FÉRIAS DE VERÃO
Sempre tive lindas e alegres férias de verão.
Porém, dessas férias que foram bem mais lindas e alegres do que todas que já vive, tenho tristes e amargas lembranças...
O calor do Sol, as águas mornas do mar, a alegria dos adolescentes em férias, contagiam todos que freqüentam as praias nessa época do ano.
Foi nessas férias de verão, que conheci o grande e único amor de minha vida.
Foi nessas mesmas férias, que o perdi para sempre, por isso que tenho tristes lembranças...
Nas férias de verão, conheci o louríssimo, bronzeado e atlético, Fabrício.
Seu bronzeado era feito pelos raios solares e pelas águas do mar, pois seu esporte predileto era o surfe.
Meu Deus, como surfava!!!
Eu e mais uma multidão, que o observávamos, nas grandes ondas agitadas do mar, prendíamos a respiração de tanto medo que nos causava. Tínhamos a impressão que ele ia se arrebentar ou até morrer afogado, por causa de suas loucuras.
Ficávamos presos na areia, de olhos bem abertos, para podermos vê-lo, surgir de vez em quando, ou reaparecer na praia.
Foi assim que eu o conheci: Como todos ali presentes, eu olhava ao longe, lá onde as ondas se formam e vem rolando com grande velocidade, quando vi um pequeno ponto, o qual todos estavam olhando e comentando. Lá estava o Fabrício e sua prancha, pegando ondas e fazendo loucuras... As ondas eram enormes, vinham rolando com uma velocidade incrível e junto a elas, estava o surfista, que parecia voar.
Com o coração nas mãos, de tanta aflição, em pensamento orava e pedia a Deus que protegesse aquele rapaz, que parecia não ter amor a vida, de tanta confiança que tinha em cima de uma prancha.
Quando ele desapareceu no meio das ondas, corri para a beira d água e fiquei esperando ele aparecer. Nesses poucos minutos, tive a impressão de serem horas.
Quando o vi bem perto de mim, meu coração quase parou de bater. Ele era lindo, atlético, seu corpo era de um deus. Sua alegria contagiava a todos que ali estavam lhe admirando. Os aplausos de alegria por vê-lo a salvo era geral.
Ao me aproximar um pouco mais dele, ele me viu e me olhou com firmeza.
Os poucos passos que nos separavam, ele os fez em menos de um segundo.
Foi logo dizendo: - Bom dia, princesa.
Estendeu sua grande mão e pegou a minha com muita força.
Muito sem jeito e com a minha voz embargada, eu lhe respondia o cumprimento.
Ao sentir o seu toque, minhas pernas pareciam que iam dobrar, ficaram moles, pensei até que iria cair de joelhos aos pés do deus dos Mares.
Nesse instante fique muda, não sabia o que lhe dizer.
Nunca havia, em toda a minha vida, ficado boba assim, por um homem. Eu tinha a impressão que ele ouvia as batidas aceleradas do meu tolo coração.
- Meu nome é Fabrício. E a princesa, com é que se chama? Gostaria muito de tomar um sorvete com você, posso? Não me disse ainda seu nome...
Fiquei paralisada, não sabia o que lhe responder. Só sabia que meu coração estava batendo mais forte e meus olhos não cansavam de lhe examinar.
Ele segurou forte em minha mão e foi me conduzindo pela praia, como se já fossemos conhecidos há muito tempo.
A todos, nós dávamos a impressão de sermos dois namorados, a procura de um lugar discreto para conversarmos e tomarmos um sorvete.
Eu estava flutuando nas nuvens, o dia me pareceu mais lindo e claro. O Sol brilhava como nunca antes havia brilhado. Todo aquele calor invadia o meu corpo, chegava ao meu coração e me dava uma leve sensação de embriaguez.
Até o mar, que antes estava tão agitado, ficou quebrando suas ondas suavemente na praia, sem fazer nenhum ruído, pois a voz dele era mais forte do que qualquer barulho que pudesse existir, naquele momento tão sublime.
