Um certo dia o poderoso criador de universos, autodenominado Vhamu Whe, acordou com tremenda balbúrdia em seu pequeno jardim, último recanto da constelação de imensos astros que havia criado.
No meio da balbúrdia percebeu algumas criações insatisfeitas, levantando cartazes e gritando palavras de ordem.
Pensou com seus botões no caso de Jeová, que teve de expulsar Adão e Eva por causa de uma serpente serelepe, tumultuando o mundo do outro Deus.
Entre as criaturas que bradavam estavam alfaces, gafanhotos, galinhas, raposas, ursos, e, quem diria, um homem com bazucas.
O ponto principal da discórdia era a cadeia alimentar, mas também queriam financiamento para insumos agrícolas, rações, fardas e outros itens problemáticos.
Os pés de alface queriam novos sapatos, as galinhas novas tinturas para suas penas; ursos asas; gafanhotos força; raposas galinheiros sem resistência, e o homem queria novos dispositivos tecnológicos para ampliar seu poder.
Alegavam os descontentes que estava ocorrendo um problema sério de distribuição de material, e as galinhas receberam por engano armas laser. As alfaces por descuido receberam escadas novas, os gafanhotos ração liofilizada e o homem da bazuca cereais no lugar de munição.
Vhamu Whe, que colecionava experiências como administrador de problemas e problemáticos, sentou no seu trono de jade e pensou durante horas, enchendo duas carretas de estrume da melhor qualidade.
Após o precioso tempo de meditação, numa sábia atitude, colocou os gafanhotos na chefia das alfaces, subordinados diretamente às galinhas, que se reportavam diretamente às raposas, que eram dirigidas pelos ursos, que estavam à disposição do homem da bazuca.
Vhamu Whe ficou feliz e voltou a dormir em seu jardim.
publicado no jornal Estadão do Norte em 25/3/2000
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