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Artigos-->Cuba (vivências a partir de uma viagem - 1) -- 16/05/2005 - 01:10 (Rodrigo Contrera) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
[Nota metodológica. Como isto não é jornalismo, não me aterei aos fatos. Como também não é sociologia, não fincarei pé em interpretações. Como os fatos estão longe de serem incontroversos, não têm valor de história. E como as interpretações podem mudar ao sabor dos ventos, também não valem muito. Valerão aquilo que você sentir a partir delas.]



Indo direto ao ponto, qualquer trabalho ou esforço por parte de qualquer cubano vale, em dinheiro, vinte e cinco vezes menos que qualquer esforço estrangeiro. Pois, em Cuba, existem duas moedas: os pesos cubanos e os pesos convertíveis. Os primeiros valem quase nada: 0,04 centavos de dólar. Os segundos valem, na prática, um dólar.



Isso significa que onde tem turista tem de tudo e onde não tem turista não tem quase nada. Isso significa que os turistas podem comprar e compram de tudo e os outros, quase nada. Isso significa que os cubanos estão de olho nos turistas. Isso significa que misturar cubanos e turistas pode ser um perigo. Os turistas enganados, os turistas assaltados (em condições especiais, pois quando pego o cubano sofre deveras), os turistas destruídos (física ou moralmente) são moeda corrente nas conversas entre turistas mais experientes e cubanos em geral.



A distinção entre cubanos e turistas aplica-se a quase tudo. Os cubanos não podem possuir celulares, por exemplo. Mas os turistas podem. Isso significa que os cubanos ficam atrás de turistas que estejam dispostos a ceder seus nomes para comprar celulares que depois podem ficar com os cubanos.



Os cubanos também ganham apenas aquilo que o Estado dispõe-se a lhes oferecer. Um motorista de "côco" (um táxi com motor de mobilete e forma de côco) ganha, por exemplo, 150 pesos cubanos por semana (ou seja, 6 pesos convertíveis ou 6 dólares). A vantagem da profissão está no contato com os turistas (só eles pegam côcos), que podem pagar gorjetas (em pesos convertíveis). Seis gorjetas de 1 pesos convertíveis equivale a dobrar o salário. Podem-se perguntar: mas essa gorjeta é excessiva. Que nada: um mero café pode sair de 1 a 2 pesos convertíveis. Uma diária num hotel de luxo sai por 100 pesos convertíveis.



As garotas cubanas acenam, a toda hora, aos turistas dos côcos (não só dos côcos, claro). Elas querem amigos? Claro, querem amigo$. Outras querem enganá-los, claro. Outras querem levá-los a lugares onde eles possam encontrar alguns outros amigos, e aí onde podem embebedar-se e, sei lá, pode acontecer alguma coisa, quem sabe. Isso significa que os cubanos são, em geral, não confiáveis? Não necessariamente. Isso significa que qualquer coisa que você, turista, esteja carregando vale simplesmente vinte e cinco vezes o que eles podem ter - e não podem, pela via oficial, ter nada mais que isso. Não podem comprar carros, não podem ter celulares, suas casas são no fundo do Estado e assim por diante. Um cartão de telefone com 5 pesos convertíveis vale para o turista um minuto em ligação internacional. Para o cubano, vale 50 minutos em ligação local. Entendeu agora?



Acabei de contar alguns detalhes do lado duro da vida em Cuba nestes últimos anos do regime fidelista (pois Fidel está muito velho e não existem milagres no que diz respeito à morte). Isso não significa, porém, que essa seja toda a verdade. A bem da verdade, esta é só a parte mais chata, a vida que todos nós - e eles, os cubanos - precisamos viver. Mais detalhes - e menos duros - contarei depois.



Rodrigo Contrera, 2005.
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