Eu só escutava a voz forte e sonora de Fabrício. Meus ouvidos só ouviam a sua voz máscula e vibrante que tocava no meu coração, com se fossem sinos do Céu.
Eu que sempre soubera lidar com vários tipos de paquera e sempre fora muito cortejada, agora, estava me portando como uma tola e babando pelo surfista desconhecido, amalucado, pretensioso e convencido.
- Como é o seu nome, princesa? Ainda não ouvi você dizê-lo.
- Oh, perdoa-me!!! Estou tão distraída, meu nome é Lígia Solange.
- Lindo e próprio para uma princesa. Quanto tempo você está aqui na praia? Eu tenho vindo por esses lados há vários dias e nunca a vi antes!
- Há mais ou menos uns dez dias, estou hospedada no Grande Hotel, aquele ali em frente. Também não me lembro de tê-lo visto antes.
Assim, fomos conversando e nos apresentando até que chegamos à sorveteria.
Pedimos os nossos sorvetes, cada qual o sabor de sua preferência e fomos voltando para a praia. Fomos sentar numa enorme pedra que ali existia, pois era um lugar bem sossegado e pouco freqüentado àquela hora.
Ali ficamos tomando o sorvete e conversando sobre coisas sem grande importância.
- Sabe Lígia? Eu sempre venho tomar sorvete aqui. Adoro ficar sentado nessa pedra. Ela parece me entender, por isso é a minha preferida. Gosto de ficar sentado aqui, olhando esse imenso mar. Meus olhos ficam paralisados e fixos lá no fundo, bem lá longe, onde as ondas começam a se formar. Desde muito pequeno, venho aqui passar as férias de verão. Naquele lugar, é onde se formam as maiores e mais violentas ondas! É nelas que eu me sinto feliz e realizado. Adoro ir até lá longe pegar uma dessas ondas e vir surfando e me equilibrando, até a praia. Sou um dos campeões do surfe. Há dois anos que sempre tiro os melhores lugares nas competições.
Eu bebia e comia cada palavra dita por ele... Sua voz, penetrava no meu coração como se fosse uma doce canção. Não cansava de ouvi-lo, cada palavra sua, meu coração batia mais forte.
Fiquei escutando sua narrativa, por um bom tempo. Eu só ouvia, não sabia o que dizer. Estava enfeitiçada pelo louco surfista.
- Lígia, onde você mora?
- Numa pequena e linda cidade do interior de São Paulo, ela se chama Rio Encantado.
- Por que esse nome?
- É exatamente o que o nome diz. Rio Encantado! Porque tem um pequeno e lindo rio, que percorre a nossa cidade. Ele possui águas claras e puras, onde moram e se reproduzem várias espécies de peixes. É um lugar encantado, ele tem suas águas tão cristalinas, que qualquer um pode ver o seu fundo, ver a quantidade e a variedades de cores dos lindos peixes que ali moram. Ele é bem estreito, porém percorre muitos quilômetros dentro da cidade. Num certo trecho, ele cai numa linda cachoeira, que é atração turística da cidade. Todos que nos visitam, ou que moram na cidade, vão sempre à cachoeira, tomar o saudável banho e ali passarem momentos inesquecíveis, admirando essa encantadora "Arte da Natureza". Há muito anos, ao pé da cachoeira, foi construída uma imensa piscina, aproveitando as águas do Rio.
As águas que ali caem, são aproveitada da queda da cachoeira, pois são puras e cristalinas. Você precisa conhecer a nossa cidade, ali tudo é muito lindo...
- Você falando assim, estou louco para ver tudo de perto, até me sinto dentro da cachoeira tomando banho. Logo irei lá e você me mostrará toda essa beleza.
- Será com grande prazer que farei isso. Tenho certeza que irá adorar a minha doce e pacata cidade e depois nunca mais deixará de nos visitar. E você onde mora Fabrício?
