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Cartas-->FRACASSO -- 06/02/2001 - 10:50 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Quando nasci veio um anjo safado
Um chato de um querobim
Que decretou que eu estava predestinado
A ser todo ruim..."

As vezes penso nos versos do Chico Buarque e fico pensando se a vida é assim mesmo. Que há um mistério universal que determina, quando o sujeito nasce, se a sua vida será coberta de glórias e vitórias ou de fracassos e derrotas. Coisa filosófica, que eu não tenho muito o que escrever, pois o máximo que sei é que nada sei. Uma certeza, contudo, eu tenho. Não gosto de perder. Talvez seja por isso que abandonei tudo aquilo que não sabia fazer direito, quando era criança. Meu filho de seis anos fica frustrado porque eu não sei colocar um pipa no alto - atividade que delibero, com muito prazer, para o meu cunhado mais novo, a fim de que o menino não fique me enchendo a paciência nos fins de semana. Compenso minha ausência batendo bola com o Lucas porque isso, modéstia anexa, eu sei fazer. Não que tenha sido um craque, um Sócrates, um Zico, um Júnior. Mas dá pro gasto. Mas não era bem sobre pipas e bola que eu queria falar.

Quem já teve um livro recusado por alguma editora? É frustrante, amigos, podem crer. E olha que eu até consigo compreender que a concorrência é acirrada, que tem um monte de gente por este Brasil de meu Deus que escreve bem pra caramba, que é original, que domina a língua com maestria, que sabe conduzir as palavras de forma a entreter o leitor. Entendo também que é mais cômodo para as grandes editoras encomendar um livro para um autor já consagrado, com vendagem mínima praticamente garantida. Investir num novo autor significa dar um tiro no quarto escuro, com a mãe e o pai dentro. Mas fico pensando o que vai acontecer quando o João Ubaldo e o Paulo Coelho irem dessa para melhor (se bem que, no caso do Bruxo, há uma tendência à imortalidade - não da sua obra em si, mas do seu espírito eterno...). É o mesmo sentimento que tenho em relação à música. Lá se foram mais de dez anos e a gente continua curtindo os mesmos cantores, os mesmos conjuntos de Rock. E a reciclagem? Será que estamos condenados a ouvir os Titãs pro resto da vida?

Uma coisa me consola, no entanto. A Folha de S. Paulo mandou originais de Machado de Assis para algumas das maiores editoras brasileiras para que fossem avaliados. Pelo menos uma delas, que eu pude confirmar através de uma reportagem na revista Época, recusou-os sem o menor constrangimento. E a avaliadora ainda se justificou dizendo que a linguagem não era a mais apropriada para o público leitor atual. Bom, se recusaram Machado de Assis, certamente nem leram a primeira página do meu livro (a esta altura do texto, não resisto e copio toda a matéria para apresentá-lo no final).

Como falei, não lido bem com o fracasso (embora o aceite como conseqüência da vida). Mas também não desisto. Se for preciso, encaderno meus originais e vou para a porta do SESC Pompéia vendê-los.

"Mas vou até o fim..." - diz outro verso da música.

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Eis o artigo publicado na revista Época:

Os originais enviados às maiores editoras do país têm de passar pelo teste da sensibilidade feminina

Por uma estranha conjunção que nenhuma delas sabe explicar, as grandes editoras do país têm elencos femininos que são decisivos na hora de lançar livros. Elas estão acostumadas a topar com uma média de dois originais ao dia, o que pode elevar a 500 os textos de autores brasileiros enviados a cada editora sem solicitação ao ano. "Não dá para ler tudo", admite a editora Maria Emília Bender, da Companhia das Letras. "Avancei 40 páginas de cada um dos cinco originais que li nos últimos cinco dias. E rejeitei todos", completa a editora Luciana Villas-Boas, da Record.

O drama da rejeição dos autores acompanha as profissionais. Todas reclamam que, no mar de originais que são enviados todos os dias para as editoras, poucos são aqueles que merecem uma leitura mais alentada. "A gente recebe de tudo", diz Vivian Wyler, da Rocco. "Às vezes parece um confessionário", acrescenta Maria Emília, vítima recente da "pegadinha literária" do jornal Folha de S.Paulo, que enviou textos de Machado de Assis para as principais editoras como se fossem de um iniciante. "Eu rejeitei Machado de Assis", afirma. "E rejeitaria novamente porque não parece um texto do nosso tempo."

Na hora de rejeitar os originais que lhes são enviados, as editoras são categóricas. Mas a escolha dos editáveis também envolve "uma dose de jogo, de intuição", segundo Isa Pessoa, da Objetiva. "Alguma coisa tem de mexer com você", diz. "No fundo de cada um de nós há um poeta. Um mau poeta", brinca Maria Emília. Como a maioria, Luciana, da Record, considera-se capaz de decidir se um original é bom ou ruim apenas batendo os olhos nele. Diz que, até hoje, apenas dois livros que rejeitou foram publicados por concorrentes ("e não vingaram"). Maria Emília utiliza os serviços do próprio filho, de 9 anos, como "parecerista": foi ele quem palpitou a favor do livro infantil escrito pelo chefe Luiz Schwarcz. Quando tem dúvidas, Isa não hesita em convocar "um colegiado" para ler.

Pelo número de bons lançamentos da Companhia das Letras, da Objetiva, da Rocco e da Record, o trabalho dessas mulheres, movido pela intuição ou pelo rigor, tem-se mostrado bem-feito.




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