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Contos-->UMA GRAÇA ALCANÇADA -- 17/02/2002 - 18:27 (medeiros braga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Idelfonso Salustiano era um cara inteligente.Morador do Sítio Ramada, município de Sussuarana, onde aprendera apenas as primeiras letras, Tino, como ficara mais conhecido entre a sua gente, era o matemático da comunidade na hora em que algum dos seus habitantes necessitava fazer uma operação mais complicada. Mas, dos conhecimentos adquiridos nos bancos escolares, o que lhe rendeu mais prestígio foi, sem dúvida, o da leitura.
Tino lia a bíblia, impecavelmente. Quando o fazia causava inveja a muita gente do ramo. Mas, ele atingia o apogeu da admiração popular, quando era solicitado para fazer a leitura de poesia de cordel. É que muitos agricultores que frequentavam a feira de Sussuarana, sempre adquiriam os folhetos de cordel. Aos sábados durante a noite e à luz de lamparina, lá pr as bandas da bodega de Zé de Pina, bem como, nas manhãs domininqueiras, à sombra de um frondoso pé de castanhola, eram entregues a ele (imaginem!)dezenas de cordéis para que fossem lidos. Ao seu redor, em augusto silêncio, se aglomeravam de 30 a 40 pessoas para ouvi-lo. E Tino fazia com a maior das satisfações. E para satisfação maior dos seus ouvintes, ele cantava cada verso do folheto.
Foi devido a essas atividades que Tino virou poeta. Improvisava estrofes engraçadas e poetava, na pena, as belezas da comunidade. Assim, ele conseguiu levar o seu nome às áreas circunvizinhas. Por isso, conhecendo e deslumbrando pessoas, ele terminou por ingressar na política. Candidatou-se a uma das sete vagas da Câmara Municipal "Arquimedes Negreiros" e conseguiu se eleger como o vereador mais votado de toda história política de Sussuarana. Logo na primeira legislatura se fizera presidente daquele poder. Ganhou notoriedade pelos seus pronunciamentos e posicionamentos. Seu futuro político corria a galope de corcel. Já na campanha seguinte candidatava-se a prefeito, sendo eleito por grande vantagem.
Mas, foi como prefeito que Idelfonso Salustiano desandou. Começou a ser assediado por deputados, prestigiado por governador, a fazer amizade com tudo quanto era de prefeito desonesto para, daí, passar a adquirir aqueles hábitos próprios dos prepotentes e corruptos, a ponto de transformar a sua cadeira de prefeito em espécie de trono. Sem ouvir amigos, sem atender a população carente, sem fazer a mais simples reflexão sobre as críticas da oposição, a sua administração foi um verdadeiro desastre. Cidade suja, funcionalismo em atraso, serviços de saúde e educação, prestados pela prefeito, de péssima qualidade, cheques pre-datados na mão dos agiotas, a verdade é que a cidade vivia um cáos administrativo.
Porém, um fato chamava a atenção de todos: o prefeito estava rico. Riquíssimo. Casa confortável e luxuosa, carros zerados na garagem, saldo bancário, extraordinariamente, favorável, família morando na capital e uma belíssima fazenda com 800 cabeças de gado. Tudo isso a custa de muita roubalheira. E nada disso afetava a consciência de Idelfonso Salustiano. Ele vivia tranqüilo como se não fizera nada de errado. É que a maioria dos políticos achava que roubar dinheiro público, "roubar do governo é como quem rouba em jogo de cartas."
Aproximava-se o final do mandato e, com ele, o aparecimento de pedintes de dinheiro e de favores. Para estes, o prefeito repetia sempre a mesma coisa:
-Infelizmente, eu não posso. A prefeitura não dispõe de uma só "ruela".
E se virando, com ares de ofendido, para um pequeno grupo de bajuladores:
-Vocês viram aí, que povo mais incompreensível? Olhem aqui, nunca mais na minha vida eu vou querer ser prefeito...se Deus quizer!
E fazia questão de repetir sempre com mais ênfase:
-SE DEUS QUIZER...SE DEUS QUIZER... prefeito jamais, jamais!...SE DEUS QUIZER!
A sua popularidade estava tão em baixa que, chegada a eleição ele não apoiou, sequer, qualquer candidato. Ou melhor, nenhum dos candidatos quiz o seu apoio. Todos eles se esforçavam em denotar que não tinham nenhuma aproximação com o atual prefeito.
Tino concluiu o mandato e foi tomar conta da sua fazenda. Com um bom saldo bancário e um excelente rebanho bovino, não foi difícil administrar. Ao contrário da prefeitura, ele tinha grande amor e maior zelo pela fazenda. E tudo teria ido muito bem se não fora, decorridos três anos, Tino haver botado na cabeça a vontade de ser prefeito por mais uma vez. Como ele no município era o único que dispunha de condições para bancar uma campanha política, achava que ganhava, facilmente. E começou a gastar dinheiro. Zerou a conta bancária, vendeu o gado e a casa da capital. Ficou apenas com a casa de Sussuarana e a fazenda sem qualquer animal. Para completar o desastre, Tino perdeu a eleição e teve que vender, posteriormente, a casa e a fazenda para saldar débitos de campanha.
Passados alguns dias, Idelfonso foi visitado por um daqueles pedintes mal-atendidos:
-Bom-dia, sei Tino.
O ex-prefeito respondeu:
-Bom-dia, o que deseja?
E o pedinte:
-Eu vim saber se o senhor já resou pela graça alcançada!
Ao que o prefeito indagou:
-Graça alcançada?...mas, que graça alcançada é essa?... eu não sei do que o senhor está falando!
Mas, o pedinte insistiu:
-Sabe, sim, senhor!...não tá lembrado, não?... o senhor pediu a Deus pra nunca mais ser prefeito. E como o senhor foi derrotado... o senhor acabou alcançando uma graça.
Foi, então, que, sentindo o deboche e a vingança que fugiam dos lábios do pedinte, o prefeito, aos gritos, expulsou-o da sua casa.

FIM
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