josineida, a antipatia se revelava em forma de profundo desgosto por tê-lo rejeitado no ventre, em sete encarnes seguidos.

Como lograra, então, permissão para integrar-se na família do antagonista? Por anuência expressa deste, que desejava de vez resolver, pelo amor, a enfastiada situação de penúria moral que o aborrecia e não lhe permitia avançar junto aos companheiros de grupo. Tal desejo se fez acompanhar da necessária disposição da esposa de aceitá-lo finalmente, de modo que duas circunstâncias negativas teriam resolução.

Mas a vida de Alfredo não dizia do desejo dos pais de resolver o problema da falta de interesse por ministrar-lhe o caminho que o conduziria à benquerença e ao amor. Os desvelos maternos não se concentravam no mais novo, sempre entregue às mãos das babás e dos preceptores escolares. Enquanto os mais velhos recebiam afagos de muito envolvimento sentimental, Alfredo recebia o resto das emoções, como se a ele se destinassem as últimas palavras de longo discurso, aquelas que se dizem por obrigação, para encerramento e despedida.

Mas Alfredo não sentiu essa rejeição como algo inesperado. No fundo da consciência, isolava-se em sentimentos de repulsa instintiva, de forma que, ao atingir a idade da razão, se encontrou realmente sozinho no mundo.

Inteligente, iniciou-se nos negócios, no ramo da compra e venda de automóveis, partindo desde cedo para a receptação de carros roubados. Viu na empresa algo lucrativo e não titubeou em aceitar as regras do jogo, como se escritas e assentes na sociedade legalizada. Uniu o narcotráfico ao lucro da venda dos automóveis furtados, tendo estabelecido segura rota de dupla mão, enveredando ainda pelo contrabando facilitado pelas autoridades alfandegárias.

Não hesitava em determinar a eliminação de quem quer se pusesse a ameaçar-lhe os negócios, de sorte que lhe foi necessário conviver com inúmeros bandidos assalariados. Sua esperteza, contudo, levou-o a negociar furtos e contrabandos, sem fixar pessoal seu na forma de quadrilha. Tinha contactos e mantinha o pessoal contratado longe de sua pessoa.

Não fora estabelecer critérios para organização das atividades criminosas e faríamos extenso relatório de como atingiu o ápice da criminalidade, sem ferir diretamente qualquer princípio social institucionalizado entre as pessoas de boa-fé. Todos os que com ele mancomunavam viviam distantes da lei.; todos os que por ele eram feridos, pairavam a distância da organização legal. Entretanto, as suas vítimas eram as pessoas menos responsáveis pelos desarranjos da sociedade. Eram médicos, professores e advogados dedicados ao trabalho que viam os carros furtados. Eram estudantes ignorantes que se lançavam nos vícios. Eram incautos servidores públicos que se deixavam enlaçar pelas ofertas de propinas, por força das ameaças subjacentes. Enfim, a criminalidade estabelecera suas leis, segundo princípios próprios mas firmemente arraigados na necessidade de a maioria do povo seguir trabalhando, para ter do que ser espoliado.

Nesse reino particular do crime, Alfredo viu-se em casa. Respeitava os que se organizavam em mais vastas instituições e pagava-lhes os tributos que lhe eram cobrados, para poder transitar livremente pelos seus domínios. Não interferiu jamais em qualquer negócio dos maiorais, havendo momentos em que se prestou à ajuda com total desprendimento, como se fora serviçal admitido para determinados trabalhos. Com isso, pôde diversificar as atividades, mantendo várias concessionárias de veículos como fachadas para “lavar” o dinheiro provindo do contrabando e das drogas.

Aos quarenta anos de idade, vivia encerrado em perfeita fortaleza, construída no meio do morro, com todo o conforto das modernas vivendas européias e com total segurança, onde o mínimo apetrecho vinha com a garantia das melhores procedências.



Como fazer Ângela penetrar nesse universo de misteriosos vínculos e de completo desprezo pela vida humana e dele sair com a vitória do amor assegurada era o problema que se punha aos sofridos pais, que percebiam o filho cada vez mais enredado nas malhas do mal e crivado pelas vibrações deletérias dos sofredores impenitentes que ele ajudava a arremessar no báratro a cada momento.

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