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Erotico-->14. ENTREATO -- 01/08/2002 - 06:40 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Passemos por cinco anos de adaptação das personagens de nosso drama às condições estabelecidas.

Sem meios de reagir, Criseide pegou a família e transferiu-se para o Paraguai, onde foi viver modestamente com o resultado da venda de suas propriedades aplicado no mundo financeiro. Se a aparência de seu procedimento social indicava para a sobriedade e para a contenção, na verdade as economias tomavam vulto, de sorte a dar a cada um dos filhos as mais dignas condições de crescerem em seus campos de atividade. Estranhamente, contudo, aceitava o cheque mensal que lhe era destinado pelo cunhado.

Por essa época, Ângela, a mais velha, completava vinte anos e podia considerar-se até mais vivida que a própria mãe, principalmente porque conseguira vencer todas as crises, superando, com sacrifícios mas totalmente, o domínio das drogas. Se o amante não a tivesse afrontado com a doação das doses, talvez até corresse atrás dele para pedir-lhe.; mas o acinte tivera o condão de mexer-lhe com os brios. Sem ter consciência do rumo que a vida tomaria, resolveu que o melhor para ela, para a mãe e para os irmãos seria não concorrer para a desgraça do amante. Quando a mãe aceitou partir, foi a primeira a estimulá-la que o fizesse o quanto antes.



Nesse meio tempo, Carlos chegou a admitir que não era de seu interesse prosseguir investigando as atividades do irmão. Viu, com extrema surpresa, a família do médico transferir-se para o país vizinho, mas não atinou com a razão desse procedimento.

Lembrava-se daquele rabinho de conversa na igreja, mas não aceitava relacionar o irmão mais novo com a sobrinha. Imaginava que ela talvez se referisse ao fato de não ter o tio visitado o irmão durante a doença e via nas lágrimas da sobrinha a dor da perda do pai.

Mas Carlos não estava sozinho na investigação que iniciara. Quando ensaiou abandonar as pesquisas, sentiu forte empuxo de caráter consciencial, pois parecia-lhe que algo havia nas atividades do irmão que poderia repercutir fortemente em sua própria vida e na da família.

Sem que desse notícia a ninguém, pôs-se a campo, auxiliado por dois detetives especialmente contratados para espionarem as atividades do irmão.

Não demorou para receber as informações de que o jovem senhor vivia sob a proteção de forte esquema de segurança, sendo impossível para os não apetrechados investigadores sequer chegar perto dos documentos que poderiam levantar sua real atividade. Era o máximo que fariam, à vista de terem desconfiado de algo muito grandioso para seu pobre escritório. Por outro lado, havia riscos que não gostariam de correr...

Com essas indicações pouco precisas, Carlos se viu coagido a ir diretamente às falas. Que Alfredo escondia dele e dos demais familiares?

Nesse ponto dos pensamentos, levantou-se-lhe forte dúvida no espírito: que familiares havia para que Alfredo respeitasse? Os pais faleceram. Dos dois irmãos, sobrava ele, tendo, inclusive, a família do mais velho ido embora. Alfredo vivia só. Tios e tias não se irmanaram com os demais, sendo raras as ocasiões em que se encontravam. Na verdade, família mesmo só havia a sua. E que direito tinha de investigar as atividades do irmão?

Esse pensamento, aliado ao fato de que precisava cuidar dos negócios, afastou Carlos das preocupações com Alfredo. Era maior de idade: que cuidasse de si mesmo.

Foi com essa resolução que Carlos deixou escorrer aqueles cinco anos, até que recebeu longa carta da sobrinha, com quem jamais perdera contacto, telefonando ou escrevendo amiudadamente. Quando passavam dois ou três meses sem notícia, parecia que algo fazia com que sentisse necessidade de corresponder-se.

Aquela carta era especialíssima. Finalmente, a jovem resolveu delatar o amante ao tio, narrando-lhe detalhadamente todos os passos do desventurado relacionamento. Ao final da missiva, firmava o desejo de voltar ao Brasil, para deliberar com o tio o que deveriam fazer para o auxílio ao familiar transviado do caminho das virtudes. Não guardara ódio nem rancor, mas sentia-se responsável por não ter nada feito em favor daquele que chamava de cego e infeliz. Sabia de sua monstruosidade espiritual, mas conhecia também a misericórdia divina, de sorte que algo de bom poderia resultar da intenção de reintegrá-lo na sociedade dos justos. Aguardava manifestação do tio.

