DIVINDADE
J.B.Xavier
Busquei a vida em divindades várias,
Apenas para encontrar em ti minha redenção...
E em teu altar imolei-me em oferendas,
Enfeitei o sacrário dos teus sorrisos
Com a fé só possível aos indecisos,
E a catedral dos teus desejos
Enfeitei com flores, poemas e arpejos
Envoltas em fitas de saudade...
Deixei-me conduzir por tua mão,
E assim, te ofereci meu coração...
Busquei verdades em dúvidas atrozes,
Fui uma voz nesse coro de mil vozes
Que buscam o amor sereno e verdadeiro.
Mas fui também o amante ensandecido,
Que jaz em teu leito, adormecido,
Na trajetória inevitável de uma vida de espera...
Hoje sou mais um dos convertidos,
Que te adora, te deseja te venera,
Que se consome em insônias latejantes...
E que renasce sempre que se faz teu amante...
Busquei verdades nas mentiras em que estava,
Busquei a vida na morte que chegava,
Sem perceber que eu jazia, adormecido!
Foi então que adentrei à tua alcova.
E foi lá, num sacrílego abandono,
Que despertaste-me para sempre, deste sono,
Que deste à minha sorte, outras alegrias,
Que libertaste-me de lembranças sofridas,
Que introduziste-me ao país das fantasias,
E que, me amando, devolveste-me à vida!
* * *
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