- Nem queira saber! Moro na mais poluída cidade do Brasil, São Paulo. Você conhece?
- Conheço e muito, foi lá que nasci, sei o quanto é poluída. Papai e Mamãe se mudaram para Rio Encantado, quando eu ainda era criança, mas nós sempre vamos a São Paulo visitar os amigos que lá ficaram.
Nós ficamos conversando por muito tempo. Eu falando de mim e de minha família e ele da sua. Porém, nem eu e nem ele trocamos endereços.
Nós esquecemos do tempo, passamos a manhã toda e uma parte da tarde, sem notar que o tempo passara. Quando nos demos conta já eram 16 horas.
- Fabrício, tenho que ir, nem eu e nem você almoçamos, ficamos aqui conversando e as horas foram passando sem darmos conta disso... Eu tenho que tomar banho, trocar de roupa, estou que é só areia pelo corpo todo.
- Só vou deixá-la ir, se você me prometer que irá jantar comigo. São 16 horas, eu lhe pego às 19 horas, na frente ao seu hotel. Você tem bastante tempo para ficar mais linda do que já é. Nem mais um minuto, está bem assim?
Minha cabeça girou de tanta alegria. Era exatamente isso que queria, passar mais umas horas com ele. Eu não podia ficar muito tempo longe dele, já sentia que o amava loucamente.
- Prometido, eu estarei lhe esperando às 19 horas, em frente ao hotel.
Naquele momento, senti que ele também não queria ficar muito tempo longe de mim.
Como prometido, às 19 horas, quando eu fui para o nosso encontro, ele já estava lá me esperando. Foi o melhor e mais espetacular jantar que já tive. Jantamos e dançamos num lugar inesquecível, tudo ali era encantamento. Parecia que estávamos no Paraíso, que só nós dois existíamos naquele momento.
Foram cinco dias deslumbrantes, eu vivia para ele e ele só para mim. Até suas ondas foram esquecidas. Passamos esse tempo todo um junto do outro, ninguém mais existia. Nosso imenso amor, parecia ser eterno. Nem eu e nem ele tínhamos vontade de nos separar. Esses cinco dias foram de imensa paixão, loucuras, desejos e muito amor.
Conheci lugares e coisas que nunca havia imaginado existirem.
Cheguei a ir até o Paraíso, em seus braços; pensei ter sido, só um belo e inesquecível sonho de amor.
Porém a grande verdade estava ali, a me espreitar, só aguardando o momento certo para me mostrar a verdadeira realidade.
Depois desses cinco dias, eu precisava voltar para a minha cidade, minhas férias chegaram ao fim. Muitas obrigações estavam a minha espera, tinha que retornar ao trabalho e aos meus estudos.
Nos despedimos com muita tristeza, mas Fabrício havia prometido, que iria me ver muito em breve, no primeiro fim de semana. Ele insistiu muito em dizer, que queria conhecer meus pais e minha adorável cidade.
A todo instante me pegava em seus braços, me beijava muito e suas caricias me deixavam nas nuvens. Era, nesses momentos em que me dizia que essa separação iria lhe doer muito, por isso iria ficar esperando o próximo fim de semana com muita ansiedade.
Eu não tinha motivos nenhum em não lhe dar crédito.
Nosso amor era tão forte, bonito e sincero; pena que isso era só o que eu, na minha tola imaginação, pensava ser...
As férias de verão terminaram e com elas terminou o meu grande amor. Tão grande e pequeno romance que só durou cinco dias.
Até hoje espero por ele, ele nunca apareceu ou mandou notícias suas.
Eu não sei dele, desde que o deixei na praia, naquela nossa pedra, onde nasceu e morreu o nosso amor de verão.
Dessas férias de verão, só me restaram inúmeras fotografias, grandes e inesquecíveis loucuras de amor, que nós dois praticamos e um lindo e adorável filho, que amo com o mesmo amor que dediquei ao seu pai, Fabrício.
Lindamar C. C. Mello. |