Carlos aturdiu-se. Na longa correspondência com a sobrinha, não havia jamais insinuado que desconfiara do irmão nem que pudesse ter sabido de algo entre os dois. Como é que agora a sobrinha se dirigia a ele como se estivesse ciente de todos os males praticados por Alfredo?... É verdade que suas cartas corriam em torno da vida e da morte. A sobrinha costumava falar de certas visitas que fizera com o avô nas peregrinações de assistência à pobreza. Após a instalação no Paraguai, estando por demais consternada, revelavam as suas primeiras ponderações que a salvação da mãe e a dela mesma fora a literatura espírita. Mas, ainda que todo o conhecimento da doutrina se tivesse feito, não compreendia ele como é que poderia alguém abandonar tudo o que construíra, para aventurar-se em terreno totalmente cediço.

Carlos demorou dez dias para responder, até que se atreveu. Eis o teor da missiva:


Querida Sobrinha Ângela:


Muito fiquei preocupado com as revelações de sua carta. Por que, na época, vocês não me informaram de nada? Eu sabia, por boca de seu pai, que você tivera um aborto criminoso, mas nem ele nem ninguém suspeitavam do Alfredo. Que grande vigarista ele me saiu!

Você me diz para tentarmos salvá-lo. Que boa alma você é! Que sua mãe sabe de seus projetos? Não deveria poder opinar a respeito de decisão tão delicada?

Se o seu tio, meu irmão, infelizmente, foi capaz de tanta arruaça, que não fará agora, se você der as caras por aqui? Eu tenho muito medo. Já faz bastante tempo que não nos encontramos e, quando isso acontece, raramente permanece conosco mais que dez minutos, sempre dando desculpa desse ou daquele negócio, com ares de quem está preocupado até com as sombras.

Eu e Catarina não sabíamos a que atribuir essa conduta, mas agora tudo nos parece extraordinariamente claro. Ele está com medo. Medo da família. Medo dos inimigos. Medo da polícia. Medo até dos amigos e companheiros de "profissão". Acho melhor não declarar expressamente, para não correr riscos...

Veja se você realmente deseja voltar ao Brasil, mas saiba que muito difícil será qualquer contacto com seu tio. Nós aqui em casa muito nos alegraríamos de tê-los conosco. A última foto da família mostrava que os garotos são já homens feitos. Parece que os ares do Paraguai lhes fizeram muito bem. Você está linda e aposto que tem até algum apaixonado (ou muitos). Não seria melhor você pensar em casamento e em estabilidade?

Recomendações à mamãe e aos maninhos.

Beijos de Catarina e um forte abraço meu.

Juízo, menina!


Carlos não esperava demover a sobrinha, mas tinha a certeza de que a faria pensar mais seriamente. Não quis fazer novas acusações contra o irmão, para não fermentar os desejos dela de encontrá-lo. Assustava-o a perspectiva de que a sobrinha pudesse estar mentindo, ou seja, que tivesse a intenção de vingar-se ao invés de salvá-lo, como dizia na carta. De qualquer modo, sabia que a menina tinha o coração bondoso e a sua imaginação deixava a consciência atormentada. Não seria ele mesmo quem estaria com desejos de pregar ao irmão severa lição de vida?

Por outro lado, se a pequena aparecesse de repente para cumprir o desejo de levar ao tio a boa nova do espiritismo, não se veria com a responsabilidade de irmão mais velho a fomentar o encontro e os desencontros?...



Enquanto Carlos hesitava diante da decisão que teria por conseqüência algo definitivo em relação aos laços que o prendiam ao irmão, no etéreo, os pais voltavam de longa permanência em instituição de formação de socorristas.

Tendo deixado vários amigos encarregados de avisá-los a respeito das atividades dos familiares, em lugar de precipitarem atos que dificilmente saberiam controlar, optaram por seguir sábio conselho do amigo Virgílio, isto é, que se dedicassem ao estudo e à prática do socorrismo longe dos problemas afetivos. Agissem como experimentadores de laboratório, antes de se envolverem com criaturas que tão de perto lhes falavam ao coração.

Durante todo esse período, Marcos permaneceu internado. Apesar de ter-se recuperado em parte, ainda lhe era terminantemente vedado inteirar-se dos eventos com seu pessoal. Somente após dois anos de cuidados médicos é que pôde receber rápida visita dos pais, assim mesmo impedidos de fornecer-lhe qualquer informação a respeito da família. A visita teria sido meramente protocolar, não fora a extensa gama de reações psíquicas colocadas em jogo, para a atenta observação dos percucientes instrutores, Virgílio à frente.

Dessa análise, brotou o roteiro de atividades que o casal se obrigaria a cumprir no âmbito do educandário que freqüentavam.

Por ocasião da manifestação do desejo de Ângela de contatar Alfredo para imposição em seu ânimo da possibilidade do perdão e, por via de conseqüência, de alteração completa de vida, Josineida e Nepomuceno encontravam-se aptos a dar-lhes plena assistência.

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